Tragédia com ônibus de alunos na Curva da Morte faz dez anos


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Imagem feita ontem mostra ônibus enquanto atravessa uma das pistas da Cândido Portinari, no trecho onde ficava a Curva da Morte. Investimento de R$ 33,5 milhões refez o traçado da pista para evitar acidentes
Imagem feita ontem mostra ônibus enquanto atravessa uma das pistas da Cândido Portinari, no trecho onde ficava a Curva da Morte. Investimento de R$ 33,5 milhões refez o traçado da pista para evitar acidentes

A maior tragédia registrada em estradas da região completou ontem dez anos. Em 8 de maio de 2002, um ônibus partiu de Franca com destino a Sacramento (MG), distante 105 quilômetros. O veículo transportava estudantes da Unifran, Faculdade de Direito, Unesp e escola de ensino médio que moravam na cidade mineira. Na rodovia Cândido Portinari, antes de chegar a Rifaina, o ônibus perdeu os freios e, descontrolado, arrebentou a defensa no trecho batizado de Curva da Morte e despencou na ribanceira. Eram cerca de 23h30. Vinte pessoas morreram - o motorista e 19 estudantes.

O trecho registrou dezenas de mortes. Em menos de sete anos, foram pelo menos 29 vítimas. A construção de viadutos que alterou o traçado da pista reduziu as estatísticas. A ex-Curva da Morte fará um ano sem acidentes.

O desastre de dez anos atrás é inesquecível para quem o vivenciou. As cenas daquela noite voltaram a atormentar o advogado Danilo Inácio Padovani, 27. Ele não sabe ao certo os motivos, mas tem sonhado com a tragédia há 20 dias. “Querer esquecer a gente quer, mas não consegue. Neste ano o sofrimento para mim está maior. Estou lembrando muito, acordo à noite pensando no acidente e cheguei a sonhar que caí na Curva da Morte de novo.”

Danilo cursou direito na Unifran e na data do acidente estava com 17 anos. Todos os dias viajava no ônibus. Estava acordado quando percebeu que o veículo havia perdido o freio. Danilo disse que antes de sair de Sacramento, naquele dia, o veículo havia apresentado problemas e o motorista tinha levado para reparos. Na altura de Alto Porã, os freios pararam de funcionar. “Estava um silêncio dentro do ônibus. Pensei: vou segurar no banco e esperar Deus fazer o que quiser. Uma menina até se deitou no assoalho, mas não adiantou e ela morreu. Falei para meu companheiro de banco, o Tales, para se segurar porque estava sem freio.” Tales também sobreviveu à tragédia.

Danilo se recorda de momentos antes do acidente. “O ônibus pegou muita velocidade e foi pela pista, depois bateu no guard-rail e praticamente decolou. Senti a pancada dele no chão e depois se arrastando pela ribanceira. Aí eu apaguei, fiquei desacordado e não sei como saí do ônibus. Acordei e me vi sentado esperando socorro.” Após recuperar a consciência, Danilo disse que ouvia as pessoas pedindo socorro. “Na hora ouvia as pessoas me chamando pelo apelido, só falava para esperarem pelo socorro.”

Ele disse que foi no hospital de Pedregulho, para onde foi levado com escoriações, que seu pai contou das mortes. “A gente conhecia todo mundo. Fui perguntando nome por nome e meu pai dizia quem tinha morrido.”

Danilo disse que sente privilegiado por ser um dos sobreviventes e poder realizar o sonho de se tornar advogado. Ele trabalha na Prefeitura de Sacramento desde 2009. “Honrei meus amigos ao me formar. No dia da formatura, em 2 de fevereiro de 2007, senti a presença deles comigo. Foi um sofrimento muito grande.”

Elisângela Silva Idualte, 32, também trabalha na Prefeitura de Sacramento, mas ontem não quis comentar o acidente. Ela sobreviveu e hoje trará mais uma vida ao mundo. É mãe de Ana Clara, 5, e está grávida de oito meses da segunda filha, Ana Carolina, que deve nascer em junho.

UMA LONGA ESPERA
A obra que construiu uma nova pista de 3,4 quilômetros na Rodovia Cândido Portinari, dando um novo traçado ao ponto conhecido como Curva da Morte consumiu R$ 33,5 milhões dos cofres do governo estadual. Foram construídos três viadutos no local. A inauguração foi feita no dia 16 de junho de 2011 após longa espera.

O projeto para dar fim à temida curva só se concretizou após muitas reivindicações. Ocorreram dezenas de mortes até que os recursos fossem liberados e as obras executadas. As discussões para refazer o trecho existiam fazia anos, mas foi com a morte dos estudantes que reacenderam. Só que as promessas não se concretizaram.

A história mudou de rumo apenas após mais uma tragédia. Em março de 2008 a colisão entre um caminhão e uma Kombi na curva matou cinco moradores de Rifaina (leia ao lado). Novas reivindicações foram feitas. As obras no local começaram em agosto de 2009 e entregues dois anos depois. “Moro em Rifaina há 40 anos e a curva já existia e matava muitas pessoas. Já ajudei a resgatar muita gente nela. Foi uma luta muito grande conseguir a obra, tivemos que sensibilizar os governantes. O deputado Gilson de Souza (DEM) foi um grande apoiador”, disse o prefeito de Rifaina Hugo Lourenço (PMDB).
 

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