Entrar na faculdade sem vestibular e pagar mensalidades bem mais baixas do que as cobradas no Brasil. Essas são as principais motivações de quem deixa o País para realizar o sonho de se tornar médico. Não há números oficiais no MEC (Ministério da Educação e Cultura), mas, segundo apuração informal da reportagem, somente na região de Franca dezenas de estudantes deixam suas casas em busca da formação profissional em universidades da América Latina. Esses estudantes, no entanto, convivem com o medo de, após os anos de faculdade, não conseguirem revalidar o diploma para atuar no Brasil.
Formada em publicidade e em fisioterapia, Tainah Noleto Rabelo quer agora ser pediatra. Para isso está há quase dois anos morando em Cochabamba, na Bolívia, onde cursa medicina na Upal (Universidade Privada Aberta Latinoamericana). Antes de decidir mudar de país, tentou passar em dois vestibulares no Brasil: em São Luís, no Maranhão, e em São Paulo. Sem sucesso, pegou o histórico escolar e foi para o país vizinho.
Com boas notas conseguiu, além de entrar na faculdade sem vestibular, desconto na mensalidade. Paga US$ 130 dólares, o equivalente a cerca de R$ 230 reais. No Brasil, a mensalidade média do curso é de R$ 2,5 mil, mas chega a R$ 6 mil em algumas instituições.
Quando se mudou, Tainah não falava espanhol - hoje é fluente na língua. Mas, o idioma não foi o mais difícil para ela, já que mais da metade da sua turma da faculdade é de brasileiros, muitos da região de Franca, inclusive. “O pior é a saudade dos meus pais e do meu noivo”, afirma.
Neste ano, ela vai tentar transferência para cá. A Unifran (Universidade de Franca), que está abrindo sua primeira turma, é a opção número 1. Se não conseguir, Tainah vai continuar na Bolívia.
A grade no curso na Bolívia é bem parecida com a brasileira, segundo André Leite Coimbra, 27, estudante do terceiro ano de medicina no país vizinho. “A única diferença é que o pessoal no Brasil tem aulas específicas sobre o SUS (Sistema Único de Saúde) e lá isso não existe”, afirma.
O custo de vida na Bolívia é relativamente baixo. André tem um gasto mensal de R$ 800 por mês. Já a família de Tainah desembolsa cerca de R$ 1,3 mil para moradia, alimentação e faculdade, - menos da metade do que pagaria apenas de mensalidade no Brasil.
A batataense Drielly Viotto Alves de Mello, 22, também optou por estudar medicina na Bolívia, mas em outra faculdade de Cochabamba, a Universidad Franz Tamayo. Na sua turma de 50 alunos, apenas dois não são brasileiros (um é peruano e o outro boliviano).
O preço e a facilidade no acesso foram decisivos, mas a saudade e a distância de casa começam a pesar. Ela também vai tentar transferência para o Brasil: Unifran e Unaerp (Universidade de Ribeirão Preto) fazem parte dos planos.
Sem querer correr riscos, Marcelo de Castro, 24, está fazendo o terceiro ano consecutivo de cursinho para entrar em uma universidade brasileira. Sua rotina de nove horas de estudos por dia lhe rendeu no ano passado um lugar em três faculdades, todas particulares. Não se matriculou em nenhuma. “Meu objetivo é a USP e em 2011 quase entrei.”
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