Morre Alfredo Palermo, maior expressão da vida intelectual de Franca


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<b>ADEUS, MESTRE ALFREDO</B> - O professor Alfredo Palermo, um dos homens mais importantes da história de Franca, morreu ontem.
<b>ADEUS, MESTRE ALFREDO</B> - O professor Alfredo Palermo, um dos homens mais importantes da história de Franca, morreu ontem.
Morreu às 5 horas de ontem, 30 de dezembro, Alfredo Palermo, que estava internado no Hospital Nove de Julho, na capital paulista. Educador, historiador, escritor, político, jornalista e cidadão que marcou sua vida pela dedicação às causas francanas e esforços para consolidar duas das principais casas de ensino locais, a Faculdade de Direito de Franca e a Faculdade de Filosofia, Ciências de Letras, sucedida pela Faculdade de Direito e Serviço Social da Unesp. Desde o início de abril de 2009 estava residindo em São Paulo com a mulher Nydia de Castro Palermo, junto à filha Maria Thereza e ao gen ro Torquato Caleiro Carvalho. Optaram por permanecer na capital para facilitar tratamento de saúde de Nydia. Há alguns meses, já com 92 anos, Palermo teve diagnosticada baixa taxa de glóbulos vermelhos, em decorrência de uma disfunção medular. Passou a enfrentar internações sucessivas para transfusões. Segundo o genro Torquato, “a periodicidade entre as transfusões se tornou menor, sujeitando-o a permanências hospitalares mais longas. Ao final da última semana, em pleno período natalino, a intervenção não apresentou os resultados esperados. Constatou-se queda do funcionamento renal, seguida por problemas pulmonares que culminaram em falência múltipla de órgãos, levando-o à morte”. Muitos francanos torciam por Palermo. “Foram incontáveis os telefonemas e pedidos de informações sobre a saúde do mestre nos últimos meses”, disse Torquato. “Ficou mais que demonstrado o carinho que a população francana dedicava a ele. Agradecemos profundamente a preocupação de todos”. <a target="_blank" href="http://gcncomunica.wordpress.com/files/2009/12/linha-do-tempo-alfredo-palermo.jpg"><img class="aligncenter size-full wp-image-3176" title="arte/comércio da franca" src="http://gcncomunica.wordpress.com/files/2009/12/linha-do-tempo-alfredo-palermo.jpg" alt="" width="170" height="1500" /></a> Alfredo Palermo era filho do casal de imigrantes italianos João Palermo e Thereza Tortorelli Palermo. Tinha como irmãos, Maria (única nascida na Itália, onde os pais se casaram), casada com Alcides Franchini, ambos falecidos; Américo, casado com Stella Ferreira Palermo, falecidos; Hélio Palermo, ex-vereador, prefeito de Franca e professor, casado com Altina Arantes Palermo, ambos falecidos; Leandro, que deixou viúva Durvalina, residente em Ribeirão Preto (SP); João Palermo Filho, falecido, fundador da AEC – Associação dos Empregados no Comércio, casado com Cibelle de Oliveira Palermo, residente em São Paulo; Nelson, casado com Hélia Foroni Palermo, ambos falecidos, e Elza, professora de Português, casada com Hermantino Rocha Filho, também falecidos. Praticamente todos os irmãos criaram e dirigiram, ao longo de décadas, algumas das principais indústrias de calçados de Franca. <b>FAMÍLIA</B> Alfredo se casou com Nydia de Castro Palermo. Tiveram 66 anos de enlace e 3 filhos: Alfredo Júnior, engenheiro agrônomo e florestal, casado com Maria Helena; Maria Thereza, professora de Inglês, casada com Torquato Caleiro Carvalho, engenheiro mecânico; Carlos Eduardo, casado com Fernanda Kellner Palermo, advogados, todos residentes em São Paulo. Dos casamentos dos filhos nasceram 3 netos (André, casado com Érika, engenheiros; Adriana, advogada, casada com Douglas Viola, cartorário, residentes em Batatais - SP e Daniel, universitário) e 1 bisneto, Eduardo. “Falar de Alfredo Palermo é, ao mesmo tempo, fácil e complexo”, disse seu cunhado, Cícero de Castro. “Fácil porque teremos saudade do homem reto, justo, extremamente cordato, incapaz de ofender alguém, caridoso, um cidadão exemplar na mais plena expressão do termo. Complexo porque Palermo se ilustrou sem limites e se dedicou a incontáveis causas, sempre levando muito a sério tudo o que fez”. Cícero tem razão. Alfredo fez seus estudos fundamentais na Escola “Cel. Francisco Martins” e o ensino médio no Colégio Champagnat. Chegado o momento da decisão sobre o rumo que gostaria de dar à sua vida, escolheu a advocacia. Foi aprovado para a tradicional Faculdade do Largo de São Francisco em São Paulo e lá se formou em 1937. Uma curiosidade: participou de concorrido Concurso de Oratória naquela escola e ficou com o primeiro lugar. Dentre os competidores, ninguém menos que Jânio da Silva Quadros, com quem Alfredo dividiu os bancos escolares. Fez também a Faculdade de Filosofia da Universidade de São Paulo onde especializou seu dom natural para a palavra e o texto. Tornou-se um mestre de fala mansa, repleta de conhecimento, respeitada por alunos e companheiros de docência onde viesse a atuar daí em diante. <B>PROFISSÃO</B> Sua vida profissional começou em Marília (SP), em 1940. Atuava como advogado e exercia também o magistério. Seu excelente texto e grande capacidade de análise apareceram com destaque no jornal daquela cidade. Escrevia sobre esporte, vida social e política. Em 1942, voltou a Franca e, no ano seguinte, com a morte do professor catedrático de Língua Portuguesa do Ginásio do Estado local, submeteu-se a concurso e assumiu. A escola, mais tarde, se chamaria Instituto de Educação “Torquato Caleiro”. Em 1948, associou-se ao advogado Oliveiro Diniz da Silva e ao professor José Garcia de Freitas e adquiriu o tradicional Ateneu Francano, transformando-o no Instituto Francano de Ensino. Em 1958, passou a integrar o quadro docente da Faculdade de Direito de Franca, tornando-se seu diretor, cargo que exerceu até 1972, promovendo ações que consolidaram a escola como uma das mais importantes da região. Ano passado, em reconhecimento, lhe foi conferido o único título de Professor Emérito até aqui concedido. Em 1963, o Governador Adhemar Pereira de Barros o designou para instalar e dirigir, em Franca, a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras local, depois Instituto de História e Serviço Social, hoje da Universidade Paulista “Júlio de Mesquita Filho”. Nunca parou. Lecionou também na Unaerp e “Barão de Mauá”, de Ribeirão Preto, e na Unifran, de Franca. Integrou bancas examinadoras de professores universitários em vários graus – mestrado, doutorado, livre docência e docência titular – na Universidade de São Paulo, Universidade Mackenzie, Unesp e em outras. <B>VIDA PÚBLICA</B> Na política, foi suplente de deputado federal por São Paulo. Foi atraído ao PDC por antigos companheiros do Largo de São Francisco, como Jânio Quadros, Franco Montoro e Queirós Filho. Quando Queirós Filho, eleito deputado, foi ocupar a Secretaria da Justiça de Jânio, Palermo foi para a Câmara Federal no Rio de Janeiro, lá atuando por 3 anos. Apresentou projetos relevantes, como um esboço para o que chamava de “justiça de pequenas causas”, capaz de dar velocidade à justiça comum (observa-se, nesta ação, a visão futurista de Alfredo, preocupado em dar velocidade às decisões judiciais ainda em 1958, como que antevendo o que ocorreria nas décadas seguintes) e “ensino rural”. Não pretendeu a reeleição. Voltou ao magistério e à vida no jornal Comércio da Franca, “seu lugar” (como ele próprio disse ao jornalista Luiz Neto durante entrevista, ao completar 90 anos de vida). <B>JORNAL</B> Neste Comércio, Palermo fez de tudo. Foi redator, assinou a Gazetilha por quase seis décadas e o Letras Avulsas, dedicado às artes e à cultura. Fez parte do caderno Nossas Letras, desde sua criação. Foram mais de 60 anos de intensa e produtiva parceria. Com várias obras jurídicas, pedagógicas e culturais publicadas – com destaque para Estudo dos Problemas Brasileiros, Direito Social no Brasil, Moral e Civismo na Legislação Escolar do Brasil, Apontamentos sobre a História, Usos e Costumes de Franca e Letras Avulsas e Ritmos Proscritos – que o fizeram membro do Instituto Histórico e Geográfico, da Academia Francana de Letras e da Academia Ribeirãopretana de Letras, Alfredo se tornou também conferencista e palestrante muito solicitado. Suas capacidades intelectuais e de cidadania o tornaram referência rotária nacional. Integrante do Rotary Clube de Franca desde 1948, tornou-se Governador Distrital do organismo e decano do Colégio de Governadores do Distrito 4540. É dele a letra do Hino Oficial de Franca. O corpo de Alfredo Palermo foi transladado ontem para Franca. O velório está acontecendo no São Vicente de Paulo. O sepultamento ocorrerá às 10 horas de hoje, 31, quinta-feira, no Cemitério Parque Jardim das Oliveiras.

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