POLÍTICA

Flávio Paradella: A distância da educação

Por Flávio Paradella | Especial para a Sampi Campinas
| Tempo de leitura: 6 min
Reprodução/Redes Sociais
Alunos da EMEF Padre Leão Vallerié viajam 50 km por dia para ter aulas em escola privada, após início de reforma da unidade no Parque Valença.
Alunos da EMEF Padre Leão Vallerié viajam 50 km por dia para ter aulas em escola privada, após início de reforma da unidade no Parque Valença.

A polêmica envolvendo a EMEF Padre Leão Vallerié, no Parque Valença, transformou-se em um dos episódios mais constrangedores da gestão do prefeito Dário Saadi. Com a reforma da escola, mais de 800 estudantes do 1º ao 9º ano do Ensino Fundamental foram transferidos para a Escola Fitel, na região dos Amarais. O resultado tem sido um desgaste diário: cerca de 50 quilômetros de deslocamento e a perda de até duas aulas por dia, em razão do trânsito.

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A situação, claro, gerou revolta entre pais e responsáveis e levou o Ministério Público a abrir um inquérito civil público, conduzido pelo promotor Rodrigo Augusto de Oliveira, da Infância e Juventude. Em reunião de mediação com representantes da Prefeitura, do Conselho Tutelar e vereadores, o encontro evidenciou a insatisfação das famílias, que questionaram tanto a logística quanto a infraestrutura do Terminal Campo Grande, usado como ponto de embarque e desembarque dos alunos.

As mães criticaram ainda a proposta de reposição de aulas aos sábados, vista como insuficiente diante do cansaço físico e psicológico dos estudantes. Gemte, não basta o deslocamento diário, os estudantes ainda vão perder um dia de folga no final de semana por uma questão estrutural.

Durante a reunião, o MP determinou que os pais terão direito a duas visitas à Escola Fitel, para acompanhar de perto as condições da nova unidade. A Prefeitura sustenta que a estrutura da Fitel não é inferior à da Padre Leão Vallerié, mas o argumento não convenceu os pais a aceitarem a situação, que reclamam da perda pedagógica e da sobrecarga diária das crianças.

Politicamente, o episódio gerou desgaste ao Executivo, que já vinha acumulando críticas em outras medidas tomadas em unidades escolares, e colocou o governo na mira da oposição e do próprio Ministério Público.

O imbróglio expõe falhas de planejamento da Secretaria de Educação, que não conseguiu apresentar alternativa menos traumática para a comunidade escolar. Fica a impressão de que faltou alguém para apontar, desde o início, que a decisão seria desastrosa. Sabe, aquele ‘anjinho amigo’ no ombro para falar: “isso vai dar problema”. O caso mostra como uma escolha administrativa mal avaliada pode se transformar em crise política e social de grandes proporções.

Falha no trato


Divulgação/CMC

O caso da EMEF Padre Leão Vallerié, em Campinas, não apenas gerou desgaste à Prefeitura pelo deslocamento forçado de mais de 800 alunos, mas também expôs a falta de tato político da base governista na Câmara. Como era previsível, pais e responsáveis ocuparam o plenário para cobrar soluções. Afinal, o Legislativo é o espaço natural para protestos populares, e justamente os aliados do prefeito são quem têm portas abertas no Quarto Andar para buscar encaminhamentos.

No entanto, o episódio ganhou contornos de crise quando o vereador Benê Lima (PL), incomodado com as manifestações, resolveu ironizar os pais presentes. A reação foi imediata: o parlamentar virou alvo de duras críticas, sobretudo da oposição, e precisou se justificar dizendo que sua fala não se referia às famílias, mas a supostos “militantes do PT” que estariam engrossando o protesto. A tentativa de explicação, porém, apenas reforçou a percepção de despreparo para lidar com uma situação tão delicada.

O contraste veio da postura do vice-prefeito e secretário de Relações Institucionais, Wanderley de Almeida, o Wandão (PSB). Em visita à região do Campo Grande, ele foi abordado por pais e alunos da escola afetada. Em vez de tensionar, buscou o diálogo: ouviu as reivindicações e registrou nas redes sociais que levaria as demandas ao prefeito Dário Saadi. O gesto simples e de moderação mostrou a diferença entre um novato bolsonarista em rota de atrito e um político experiente, acostumado a lidar com pressões e a absorver desgastes em nome da gestão.

O episódio deixa claro que, para além do problema estrutural da Educação, o governo Dário enfrenta um teste político. A base aliada precisa escolher entre o embate improdutivo ou a construção de soluções junto à população, sob risco de deixar ainda mais espaço para a oposição capitalizar o descontentamento popular.

Galeria das Vereadoras


Divulgação/CMC

A Galeria das Vereadoras da Câmara de Campinas foi atualizada nesta segunda-feira (15) com as fotos de Debora Palermo (PL), Guida Calixto (PT) e Paolla Miguel (PT), referentes ao mandato 2021-2024. Com a inclusão, o espaço passa a contar com 18 mulheres registradas na história do Legislativo.

O presidente da Câmara, Luiz Rossini (Republicanos), destacou o simbolismo da galeria: “Esse é um registro histórico que mostra as mulheres que contribuíram para a política de Campinas”.

As novas integrantes também ressaltaram a importância da representatividade. Debora Palermo afirmou que sonha com o dia em que não será necessário um espaço exclusivo, porque as mulheres estarão em todos os lugares de poder. Guida Calixto, uma das poucas vereadoras negras da cidade, lembrou das pioneiras que abriram caminhos. Já Paolla Miguel, a primeira vereadora LGBT assumida, homenageou sua mãe durante a cerimônia e destacou a responsabilidade de abrir espaço para novas gerações.

A galeria tem registros desde 1948, quando Vera Pinto Teles se tornou a primeira mulher a ocupar uma cadeira no Legislativo após o Estado Novo. Já a primeira eleita por voto direto foi Enéa Caldato Raphaelli, com mandato entre 1969 e 1972.

Dia de São Carlo Acutis


Divulgação

Um projeto de lei do deputado estadual Rafa Zimbaldi (Cidadania-SP) quer instituir em São Paulo o Dia de São Carlo Acutis – Padroeiro da Internet e Anjo da Juventude, a ser celebrado em 12 de outubro. A proposta, protocolada na Assembleia Legislativa (Alesp), busca unir a homenagem ao jovem italiano canonizado neste mês pelo papa Leão 14 com ações de conscientização sobre segurança digital de crianças e adolescentes.

O texto PL 941/2025 prevê que escolas e entidades civis desenvolvam atividades educativas voltadas aos riscos do ambiente virtual, como cyberbullying, exploração sexual, aliciamento e automutilação. A escolha da data tem duplo simbolismo: coincide com a morte de Carlo Acutis, em 2006, aos 15 anos, e com o Dia de Nossa Senhora Aparecida e o Dia das Crianças no Brasil.

Zimbaldi é autor e coordenador da Frente Parlamentar de Combate à Violência em Ambiente Digital contra Crianças e Adolescentes, criada em junho deste ano. Segundo o deputado, a homenagem a Carlo Acutis, conhecido como “influencer de Deus”, é também um marco preventivo:
“Reconhecer a importância histórica e divina de Carlo Acutis e, ao mesmo tempo, estabelecer um marco de reflexão e mobilização social em favor da infância e da juventude é homenagem mais que justa”, defendeu.

O projeto será analisado pelas comissões da Alesp antes de ir ao plenário.

Obrigado

Gostaria de registrar neste espaço a minha sincera gratidão pelo carinho dos leitores e de tantos amigos durante este período de ausência. O procedimento cirúrgico pelo qual minha esposa passou, embora delicado, foi um sucesso, e ela já está em processo de recuperação. Agora é tempo de calma, paciência e resiliência para que tudo retome o curso normal, no ritmo certo.

Agradeço de coração à equipe de direção do Portal Sampi Campinas, em especial à Denise Silva e ao CEO Correa Neves Jr., pelo apoio constante. E estendo minha gratidão a todos que enviaram orações e pensamentos positivos — cada gesto fez diferença.

A coluna está de volta.

  • Flávio Paradella é jornalista, radialista e podcaster. Sua coluna é publicada no Portal Sampi Campinas aos sábados pela manhã, com atualizações às terças e quintas-feiras. E-mail para contato com o colunista: paradella@sampi.net.br.

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