OPINIÃO

Mercado de trabalho: a força dos 60+


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O Brasil vive um momento inédito em termos de economia e demografia: segundo dados recém-divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de pessoas com 60 anos ou mais trabalhando é recorde. Em 2024, cerca de 8,3 milhões de idosos estavam ocupados, o que representa 24,4% do total dessa faixa etária – ou seja, um a cada quatro 60+. Em 2019, o percentual era de 19,8%.

Esse salto não é fruto do acaso, mas da conjunção de vários fatores estruturais. De um lado, a promulgação da reforma da previdência em 2019 alterou as regras de aposentadoria. Estabeleceu mais tempo de contribuição e idade mínima para ter direito ao benefício para homens (65 anos) e mulheres (62), fazendo com que muitos adiem o desligamento formal do mercado de trabalho.

De outro, o país tem envelhecido rapidamente. O total de pessoas 60+ quase dobrou desde os anos 2000, atingindo 15,6% da população. Além disso, a expectativa de vida do brasileiro agora é de 76,6 anos, a maior já registrada, segundo o IBGE. Com as pessoas vivendo mais tempo, a fase ativa da vida é ampliada.

Esse fenômeno – a “geração prateada” retornando ou permanecendo no mercado – representa um novo vetor de poder econômico. A empresa de inteligência de mercado World Data Lab calcula que, globalmente, esse público controle 27% dos gastos do consumidor, o que equivale a US$ 17 trilhões anuais.

No Brasil, ter 8,3 milhões de pessoas com 60 anos ou mais trabalhando significa não apenas renda para esse contingente, mas consumo ativo, demanda por produtos e serviços, e uma influência crescente nas escolhas de mercado.

E é um consumidor com maior poder aquisitivo. O IBGE apurou que os idosos ganharam, em média, R$ 3.561 por mês enquanto o conjunto da população acima de 14 anos recebeu, em média, R$ 3.108 mensais. Isso significa uma remuneração 14,6% maior dos 60+. A World Data Lab calcula que a “economia prateada” do Brasil deverá crescer 60% até 2030, passando de US$ 358 bilhões para US$ 572 bilhões.

O perfil das ocupações também difere do restante da população. Dos idosos no mercado de trabalho (51,1% dessa população), 43,3% atuavam por conta própria e 7,8% eram empregadores. Entre os demais, a soma dessas duas categorias (25,2% e 4,3%) representa 29,5%.

Porém, é essencial que os 60+ estejam preparados para os desafios de um mercado de trabalho em rápida transformação, marcado por inovações tecnológicas, automação, digitalização e novas formas de produção e serviços. Estar qualificado, portanto, é uma necessidade.

O poder público precisa estar atento a esta realidade. Recentemente, o governo do estado de São Paulo lançou o programa Trampolim 60+ com o objetivo de ampliar a empregabilidade dessa faixa etária por meio de qualificação profissional, cursos gratuitos de letramento digital e gestão de negócios, assim como oferta de vagas exclusivas para idosos.

O Senai também dispõe de dezenas de cursos para quem quer se qualificar profissionalmente – presenciais e online – muitos dos quais gratuitos. Para atender especificamente o público a partir de 50 anos (e também pessoas com deficiência), até o fim do ano foram disponibilizados 40 cursos online gratuitos no market place futuro digital (https://www.futuro.digital/cursos-50-mais).

Há vários cursos na área de Tecnologia da Informação, como programação de aplicativos, inteligência artificial e dados, impressão 3D, além de sustentabilidade e gestão de negócios, para quem quer estar pronto para as demandas profissionais atuais.

Vandermir Francesconi Júnior é 2º vice-presidente do CIESP e 1º diretor secretário da FIESP

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