Nesses últimos dias, duas matérias jornalísticas e uma conversa chamaram-me a atenção para um problema que tem aumentado de forma proporcional ao desenvolvimento econômico brasileiro: os currículos falsos.
Há alguns dias, assisti a uma entrevista com uma técnica da área de recrutamento profissional e ela dizia que nove de cada dez currículos contém alguma mentira ou omissão de informação que poderia influenciar o resultado de uma contratação. A variedade das mentiras detectadas é grande e vai desde mentir quanto à fluência em uma língua estrangeira, passa pela apresentação de certificados falsos de cursos e vai até a omissão de situações ocorridas em empregos anteriores.
Em um jornal impresso li, também, sobre o mesmo assunto e ele trazia uma estatística um pouco menor sobre o numero de currículos falsos, mas, também, assustadora. O jornal dizia que ‘cerca de 70% dos currículos contêm alguma informação falsa’. O desafio, conforme a matéria do jornal é o recrutador - da própria empresa ou terceirizado - descobrir essa mentira e identificar se ela pode ser prejudicial ou não para a empresa que está contratando.
Essa matéria ainda aborda um aspecto interessante nos novos processos de recrutamento. Os técnicos responsáveis em contratar novos profissionais, estão sendo treinados com as mesmas técnicas adotadas por agentes de instituições como a CIA e FBI. Aprendem a analisar as ‘microexpressões faciais’ e as mudanças de comportamento que o candidato apresenta durante a entrevista. Com isso, trabalham para ganhar a confiança do entrevistado e, assim, descobrem mentiras e omissões no seu histórico profissional. Garantem, conforme depoimento desses técnicos, que a privacidade do candidato é preservada, mas penso ser difícil estabelecer o limite dessa privacidade se o que pesa, naquele momento, é o interesse da empresa empregadora.
Uma amiga psicóloga, que trabalha com esses processos de recrutamento, confirmou os dados sobre as mentiras e, também, o avanço nas técnicas adotadas para evitar surpresas após a contratação de profissionais mentirosos.
A verdade, diz ela, é que os currículos falsos têm crescido na medida em que o Brasil vivencia uma mudança no padrão dos empregos que estão sendo gerados na atualidade. Com a expansão da economia e com a criação de empregos com exigências de qualificação cada vez maiores, muitos trabalhadores acabam ‘esquentando’ o seu currículo para a obtenção desses novos postos de trabalho. Entretanto, hoje e cada dia mais, uma empresa busca um profissional qualificado para que haja resultados imediatos. Antes, as exigências profissionais eram menores e, além disso, havia o período de experiência que, de certa forma, ajudava na adequação do empregado à função que conquistara.
Portanto, os recrutadores alertam para que somente informações verdadeiras estejam no currículo e que os interessados nas novas oportunidades de trabalho, busquem melhorar sua qualificação profissional e, quem costuma mentir, deve ficar atento, pois tramita no Congresso Nacional projeto de lei que prevê cadeia para quem registrar informações falsas no currículo.
Cassiano Pimentel
Agente de exportação e professor universitário
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