
O cenário artístico cultural francano pode ser considerado prolífero. Para se ter uma ideia, através de um cadastro que contabiliza os indivíduos envolvidos em atividades artísticas na cidade, a Feac (Fundação para o Esporte, Arte e Cultura de Franca) registrou, desde o início deste ano, 251 pessoas que se dividem nas seguintes categorias: artesanato, dança, música, cultura popular, grafite, teatro, circo, cinema, artes plásticas e fotografia.
A abrangência de linguagens artísticas, no entanto, não significa que Franca possua estrutura física e cultural para acolher todos os talentos da terra, ou ainda que esses estejam prontos para o mercado de trabalho. De acordo com os próprios artistas, falta profissionalização, incentivos financeiros das esferas pública e privada e ainda reconhecimento por parte do público para que a produção local seja fomentada. “Viver de arte em Franca é um privilégio de poucos”, afirmou o ator e professor de artes cênicas Rogério Miranda, que teve sua fala completada pela colega de profissão, Raquel Nunes. “O francano não se enxerga como artista. Somos uma cidade de operários e patrões que não fomenta a questão cultural. Dei aulas de teatro em vários bairros e a cultura raramente chega até lá. As pessoas acreditam que para ser feliz e estar bem, basta estar empregado em uma fábrica”, disse ela.
Mas, ainda de acordo com Raquel, quando a oportunidade de se envolver com a cultura aparece, os jovens costumam absorvê-la. “Nesses bairros em que trabalhei, os adolescentes se descobriram através da possibilidade de se verem sob outra perspectiva. Muitos nem quiseram ser artistas, mas pensaram em algo diferente para suas vidas, fora ser sapateiro. E esse é o papel da cultura. Esses meninos hoje têm nas mãos a possibilidade de fazer uma Franca diferente.”
Outro ponto observado nos depoimentos é que uma rede de ajuda mútua se instalou espontaneamente entre os artistas. Grupos com melhor infraestrutura acolhem e auxiliam os que ainda “engatinham” para conquistar seu espaço e a própria classe passa a se unir com o objetivo de criar eventos e situações para expor a arte local. “Franca é uma cidade riquíssima em cultura em geral. Ainda faltam investimento financeiro e profissionalização, mas isso começa a mudar. Iniciativas como o Corredor Cultural estão aí para mostrar isso”, disse a cofundadora do Centro Cultural Cangoma, Priscila De Col, referindo-se ao evento promovido por um grupo de artistas locais que levam às ruas, como praças do Centro e Estação, diversas linguagens de arte, como as plásticas, visuais, teatro e música.
“Também falta participação do público”, retomou a questão a instrumentista Mariana Caravelas. “Faço parte da banda da cidade, que existe há 120 anos, e ainda ouço pessoas dizerem que não conhecem, nunca ouviram falar do grupo que toca todos os domingos na praça.”
AÇÕES PÚBLICAS
Empossada no início deste ano como diretora de arte e cultura da Feac, Karina Gera, junto a equipe da fundação, promete emplacar projetos que auxiliem os artistas locais, como o cadastro que será utilizado para a divulgação da arte local. “Estamos recebendo o cadastro dos artistas locais e vamos transferir esses dados para o Google Docs, e, daqui a algum tempo, os artistas poderão se cadastrar em casa mesmo, através da internet.”
Os dados, segundo Karina, alimentarão um site, onde as pessoas poderão conhecer e comprar artigos francanos. Para se cadastrarem, os interessados devem comparecer à sede da Feac, na rua Campos Sales, 2.210, munidos com RG, CPF e comprovante de residência.
Quanto à profissionalização dos artistas, Karina Gera informa novidades. “Fechamos convênio com o Estado para capacitar músicos e escritores.” Ela ainda afirma que uma campanha de conscientização sobre a importância da arte local está nos planos da fundação, mas não estipula prazo para a ação. “Há a ideia para uma campanha a esse respeito, inclusive. Mas é preciso fazer com que nossos artistas também possam melhorar seus trabalhos”, disse Karina.
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