SEGURANÇA VIÁRIA

Pesquisa revela alta nas mortes no trânsito em plena pandemia

Por Flávio Paradella | Especial para a Sampi Campinas
| Tempo de leitura: 2 min
Divulgação/PMC
Estudo da Unicamp mostra que, mesmo com ruas mais vazias durante a pandemia, a taxa de mortalidade no trânsito de Campinas subiu.
Estudo da Unicamp mostra que, mesmo com ruas mais vazias durante a pandemia, a taxa de mortalidade no trânsito de Campinas subiu.

Um estudo realizado na Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp revelou um paradoxo preocupante no trânsito de Campinas durante a pandemia de Covid-19. Apesar da queda de 32% no fluxo de veículos entre 2019 e 2023, a taxa de mortalidade aumentou de 10,46 para 13,76 por 100 mil habitantes, e a frequência de acidentes fatais passou de uma morte a cada 2,9 dias para uma a cada dois dias.

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A pesquisa de doutorado de Vitor Favali Kruger, orientada pelo professor Gustavo Pereira Fraga, foi defendida em agosto e recebeu o título “O Paradoxo da Pandemia: Tendências da Mortalidade no Trânsito durante a COVID-19 em Campinas”. O levantamento analisou quase 18 mil acidentes e identificou que comportamentos de risco consolidados no período pandêmico permaneceram após o fim das restrições, criando um “novo normal” de insegurança viária.

Segundo Kruger, “a redução do tráfego conduziu a um aumento da mortalidade. Comportamentos de risco estabelecidos durante a pandemia tornaram-se permanentes ao invés de temporários, afetando particularmente motociclistas jovens do sexo masculino”.

Motociclistas, os mais vulneráveis


Divulgação/PMC

O levantamento mostrou que os motociclistas foram os mais afetados: 43,1% das mortes no trânsito entre 2019 e 2023, percentual que subiu para 47% no período pós-pandemia. Esse aumento acompanha o crescimento de 15,6% da frota de motos em Campinas, impulsionado pelo avanço dos serviços de delivery e pela busca por transporte individual durante a crise sanitária.

O professor Gustavo Pereira Fraga destacou que a combinação de álcool, direção noturna e excesso de velocidade foi decisiva para o aumento das mortes. “As ruas mais vazias, que deveriam ser mais seguras, encorajaram excessos. O maior risco emergiu da combinação entre consumo de álcool e direção noturna, uma tríade letal que amplifica sinergicamente os sinistros fatais”, afirmou.

De acordo com a análise estatística, dirigir sob efeito de álcool à noite aumentou em 120% as chances de um acidente ser fatal, enquanto a direção noturna isolada elevou o risco em 72%. O estudo também confirmou que homens jovens continuam sendo o grupo mais suscetível a mortes no trânsito, repetindo a tendência observada em levantamentos internacionais.

Para os pesquisadores, os resultados devem servir de base para políticas públicas. Kruger defendeu ações específicas: “Esta pesquisa é um catalisador para o engajamento de médicos e profissionais de saúde no enfrentamento da mortalidade no trânsito, uma questão que é, fundamentalmente, de saúde pública. Precisamos de intervenções como fiscalização noturna estratégica e reformulação na formação dos motociclistas profissionais”, concluiu.

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