A Câmara Municipal de Campinas encerra uma das semanas mais turbulentas do ano, marcada por uma sucessão de crises que colocaram o Legislativo, de novo, no centro das atenções — e não exatamente, mais uma vez, por boas razões. Em meio à nova investigação do Ministério Público sobre suposto esquema de “rachadinha” com emendas impositivas e à tentativa de abertura de uma Comissão Processante (CP) contra a vereadora Mariana Conti (PSOL), o que se viu foi uma casa mergulhada em confusão, vaidades e discursos vazios.
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Tudo começou com a revelação de que o Ministério Público abriu investigação para apurar desvio de recursos públicos de emendas impositivas destinadas à Irmandade de Misericórdia, entidade que administra a Santa Casa e o Hospital Irmão Penteado. A denúncia — feita por uma funcionária da própria Câmara — afirma que parte dos valores repassados à instituição teria sido devolvida a vereadores, em percentuais que variariam de 10% a 20%.
O dado mais explosivo: 27 parlamentares da Câmara destinaram verbas à Irmandade. A amplitude da denúncia gerou tensão imediata dentro do Legislativo e silêncio constrangedor entre os gabinetes. O Ministério Público recomendou a suspensão temporária dos repasses e iniciou a coleta de documento. A Prefeitura, por sua vez, cumpriu a recomendação e criou regras para a destinação de recursos via emendas, enquanto a Câmara limitou-se a dizer que “não foi citada”.
Em qualquer cenário, o dano político está feito e, novamente, a transparência cedeu lugar à opacidade.
Se o caso das emendas já deixava o Legislativo sob tensão, o ambiente pegou fogo de vez com a tentativa de abertura de uma Comissão Processante contra Mariana Conti. O pedido, de autoria do vereador Nelson Hossri (PSD), acusa a parlamentar de “violação à moralidade administrativa” por ter tirado licença não remunerada para integrar uma missão humanitária à Faixa de Gaza.
A denúncia, que beira o absurdo jurídico, foi praticamente desmontada pela Procuradoria Jurídica da própria Câmara, que reconheceu que o afastamento foi regular e previsto em lei. Ainda assim, o caso foi usado como palanque político. A sessão na qual seria feita a leitura do pedido virou um espetáculo de hostilidade: militantes da esquerda ocuparam o plenário e provocaram parlamentares da direita, que reagiram com ironias e gritos. O resultado foi um show de imaturidade — uma guerra de egos travestida de debate político. No fim das contas, a tal CP só vai ser avaliada no fim do mês, pois Mariana segue licenciada.
A soma dos episódios mostra um Legislativo em crise constante de identidade. A Câmara perdeu de vista seu papel institucional e vive imersa em um ambiente de polarização permanente, onde cada grupo atua para sua plateia digital.
Enquanto isso, as CPs viraram brinquedo político e as emendas, um campo minado de interesses.
A metáfora é inevitável: se o Oriente Médio acaba de ensaiar um cessar-fogo entre Israel e o Hamas, em Campinas o clima ainda é de bombardeio político diário. E, ao contrário da diplomacia internacional, ninguém parece disposto a negociar a paz.
Apoio a mães de crianças com TEA
A Câmara Municipal de Campinas votará, em primeiro turno, nesta segunda-feira (13), o Projeto de Lei nº 125/2024, de autoria do vereador Guilherme Teixeira (PL). A proposta assegura prioridade no atendimento psicossocial e em serviços de segurança para mães de filhos com Transtorno do Espectro Autista (TEA).
De acordo com o texto, a medida busca oferecer suporte emocional e terapêutico a mulheres que enfrentam uma rotina exaustiva no cuidado diário de crianças com autismo. O atendimento prioritário será prestado nas unidades de saúde do município, com o objetivo de promover saúde mental e bem-estar das mães, muitas vezes sobrecarregadas e com pouco tempo para cuidar de si mesmas.
O projeto também prevê a possibilidade de atendimentos por videoconferência, destinados a casos em que a mãe tenha dificuldade de locomoção devido ao grau de autismo do filho. O serviço poderá ser solicitado em uma Unidade Básica de Saúde (UBS), garantindo acompanhamento remoto com médicos, psicólogos, terapeutas e assistentes sociais.
Para o autor da proposta, vereador Guilherme Teixeira, a iniciativa é uma forma de reconhecimento e apoio às chamadas “mães atípicas”. “Garantir apoio psicossocial é fundamental para fortalecer essas mulheres, que enfrentam diariamente desafios emocionais e sociais no cuidado de seus filhos”, afirmou.
A sessão será realizada a partir das 18h, no plenário da Câmara Municipal de Campinas.
Irmão de Bolsonaro em Campinas

Divulgação
O empresário Renato Antônio Bolsonaro (PL), irmão do ex-presidente Jair Bolsonaro, estará em Campinas nesta segunda-feira (13) a convite da vereadora Débora Palermo (PL). A visita integra a agenda de pré-campanha de Renato, que foi lançado pelo partido como pré-candidato a deputado federal para ocupar a vaga deixada por Eduardo Bolsonaro, atualmente fora do país e que não deverá disputar a reeleição em 2026. O parlamentar e filho de Bolsonaro mora nos Estados Unidos desde março e já disse que não tem intenção de voltar ao Brasil nos próximos meses.
A agenda será coordenada pela vereadora Débora Palermo e prevê visitas a instituições filantrópicas, além de encontros com lideranças locais e comunidades. Os compromissos ocorrerão na parte da manhã e após as 17h.
Renato Bolsonaro, 61 anos, nasceu em Jundiaí, mas se fixou no Vale do Ribeira, onde tem atuação política. Entre 2013 e 2016, trabalhou como assessor do deputado estadual André do Prado (PL), atual presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp). Foi também um dos principais articuladores políticos de Jair Bolsonaro na região. Em 1996, Renato foi eleito vereador em Praia Grande, na Baixada Santista, pelo então PMDB. Agora, seu nome surge como uma das apostas do Partido Liberal (PL) para tentar manter a influência da família Bolsonaro no Congresso Nacional.
- Flávio Paradella é jornalista, radialista e podcaster. Sua coluna é publicada no Portal Sampi Campinas aos sábados pela manhã, com atualizações às terças e quintas-feiras. E-mail para contato com o colunista: paradella@sampi.net.br.