POLÍTICA

Flávio Paradella: Câmara enterra CP e escancara infantilidade

Por Flávio Paradella | Especial para a Sampi Campinas
| Tempo de leitura: 5 min
Divulgação/CMC
Plenário rejeita denúncia estapafúrdia contra vereadora Mariana Conti em sessão tensa e marcada por embates ideológicos.
Plenário rejeita denúncia estapafúrdia contra vereadora Mariana Conti em sessão tensa e marcada por embates ideológicos.

O desfecho era esperado, mas nem por isso menos revelador: a Câmara Municipal de Campinas rejeitou o pedido de abertura da Comissão Processante (CP) contra a vereadora Mariana Conti (PSOL), colocando fim a uma trama política que começou mal, se desenvolveu pior e terminou exatamente como todos previam — em arquivamento.

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Com 21 votos contrários, 8 favoráveis e duas abstenções, o plenário sepultou o pedido apresentado pelo vereador Nelson Hossri (PSD), que acusava Mariana de “infração político-administrativa” por ter se licenciado do mandato para participar de uma missão humanitária na Faixa de Gaza. A denúncia era, desde o início, estapafúrdia: a licença da parlamentar havia sido autorizada pela Mesa Diretora, sem remuneração, conforme previsão expressa da Lei Orgânica do Município e do artigo 56 da Constituição Federal.

A sessão, como era de se esperar, teve clima de tensão, plenário lotado e galerias tomadas por militantes — tanto de apoio (a imensa maioria) quanto de oposição à vereadora. A pauta, novamente, virou palco de um teatro ideológico, com discursos inflamados e provocações de ambos os lados.

No fim, o resultado foi o óbvio jurídico, mas a vitória de Mariana Conti ganhou contornos políticos. A vereadora, ao usar a tribuna após a votação, classificou o processo como “uma tentativa de retaliação da extrema-direita” e agradeceu o apoio dos 21 colegas que barraram a CP.

O episódio, no entanto, expôs mais uma vez o uso recorrente da figura da Comissão Processante como instrumento de intimidação política — uma banalização perigosa, que transforma um mecanismo de controle institucional em arma.

Enquanto vereadores se digladiam por ideologia, ninguém esqueceu que Câmara segue sob o impacto da investigação do Ministério Público sobre supostos desvios de emendas impositivas, com 27 parlamentares realizando repasses à Irmandade de Misericórdia, responsável pela Santa Casa. O caso, que deveria ser o verdadeiro foco do Legislativo, acabou varrido para debaixo do tapete, substituído por uma CP sem fundamento e um espetáculo de autoexposição pública.

O episódio revela um Legislativo fragmentado e exausto, que trocou o debate por escaramuças e a representação popular por narrativas para as redes sociais. Se o pedido de Hossri nasceu político e terminou jurídico, a imagem da Câmara segue desgastada — refém de polarizações artificiais e distante das pautas que realmente interessam à cidade.

No fim, a CP contra Mariana Conti não derrubou ninguém, mas confirmou o colapso de maturidade política do plenário campineiro, onde a gritaria vale mais que a razão e o espetáculo substituiu a função pública.

Circo, hospício e quermesse

Apesar do resultado esperado, a sessão teve surpresas e episódios curiosos. O PL votou em bloco, com os cinco vereadores do partido favoráveis à cassação, justificando o posicionamento como defesa da “moralidade na Câmara de Campinas”.

Chamaram atenção as abstenções de Felipe Marchesi (PSB) e Rodrigo da Farmadic (União Brasil), que optaram por não se posicionar. O clima esquentou com um bate-boca entre Vini Oliveira (Cidadania) e Guida Calixto (PT) — com Paolla Miguel (PT) tentando impedir a filmagem do confronto.

Mas quem roubou a cena foi o vereador Edison Ribeiro, que subiu à tribuna para defender Mariana Conti e ironizar os colegas conservadores, mas não participou da votação — estava ausente no momento da deliberação, mas reapareceu abruptamente no microfone de aparte para justificar: “Pela ordem, Sr. Presidente. Este vereador agora há pouco estava no banheiro, mas meu voto é favorável, tá?  Não, favorável não, ao contrário, perdão”, disse o parlamentar.

Outro fato inusitado foi a estranha presença do ex-candidato à Presidência da República, Padre Kelmon, que estava no plenário para defender a abertura do processo.

A noite terminou com tensão, confusão e ironia, num clima de espetáculo político em que o Legislativo campineiro oscilou entre o circo, o hospício e a quermesse.

Projetos aprovados

Mesmo com uma sessão dominada pelo clima tenso no plenário, os vereadores de Campinas aprovaram, em definitivo, o Plano Plurianual (PPA) 2026–2029, principal instrumento de planejamento da administração municipal para os próximos quatro anos. O Projeto de Lei nº 324/2025, de autoria do Executivo, foi votado e aprovado durante a 66ª Reunião Ordinária desta quarta-feira (29).

O PPA define as diretrizes, metas e programas que orientarão as políticas públicas até 2029. Entre os eixos prioritários estão o Programa Primeira Infância Campineira (PIC), voltado à proteção integral de crianças de zero a seis anos, e o Plano Local de Ação Climática (PLAC), que integra políticas de mitigação de gases de efeito estufa e adaptação às mudanças climáticas.

Além do PPA, os vereadores aprovaram outras proposições de destaque, como o Projeto de Lei Complementar nº 101/25, que altera o Programa de Incentivos Fiscais da Área Central (Procentro), e o Projeto de Lei nº 151/25, que proíbe o uso de medicamentos anticio em fêmeas caninas e felinas no município. Também foi aprovada a criação do Diploma de Mérito do Audiovisual “Irmãs Richerme”.

Já a proposta que institui o programa de microflorestas urbanas em Campinas, prevista no Projeto de Lei Complementar nº 32/25, foi adiada. O texto prevê a criação de áreas verdes compactas com adoção por empresas, escolas e cidadãos, e deve voltar à pauta nas próximas sessões.

Zema lidera evento do Novo em Campinas

O governador de Minas Gerais, Romeu Zema, será uma das principais atrações do encontro “O Brasil que queremos: Liberdade & Progresso”, promovido pelo Partido Novo nesta quinta-feira (30), das 19h às 22h, no Hotel Vitória Concept, em Campinas. [

Entre os participantes confirmados estão os deputados federais Ricardo Salles (SP), Marcel Van Hattem (RS) e Adriana Ventura (SP), além do ex-deputado Alexis Fonteyne e do cientista político Christian Lohbauer.

Com o slogan "Liberdade e Progresso", o evento pretende promover um espaço para diálogo direto com os eleitores, com possibilidade de perguntas, trocas de experiências e networking.

O endereço do encontro é Avenida José de Souza Campos, 425, no bairro Nova Campinas. Segundo a organização, o evento deve reunir apoiadores, militantes, empresários e interessados no projeto político do partido para 2026.

  • Flávio Paradella é jornalista, radialista e podcaster. Sua coluna é publicada no Portal Sampi Campinas aos sábados pela manhã, com atualizações às terças e quintas-feiras. E-mail para contato com o colunista: paradella@sampi.net.br.

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