O prefeito de Campinas, Dário Saadi (Republicanos), avaliou nesta segunda-feira o primeiro ano do segundo mandato à frente da Prefeitura e afirmou que 2025 foi marcado por decisões estruturais difíceis, mas também por entregas consideradas históricas para a cidade. A análise foi feita durante entrevista à Rádio Jovem Pan Campinas.
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Segundo o prefeito, entre os principais avanços do período estão a consolidação do Hospital da Mulher, a transição do Hospital do Amor, a entrega do Centro de Convivência Cultural e a conclusão da reforma do Mercadão Municipal, obra que estava parada havia anos. “Nunca tinham mexido no Mercadão. Há décadas precisava de reforma. Tivemos problemas, mas enfrentamos e entregamos”, afirmou.
Saadi também destacou o avanço regional na articulação para a construção do Hospital Metropolitano, projeto que envolve a Região Metropolitana de Campinas. “É uma luta que não é só da Prefeitura de Campinas, mas da região metropolitana. A gente considera o Hospital Metropolitano um avanço importante”, disse.
Transporte coletivo: atraso reconhecido e licitação prevista
Questionado sobre promessas que avançaram menos do que o esperado, o prefeito reconheceu que a licitação do transporte coletivo poderia ter sido lançada antes. “Eu gostaria de ter lançado a licitação do transporte mais cedo, mas lançamos e as propostas serão abertas agora em fevereiro”, afirmou.
Segundo ele, o atraso está ligado à complexidade do setor no Brasil, marcado por queda no número de passageiros, avanço dos aplicativos e altos custos operacionais. “O transporte vive uma crise no país inteiro. Muitas cidades não conseguem licitar e vivem de contratos emergenciais há décadas”, disse.
Sobre a nova concessão, Saadi explicou que o edital prevê modernização da frota, mas com ajustes em relação ao projeto original. “O ônibus elétrico custa de três a quatro vezes mais que o diesel. Exigir 250 ônibus elétricos naquele momento estava fora da realidade do mercado”, afirmou. O edital estabelece um mínimo de 60 ônibus elétricos e abre espaço para outras tecnologias de menor emissão de carbono, como biometano.
O prefeito também voltou a defender maior participação do Estado e da União no custeio do sistema. “O município já coloca mais de R$ 200 milhões por ano. Tarifa zero só nas costas da Prefeitura não dá”, disse.
Piscinões: obras em andamento, mas sem efeito imediato
Com a chegada do período mais crítico de chuvas, Saadi fez um alerta realista sobre as obras de drenagem. Segundo ele, nenhum piscinão estará plenamente operacional neste verão.
O reservatório do Jardim Paranapanema, na cabeceira da Princesa D’Oeste, está em estágio avançado, com túnel já concluído. “É uma obra extremamente complexa, com tecnologia de metrô. Existe chance de funcionar no inverno de 2026 para 2027, mas eu não vou garantir”, afirmou.
Outros dois projetos seguem em fases iniciais ou de ajustes, inclusive com mudanças para reduzir impacto ambiental. Para moradores de áreas alagáveis, o prefeito ponderou: “Ainda não posso dizer que o risco é menor do que no ano passado. O que melhorou foi a capacidade de alerta e monitoramento”.
Hospital Metropolitano e pressão na saúde
Sobre o Hospital Metropolitano, anunciado pelo governo do Estado, Saadi afirmou que o edital está pronto e depende apenas dos trâmites finais. “É um hospital de 430 leitos, uma megaestrutura. A burocracia retardou, mas acreditamos que o edital saia nas próximas semanas”, disse.
Enquanto isso, a Prefeitura tenta aliviar a pressão na rede municipal com a contratação temporária de leitos. “Estamos trabalhando em dois editais: um para contratação imediata de leitos e outro para o Hospital Metropolitano”, afirmou.
2026: cautela com economia e foco em entregas
O prefeito projetou 2026 como um ano de forte impacto político, mas alertou para a necessidade de estabilidade econômica. “Se a economia do país vai mal, a arrecadação do município cai. Tudo o que foi planejado desanda”, afirmou.
Entre as prioridades, citou a conclusão da licitação do transporte, avanços na saúde e obras de drenagem. “Se o país for razoavelmente bem, Campinas vai melhor ainda”, concluiu.
Passou com facilidade

Divulgação/CMC
Nada foi surpresa. Nada saiu do script. A votação definitiva do PLC 136/2025, que cria 105 novos cargos comissionados na Câmara de Campinas, ocorreu exatamente como se esperava: rápida, silenciosa e apenas para cumprir tabela. A sessão desta segunda-feira, última ordinária do ano, serviu mais como rito burocrático do que como espaço de deliberação política.
Desta vez, o plenário sequer tentou encenar divergência. Nenhum vereador pediu a palavra. Nenhuma explicação pública foi dada. Nenhuma ressalva foi registrada. O projeto passou de forma unânime, com 29 votos favoráveis, incluindo — aqui está o ponto político mais revelador — os votos de Mariana Conti e Fernanda Souto, do PSOL, que na primeira votação haviam sido contrárias.
A mudança de posição sacramentou o consenso que a coluna apontava desde o início. A segunda votação, como previsto, foi apenas formalidade. A divergência inicial, que parecia abrir uma fresta para o debate, se dissolveu sem deixar vestígios.
Com a aprovação final, a nova estrutura administrativa entra em vigor já em janeiro de 2026. Isso significa que os vereadores poderão contratar os novos assessores ainda durante o recesso parlamentar, com impacto imediato na folha de pagamento da Câmara. A máquina não espera o calendário político.
O projeto havia sido aprovado em primeira discussão na semana passada, com 28 votos a favor e dois contrários, também em uma votação célere e sem aprofundamento. Desde então, o desfecho estava dado. A proposta chegou ao Legislativo assinada por 27 dos 33 vereadores, um número que, na prática, blindou qualquer tentativa real de contestação.
O conteúdo do PLC é conhecido, mas vale reforçar seus números — porque eles explicam o silêncio. O texto cria 99 cargos de Assessor de Políticas Públicas, diretamente vinculados aos gabinetes. Com isso, cada vereador passa de cinco para oito assessores, três a mais, ao custo individual de R$ 8.500 mensais.
Além disso, o pacote institui seis novos cargos de apoio às comissões permanentes:
- cinco funções com salário de R$ 10 mil;
- um subsecretário de comissões, com remuneração de R$ 32 mil.
O impacto financeiro estimado da medida é de R$ 20 milhões por ano. Um valor expressivo, aprovado sem alterações no texto original, sem discussão pública e sem qualquer tentativa de modulação ou escalonamento.
A unanimidade final não é sinal de consenso social. É sinal de alinhamento interno. A Câmara decidiu crescer — e decidiu rápido. O debate, se existiu, ficou restrito aos bastidores. O plenário, espaço que deveria simbolizar confronto de ideias, funcionou apenas como carimbo.
A mudança de voto das vereadoras do PSOL adiciona uma camada simbólica ao episódio. Quando até quem havia se colocado contra muda de posição na votação definitiva, o recado é claro: todos vão inchar os gabinetes.
A aprovação consolida a maior reestruturação administrativa da Câmara de Campinas em mais de uma década. Não pela complexidade técnica, mas pela velocidade e pela ausência de ruído. Tudo aprovado sem celeuma, sem discurso e sem resistência.
No fim, o que chama atenção não é apenas o aumento da estrutura. É a naturalização do silêncio. Quando uma decisão de R$ 20 milhões anuais passa assim, fica a pergunta inevitável: se isso não gera debate, o que ainda gera? Apenas Lula e Bolsonaro? A última sessão ordinária colocou fim ao primeiro ano de uma das mais ordinárias legislaturas.
Lei Manuela aprovada

Manuela Cotrin Carósio, de nove anos, morreu após um acidente (Arquivo Pessoal)
Os vereadores de Campinas aprovaram em definitivo, na noite desta segunda-feira, o Projeto de Lei nº 156/25, conhecido como Lei Manuela, de autoria da vereadora Débora Palermo (PL). A proposta proíbe o funcionamento de motores de sucção em piscinas de uso coletivo enquanto estiverem abertas ao público e torna obrigatória a instalação de dispositivos de segurança nesses sistemas.
O texto determina que os motores de sucção não poderão operar durante o período de uso das piscinas e estabelece a obrigatoriedade de equipamentos de proteção, com o objetivo de evitar acidentes graves. A regulamentação será aplicada a piscinas localizadas em praças de esportes, clubes esportivos, academias, condomínios verticais e horizontais, associações, hotéis, pousadas e estabelecimentos similares.
Na justificativa do projeto, a autora cita diversos acidentes registrados no Brasil nos últimos anos, com destaque para um caso ocorrido em Campinas, no fim de 2024, quando Manuela Cotrin Carósio, de nove anos, morreu após um acidente na piscina de um hotel da cidade.
“Nós não queremos que nenhuma criança ou adulto perca a vida como Manuella perdeu. São inúmeros os casos, no Brasil e no mundo, de acidentes fatais, porém acidentes que podem ser evitados por meio de medidas que estão estabelecidas no projeto”, afirmou a vereadora Débora Palermo durante a discussão da matéria.
A parlamentar também destacou que diversos municípios paulistas já aprovaram legislações semelhantes, em alguns casos motivadas diretamente pela mobilização da família de Manuela, reforçando a necessidade de padronização de regras de segurança em piscinas de uso coletivo.
Com a aprovação em plenário, o projeto segue agora para sanção do prefeito de Campinas. Após sancionada, a lei deverá ser regulamentada pelo Executivo, que definirá prazos e critérios para adequação dos estabelecimentos.
- Flávio Paradella é jornalista, radialista e podcaster. Sua coluna é publicada no Portal Sampi Campinas aos sábados pela manhã, com atualizações às terças e quintas-feiras. E-mail para contato com o colunista: paradella@sampi.net.br.