O cientista sueco Alfred Bernhard Nobel (1833 - 1896) inventou nada menos que a dinamite. Ele dá nome hoje aos famosos prêmios dados a cientistas das mais diversas áreas do conhecimento (Química, Física, Medicina, Literatura). Ironicamente, o prêmio que leva o nome do inventor de um explosivo usado em larga escala por grupos terroristas e exércitos também premia promotores da Paz Mundial. A ambição de todos os cientistas do mundo é ir a Estocolmo receber a homenagem, o reconhecimento e, é claro, as 10 milhões de coroas suecas (aproximadamente 3 milhões de reais).
O Nobel pode ser honroso, mas muito mais divertido é o prêmio Ig-Nobel (um trocadilho infame com as palavras ignóbil e Nobel), organizado pela Universidade de Harvard, EUA. O Ig-Nobel, criado em 1991, premia estudos que “não poderiam ou não deveriam ser aplicados”. A cerimônia está se tornando cada vez mais famosa, conta com a presença de ganhadores do Nobel de verdade (encarregados de varrer os aviões e bolas de papel atirados ao palco) e os seus vencedores não se sentem envergonhados por terem tido seus estudos classificados como inúteis, mas, ao contrário, pagam com de seu próprio bolso as despesas com a viagem até os Estados Unidos. Raramente um vencedor falta à cerimônia, mas isso ocorre. Em 1993, por exemplo, a Pepsi-Cola das Filipinas não enviou representante para receber o Ig-Nobel da Paz, ganho pela empresa de refrigerantes por patrocinar uma promoção com um prêmio milionário e então anunciar o número ganhador errado, fazendo com que 800 mil possíveis ganhadores se unissem em sua ira contra a empresa, juntando facções inimigas pela primeira vez na história do país asiático.
Outro ganhador do Ig-Nobel da paz famoso foi Daisuke Inoue, por ter inventado o karaokê e aumentado, assim, a tolerância entre as pessoas. Inoue não foi o único japonês a ganhar o prêmio de Harvard: Yukio Hirose ganhou o prêmio de Química em 2003 pela investigação do bronze de uma estátua na cidade de Kanazawa, que não atrai pombos. O Centro de Pesquisa Shisedo, Yokohama, pesquisou as causas do chulé e concluiram que “quem acha que tem chulé, sempre tem, e quem acha que não, não tem mesmo”.
Mas os campeões em pesquisas absurdas são mesmo os americanos. Robert Faid ganhou o Ig-Nobel de Matemática em 1993 por calcular a exata probabilidade de Gorbatchev ser o anticristo:
710,609,175,188,282,000 para 1. Também em 1993, James Nolan, Thomas Stilwell e John Sands Jr. venceram o Ig-Nobel de medicina por suas pesquisas sobre como proceder quando o pênis fica preso no zíper. Robert Matthews ganhou o de Física, em 1996, por ter demonstrado que a torrada sempre cai com o lado da manteiga para baixo. Edward A. Murphy teve reconhecimento tardio, mas ganhou em 2003 o prêmio Ig-Nobel de Engenharia por ter postulado a famosa Lei de Murphy: “Se existe a mínima chance de alguma coisa dar errado, certamente dará”. Steven Sack, da Universidade Estadual de Wayne e James Gundlach, da Universidade de Auburn, foram laureados com o prêmio de Medicina por um estudo sobre o efeito da música country nas taxas recordes de suicídio na cidade de Nashville, capital desse gênero musical, muito parecido com o nosso sertanejo.
Os britânicos também são lembrados por diversas de suas façanhas científicas. Claire Rind e Peter Simmons, da Universidade de New Castle, monitoraram o cérebro de um gafanhoto enquanto o bichinho assistia ao filme Guerra nas Estrelas. Eles queriam testar como os neurônios do sistema visual desses insetos respondem a objetos em rota de colisão com eles. Rind e Simmons venceram na categoria Paz, em 2005.
O Papa João Paulo II foi diversas vezes indicado o Nobel da Paz. Não venceu. mas o Vaticano levou em 2004 o Ig-nobel de Economia, por terceirizar pedidos de missa para a Índia, onde elas são mais baratas. Nenhum cardeal apareceu para receber a homenagem.
Outro estudo estranho foi o de C.W. Moeliker, do Museu Natural de Rotterdam, Holanda, que abocanhou o prêmio na categoria Biologia em 2003 por ter documentado o primeiro caso cientificamente registrado de necrofilia homossexual entre patos.
No sábado foram entregues os prêmios desse ano. Teve tratamento para soluço à base de dedo no “toba”, estudos sobre barulho de giz ruim e repelente sonoro de adolescentes.
A gente pode julgar vergonhoso vencer o Ig-Nobel, mas quando um país leva um prêmio desses, é sinal de que há dinheiro e universidades o bastante para se pesquisar. até aquilo que não tem utilidade. Sendo assim, podemos considerar que o Brasil poderá ser considerado uma potência em pesquisa científica não quando ganhar seu primeiro Nobel, mas quando as agências de fomento (que vêm cortando verbas até de estudos de extrema importância para a sociedade) estiverem investindo o suficiente na ciência para ganharmos muitos Ig-Nóbeis.
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