Houve o Big Bang. Ao bóson coube a missão principal daquele momento inicial de absurdo caos: por ordem nas coisas. Era, em meio ao nada, a partícula inteligente, o desejo de formulação das coisas, o toque provido de inteligência de uma consciência cósmica. Deus? O bóson, pensa-se, era a única partícula capaz de atrair e concentrar, em si e consigo, outras partículas, algumas em maior concentração, outras, em menor, a algumas, repelir. Especula-se, tenha sido ele o que deu origem à massa dos elementos químicos elementares, à matéria e às substâncias de todos os tipos. O universo tornou-se imponderável em sua grandeza. Desde o Big Bang tudo o que se formou aparentemente sob o gerenciamento do bóson, se afasta do local da explosão inicial por causa do impulso inicial. Nos mais longínquos rincões do espaço, a essência das galáxias, nebulosas, buracos negros, luz, quasares e pulsares mantêm, rigorosamente, a mesma base de elementos químicos catalisada por eles. Lá, incontilhões de anos luz distantes, estão os mesmos elementos químicos que estudamos também cá neste nosso planeta grão de poeira cósmica, representados nas tabelas periódicas de elementos de nossas aulas de Química.
ONDE ENTRA HIGGS?
O cientista inglês especializado em Física Teórica, Peter Higgs, hoje com 83 anos, publicou em 1963, teoria sobre partícula que força o átomo a ser como é. Chamou-a bóson. Como foi? Ele teve um insight enquanto caminhava e pensava sobre a razão de haverem átomos diferentes, com diferentes números de prótons, neutrôns e elétrons, e todos rigorosamente estáveis (eletronicamente neutros, como ensina a Química). Teria que haver uma explicação plausível. Concebeu, então, o conceito de que deveria haver uma partícula, uma força, seja lá o que fosse, no núcleo atômico, capaz de concentrar, perto de si, quantidades diferentes de outras partículas. Foi ao papel e dedicou-se a cálculos matemáticos. Provou seu bóson. Seus cálculos couberam em uma única folha de papel e a comunidade científica, convencida, batizou a descoberta de ‘bóson de Higgs’.
Não havia, então, tecnologia capaz permitir ‘ver’, comprovar a realidade da tal partícula. E só com sua detecção real (se é que isso pudesse feito algum dia) se poderia, então, entender as razões da capacidade de concentrar, aglutinar, agregar quantidades diferentes de partículas, ou repudiá-las, para formar elementos diferentes. Chorou, presente à conferência realizada para anunciar a detecção da ‘sombra’ de ‘seu’ bóson, finalmente atestada. Em linguagem simples, é como se esse bóson fosse dotado de inteligência, que decidisse assim ou assado e de acordo com regras determinadas por circunstâncias impossíveis de serem determinadas. Coisa suprema, divina? Surgiu assim, à falta de explicação melhor, a condição anunciada de ‘partícula de Deus’. Eis ai a história.
A EXPLICAÇÃO?
Sou amador em Física. Recordo-me ainda um pouco da Química que, por vocação antes do exercício do jornalismo, aprendi na Faculdade de Química da USP de Ribeirão, lá nos anos 70. O jornalismo falou mais alto mas não esqueci temas sobre os quais a ciência não me ofereceu explicação suficiente ou convincente. É exatamente o jornalismo que preencheu os anos restantes de minha vida que me leva a escrever este texto. Cabe a nós, comunicadores sociais, tentar traduzir fatos em palavras fáceis para gente de todas as culturas, mas nem sempre se consegue.
Sobre a ‘partícula de Deus’ esta semana anunciada pela Organização Europeia para Pesquisa Nuclear (CERN) em Genebra, Suiça, na presença de Peter Higgs que o comprovou há 48 anos, resta dizer que quando não há explicação científica, mais e mais cientistas recorrem a Deus como mentor de tantos desconhecimentos que ainda há a desvendar.
Um deles, João Seixas, professor do Instituto Superior Técnico de Portugal e integrado ao projeto que resultou na conferência de anúncio do bóson, disse que, ‘até aqui, só chegamos à praia de um oceano completamente desconhecido, onde está 99% do conhecimento que ainda não temos’. É quase uma confissão. Não há explicação científica, pelo menos até agora, para a ordem e o equilíbrio que sucedeu o caos da explosão inicial do Big Bang.
A pedra de toque da vez é a descoberta de Higgs, o bóson finalmente percebido pelo Grande Colisor de Hádrons (LHC), uma supermáquina de aceleração de partículas enterrada na fronteira da França e da Suíça. O nome popular desse bóson, ‘partícula de Deus’, ninguém contesta. Quando tudo ainda era rigorosamente nada, já estava ele a postos, pronto e disponível à sua função aleatória de agregação e organização. Como foi gerado e como foi moldada sua finalidade específica? Não evoluiu, já que nada existia antes dele. A explicação pode ser divina, não pode? O sopro de Deus.
Luiz Neto
Jornalista, editor de Opinião do Comércio - luizneto@comerciodafranca.com.br
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