O vereador Vini Oliveira (Cidadania) retomou o seu estilo: vídeos duros e voltou a ofensiva contra a administração municipal. Depois de meses de baixa exposição, desde o processo que quase levou à sua cassação no primeiro semestre, o parlamentar retornou com o tom mais agressivo e divulgou nas redes sociais denúncias sobre a reforma do Mercado Municipal de Campinas.
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A manifestação ocorre menos de três semanas após o prefeito Dário Saadi (Republicanos) convocar a imprensa para anunciar a entrega da parte da obra sob responsabilidade da Prefeitura, em 31 de julho. Na ocasião, o prefeito afirmou que a estrutura principal estava finalizada e que caberia aos permissionários adequar os boxes. No entanto, Vini rebateu: “Mentiram pra você, e estou aqui desmentindo mais uma vez. Para você que acha que o Mercadão foi entregue, você está muito enganado”, declarou.
No vídeo, o vereador apontou uma série de problemas estruturais: buracos com encanamentos expostos, falta de acabamento, ralos sem grade, infiltrações e ausência de sistema de escoamento no mezanino recém-criado. Segundo ele, parte dos trabalhos já precisou ser refeito. “Dinheiro seu jogado no lixo. Faz de forma equivocada, mal feita, burra, incompetente”, criticou.
Além das falhas na construção, Vini relatou situações de risco. “Eu caí dentro desse banheiro aqui, olha. E a água foi tudo em direção ao elevador. O que você vai fazer aqui? Tem como arrumar essa situação? Não tem”, disse, reforçando que o problema ameaça a segurança dos frequentadores.
O parlamentar também destacou o impacto sobre os permissionários, que desde 2023 atuam em tendas improvisadas. “Uma obra feita de um jeito ruim, incompetente, irresponsável, que prejudica todos os permissionários. Inclusive, têm que arcar com o próprio bolso, e no futuro vão sair prejudicados”, afirmou.
Em sua avaliação, a maior responsabilidade recai sobre a empresa contratada. “O principal culpado não é nem o prefeito, é a empreiteira, a construtora, que vem aqui e faz essa façanha”, declarou. Segundo o vereador, requerimentos já foram protocolados na Prefeitura cobrando esclarecimentos, e ele prometeu manter a fiscalização. “Isso é o que a Globo não mostra”, concluiu.
O retorno de Vini marca a retomada de sua estratégia de enfrentamento, justamente em uma obra simbólica para o governo Dário Saadi. A reabertura do Mercadão, que deveria representar a conclusão de um ciclo de transtornos para comerciantes e consumidores, acabou ganhando um novo capítulo de embate político.
Não é bem assim
A coluna buscou a Prefeitura de Campinas que enviou a seguinte nota:
A Secretaria de Infraestrutura informa que as obras estruturais do Mercadão foram entregues e agora os permissionários estão na fase de adequações nos boxes antes de fazer a mudança.
Porém, para que estas adaptações sejam realizadas, é preciso fazer algumas intervenções na parte externa para que estruturas fiquem de acordo com as novas redes de eletricidade, de água e esgoto.
Quando estes trabalhos forem concluídos, a Prefeitura vai finalizar com o acabamento necessário. Por exemplo, uma das imagens mostra a falta de uma grelha. Esta estrutura não foi colocada porque é preciso que os permissionários terminem os reparos internos. Também durante as intervenções dos permissionários ocorreram alguns vazamentos e os reparos estão sendo realizados. Ainda foi preciso abrir pontos na área externa para ligação de água em alguns boxes, ação também em andamento e que terá o acabamento necessário antes da reabertura.
A Setec – Serviços Técnicos Gerais, autarquia responsável pela administração do espaço, acompanha todo o processo e reitera que as questões apontadas são esperadas após uma reforma de grande porte e que foi realizada com a atividade comercial do Mercadão em pleno funcionamento. O cronograma de reabertura com o atendimento aos clientes dentro do Mercadão revitalizado está mantido. Essa foi a primeira reforma de grande impacto realizada no prédio que teve a estrutura integralmente revitalizada com todo o cuidado que um espaço tombado requer.
Vitrine de narrativas
Divulgação/PMC
Quando o “filho é bonito”, aparecem vários pais – e até alguns padrastos. A inauguração do Hospital da Mulher de Campinas, oficialmente chamado de Centro de Referência de Assistência Integral à Mulher (Craim), mostrou bem esse fenômeno. O projeto nasceu ainda no primeiro mandato do prefeito Dário Saadi (Republicanos) e ganhou fôlego com R$ 5 milhões repassados pelo Governo Federal, via Ministério da Saúde, e contrapartida municipal de R$ 1,5 milhão. Resultado: um evento lotado de políticos de diferentes espectros e, sobretudo, de narrativas concorrentes.
O ministro Alexandre Padilha (PT) aproveitou a visita para gravar com personagens da oposição, que venderam a unidade como “obra do governo Lula”. Para quem vive em bolhas políticas, a mensagem pode colar. Mas, para um público mais amplo, fica um incômodo de hipocrisia: trata-se de um projeto municipal, assim como será estadual, se um dia sair do papel, o prometido Hospital Metropolitano. A apropriação de paternidade em grandes obras é prática antiga e mostra apenas que diálogo institucional ainda é artigo raro na política brasileira.
Apesar da disputa de narrativas, chamou atenção o tom moderado dos dois personagens centrais: Dário Saadi e Alexandre Padilha. A leitura feita por uma analista política experiente foi de uma certa surpresa: ambos discursaram com cordialidade, focando mais no serviço à população e nada de acenos duros contra adversários. Um sinal dos tempos em que a moderação, cada vez mais rara, vira destaque.
O Craim, construído na Avenida das Amoreiras, terá capacidade para 250 atendimentos diários e funcionará exclusivamente para mulheres de Campinas, mediante encaminhamento dos 69 centros de saúde da cidade. Com cerca de 50 profissionais, a unidade vai oferecer especialidades como ginecologia, mastologia, oncologia, fisioterapia e pré-natal de alto risco. A inauguração ocorre com atraso – a entrega era prevista para dezembro de 2024 –, adiada para ajustes técnicos.
Padilha ainda participou da cerimônia do início das obras do Centro de Saúde Boa Esperança, no Jardim Flamboyant, em um momento simbólico: familiares do médico Flávio de Sá, que dá nome à unidade, espalharam suas cinzas no terreno.
O saldo do evento é duplo. De um lado, a disputa política previsível pela autoria de uma obra de impacto. De outro, a surpresa de que, em meio à polarização crônica, prefeito e ministro escolheram a moderação como caminho. Talvez este seja o verdadeiro recado do dia.
- Flávio Paradella é jornalista, radialista e podcaster. Sua coluna é publicada no Portal Sampi Campinas aos sábados pela manhã, com atualizações às terças e quintas-feiras. E-mail para contato com o colunista: paradella@sampi.net.br.