O que significa hip hop? O que é rap? E rappers? A maioria das crianças brasileiras co-nhece as palavras, muito ouvidas no dia-a-dia. Os meios de comunicação se encarregaram de divulgar esta manifestação cultural que reflete o jeito de viver de crianças e jovens que moram nas periferias das cidades, ou seja, fora do centro urbano.
O termo hip hop significa, em tradução do inglês, “mexer os quadris e pular”. Porque o verbo “to hip” está pró-ximo do nosso “movimentar” e “to hop”, do nosso “saltar”. A expressão hip hop foi criada pelo DJ (pronunciamos dijêi) Afrika Bambaataa no ano de 1968, para dar nome a um encontro de Djs (disc-jóqueis), MCs (a pronúncia é imicis, mestres-de-cerimônia) e dançarinos de break (brêique, estilo de dança que se caracteriza por grande movimentação do corpo) no bairro de Bronx, em Nova York.
Os DJs e os MCs eram de nacionalidades americana e jamaicana. Nessas festas realizadas nas ruas do Bronx, alguém subia a um palco improvisado e cantava músicas de protesto contra preconceito racial, violência policial, falta de assistência do governo e outras questões sociais. As letras eram sempre fortes, calcadas na realidade vivida por eles, e o som não importava muito, ele apenas marcava as frases e as rimas.
O Bronx é bairro pobre, de pessoas operárias. É periferia em relação à Manhattan, o centro chique de Nova York. De lá para cá muita água rolou e o movimento só cresceu. Hoje podemos dizer que há milhões de jovens brasileiros que se reconhecem como pertencentes à cultura hip hop. Essa cultura tem como elementos o grafite, a dança, a música e uma maneira especial de apresentar essa música. Muitas vezes chamamos o conjunto dessas manifestações de “cultura de rua.”
No Brasil, o hip hop chegou vinte anos depois, em 1988, quando apareceu nas lojas o primeiro disco de rap brasileiro. Chamava-se Hip Hop Cultura de Rua. Pouca gente se ligou naquele momento. Hoje sabemos que nascia ali o que viria a ser um dos gêneros musicais mais importantes do País. Acontece que os jovens brasileiros perceberam que a rea-lidade vivida por crianças e adolescentes americanos da periferia era bem parecida com a deles.
Foi assim que aos poucos os paulistanos que se identificavam com o hip hop começaram a se reunir na Estação São Bento de metrô. Ali, além de entoar as letras rimadas, dançavam break e trocavam informações sobre a arte do grafite. Estava formado o tripé do hip hop brasileiro: música, dança e artes plásticas. Rapidamente ele se alastrou por todo o país, através da criatividade de centenas de rappers. Rapper é o nome do cantor de rap.
Um dos primeiros rappers (répers) brasileiros é Thayde. Ele é autor de Corpo fechado. Esta música o consagrou como um dos mais importantes rappers do nosso Brasil. Depois ele tentou a carreira de ator, fazendo participações em filmes, programas e séries de TV. Thayde abriu o cami-nho para outros rappers e outras manifestações do hip hop. Um dos nomes que se destacou depois foi o dos Racionais MCs.
Os Racionais, com o disco de rap Sobrevivendo no Inferno, que foi lançado em 1997, alcançaram um feito incrível. Venderam um milhão de cópias em poucas semanas. Para você ter uma ideia do que isso representa, se a música mais conhecida do disco, Capítulo 4, Versículo 3, fosse tocada um milhão de vezes, uma atrás da outra, seriam necessárias 132 mil horas para terminar a série. Ou 5552 dias. Ou cerca de 14 anos. É muita coisa, não é mesmo?
Uma curiosidade. Apesar do movimento hip hop ter se iniciado no Brasil no fim da década de 1990, o conhecido sambista Jair Rodrigues gravou muitos anos antes, em 1964, uma música que é a cara do rap. Chamava-se Deixa isso pra lá. A letra (de Alberto Paz e Edson Menezes) era falada e o cantor fazia uma dancinha e mexia corpo, quadris e mãos enquanto falava/cantava assim:
“ Deixe que digam/ Que pensem/ Que falem/ Deixe isso pra lá/ Vem pra cá/ o que é que tem?/ Eu não tô fazendo nada/ Você também/ É bom bater um papo assim gostoso com alguém”. Depois de repetir toda a letra, ele encerrava: “Faz mal bater um papo assim gostoso com alguém?” Os pais (e avós) dos leitores deste Clubinho certamente se lembrarão com muita clareza do nosso primeiro rap, regravado em 1999 pelo grupo (de rap) Camorra. Alguns artistas são assim, eles têm umas anteninhas que captam o que ainda vai ocorrer.
Assista o clipe da música.
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