Garimpo Bandeira


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O Garimpo do Bandeira, a pouco mais de 20 quilômetros da cidade de Frutal (MG), sofreu três grandes ações promovidas pelo Ibama e Polícia Federal num espaço de menos de dois anos. Dentro da vila, que o Comércio mostrou ontem, os nomes de alguns dos envolvidos na ação policial de duas semanas atrás (em Franca) são falados com frequência pelos moradores e comerciantes locais. Os reflexos das prisões em Franca foram sentidos com força no Bandeira. Com a prisão dos negociantes, e a interdição da área de garimpagem, os garimpeiros não têm a quem vender suas pedras. Pior, não têm de onde tirar sustento em um lugar que vive exclusivamente da garimpagem. A vila e seus moradores vivem dias de penúria e incertezas em relação ao futuro. Ao andar pela comunidade e conversar com as pessoas, as queixas com relação à Polícia Federal são recorrentes, principalmente quando falam das prisões dos compradores mais tradicionais. Um comerciante de Franca era um desses compradores de diamantes que atuava no Garimpo do Bandeira, segundo pessoas ouvidas pela reportagem. A atuação dele, assim como de outros negociantes, iria além da simples negociação das pedras. O comprador geralmente mantém a família do garimpeiro e é responsável pelo sustento, aquisição de equipamentos, paga o caminhão que transporta cascalho para as bicas e outros gastos decorrentes da garimpagem. “Com eles presos, essas famílias estão passando necessidade porque ninguém vai suprir o que eles davam. É um remédio, uma compra no supermercado. São coisas que com o garimpo parado, eles não têm como comprar”, disse o proprietário do Iate Clube de Frutal, identificado por Natanael. Após a extração e lavra, o garimpeiro não negocia com mais ninguém que não seja o comprador com quem normalmente já faz os negócios. Com os principais negociantes presos, os elos se romperam e o que se viu no dia que a reportagem visitou o Bandeira foram muitos homens e mulheres parados, nos quintais das casas e nos seis bares que se espalham pelo povoado. “Era para todo mundo estar trabalhando. No entanto, o que estamos fazendo? Vivendo com o que se tem, com o pouco que se tem”, disse Raquel, mulher do proprietário das terras onde ficam as bicas para lavra do cascalho seco, chamado Vicente, conhecido de todos, mas que não foi encontrado pela reportagem. “Aqui a gente não sabe fazer outra coisa. Dizem que garimpeiro depreda o meio ambiente, agride a natureza, mas o que estão fazendo essas usinas que estão aqui? Estão fazendo muito pior”, desabafou, enquanto limpava na varanda da casa em que mora um porco que havia acabado de matar. Outros nomes conhecidos em Franca circulam com facilidade no garimpo.“O comprador tem uma relação próxima aqui. Ele compra o que o garimpeiro tem para vender e banca o garimpo para nós. Ele paga a comida para o garimpeiro, o frete do caminhão, a máquina para cascalhar, banca viagens. O garimpo sozinho não se sustenta. O comprador permite que o serviço seja feito e nós pagamos uma porcentagem para ele”, revelou Idevaldo Alcântara, pescador e garimpeiro. Não foi possível chegar ao número de compradores que atuam no Bandeira e se o grupo é fechado a ponto de não permitir que outros negociantes atuem no local. O que se sabe é que ao comprar as pedras extraídas, os caminhos que as tiram das terras do garimpo ou do fundo do Rio Grande normalmente levam para Frutal, a primeira cidade, para Franca ou Uberlândia. A partir destes lugares, primeiros entroncamentos das negociações, os diamantes e outras pedras preciosas tomam destinos variados, quase sempre em direção à Europa e Oriente Médio. Bélgica, Holanda, Emirados Árabes e Israel estão entre os principais compradores, segundo o Ministério Público Federal. <embed type="application/x-shockwave-flash" src="http://picasaweb.google.com.br/s/c/bin/slideshow.swf" width="400" height="267" flashvars="host=picasaweb.google.com.br&hl=pt_BR&feat=flashalbum&RGB=0x000000&feed=http%3A%2F%2Fpicasaweb.google.com.br%2Fdata%2Ffeed%2Fapi%2Fuser%2Fblogsgcn%2Falbumid%2F5374983806768322145%3Falt%3Drss%26kind%3Dphoto%26hl%3Dpt_BR" pluginspage="http://www.macromedia.com/go/getflashplayer"></embed> <b>CICLO ROMPIDO</b> Não foram poucas as vezes que se ouviu pela vila que os moradores dali deveriam ter seu direito reconhecido à terra assim como têm os índios em relação às suas. Para o pescador Idevaldo, que afirma ter ganho muito dinheiro com os diamantes, a interrupção da extração no garimpo foi um golpe de morte para os moradores. “O que fizeram foi tirarem nossa identidade, nosso RG. Em qualquer lugar, quando a gente chegava e falava que era do Bandeira, todo mundo sabia do que se tratava. Hoje vamos dizer o que?”, questionou. “Encerraram nossa atividade, nosso sustento, mas ninguém vem aqui perguntar como estamos vivendo. A promotoria não veio aqui para saber. O juiz também não. Então que me paguem R$ 50 mil, R$ 60 mil, pela minha casa que eu vou embora daqui tentar a vida em outro lugar”. No Garimpo do Bandeira, onde os moradores não pagam água, fornecida pela Prefeitura de Pontal, a vida vai seguindo incerta. O lugar é de uma impressionante fragilidade. Seja pela fonte de seu único sustento, que está seca temporariamente, seja pela ameaçadora presença de usinas de cana e de uma indústria de suco de laranja, que parecem querer engolir o vilarejo, fica a impressão que o Bandeira pode desaparecer. As pessoas estão indo embora todos os dias. Aladin da Silva Ramos foi o primeiro a chegar e ainda está lá, ao contrário dos filhos, que buscaram oportunidades em outras paragens (leia mais no site). Ao contrário do receio inicial, as pessoas foram receptivas e o clima de tensão se desfez nas conversas com gente que precisava levar sua história adiante. “As pessoas aqui aceitam todo mundo, estão desarmadas em todos os sentidos”, emendou Alcântara. Na vila com dois mercadinhos, sem farmácia e polícia, mas com um posto de saúde e ambulância, muitos estão achando que o Garimpo Bandeira encerrou sua trajetória. Como “seu” Zizico, o descobridor do primeiro diamante no Bandeira, acha que o lugar é tranquilo demais e bom para aposentados, deve continuar por lá.

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