POLÍTICA

Flávio Paradella: Pauta morna vira ringue na Câmara

Por Flávio Paradella | Especial para a Sampi Campinas
| Tempo de leitura: 4 min
Divulgação/CMC
Discussão sobre farmácias de Centros de Saúde acendeu ânimos e mostrou como a falta de diálogo ainda marca o Legislativo campineiro.
Discussão sobre farmácias de Centros de Saúde acendeu ânimos e mostrou como a falta de diálogo ainda marca o Legislativo campineiro.

Na 46ª Reunião Ordinária da Câmara de Campinas, realizada nesta segunda-feira (18), a pauta indicava um ritmo sem grandes sobressaltos. Porém, a votação de um projeto aparentemente óbvio transformou o plenário em palco de mais um embate verbal que expôs a dificuldade de diálogo entre os parlamentares.

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A proposta de Nick Schneider (PL), que obriga as farmácias dos Centros de Saúde (CSs) a seguirem o mesmo horário de funcionamento das unidades, parecia consensual: o paciente que sai da consulta deveria ter direito de retirar o medicamento no mesmo momento. Nada mais lógico. Mas a discussão desviou para quem deveria responder caso o atendimento não fosse cumprido: o gestor da unidade ou a administração municipal.

O debate, legítimo em essência, rapidamente se transformou em troca de acusações e discursos carregados de adjetivos no púlpito, reforçando o tom beligerante que tem sido cada vez mais comum. Fora do plenário, as falas ganharam versões editadas e inflamadas nas redes sociais, ampliando ainda mais a polarização. Para quem acompanhou, o saldo foi de cansaço e a percepção de que a política local insiste em se manter no formato de campo de batalha permanente.

Além do projeto de Schneider, também foi aprovado em primeira discussão o substitutivo total de Rodrigo da Farmadic (União Brasil), que cria o Programa Farmácia Solidária. A proposta permitirá o licenciamento de farmácias para receber doações de medicamentos e produtos de saúde, incluindo amostras grátis, com distribuição gratuita à população sob supervisão farmacêutica.

Os dois projetos ainda precisam passar por segunda votação antes de seguirem para sanção do Executivo. Enquanto isso, fica a sensação de que, em Campinas, até o óbvio precisa ser disputado no grito.

Persona Non Grata


Bruno Peres/Agência Brasil

A Câmara Municipal de Campinas recebeu nesta segunda-feira (18) uma moção que declara o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, persona non grata na cidade. A proposta partiu do vereador Marcelo Silva (PP), que justificou o pedido como forma de protesto contra a atuação do magistrado em investigações que envolvem o ex-presidente Jair Bolsonaro.

O texto menciona ainda a chamada Lei Magnitsky, usada nos Estados Unidos para punir violações de direitos humanos e atos de corrupção, numa tentativa de dar peso internacional ao repúdio. Mas, no sistema da Casa, já consta um pedido de vistas — e, portanto, a moção está na gaveta.

A iniciativa é quase uma cópia da que ocorreu em Limeira, onde os vereadores chegaram a aprovar moção semelhante, mas recuaram e anularam a medida na sessão seguinte. Em Campinas, o movimento soa mais como tentativa de gerar engajamento em bolhas digitais do que como contribuição concreta para os problemas da cidade.

Seja qual for o destino da proposta, o fato é que nenhum efeito real será sentido pelo ministro. A ironia é inevitável: não há quem acredite que Alexandre de Moraes deixará de dormir tranquilo por conta do “poderoso repúdio” de um legislativo municipal. O que resta, para quem acompanha, é a sensação de tempo e energia desperdiçados em meio a tantos temas urgentes que poderiam ser alvo de repúdio prático — como as deficiências crônicas nos serviços públicos de Campinas.

Mais um ônibus vira cinzas


Divulgação/Guarda Municipal

Um ônibus da linha 391 (Nova Sousas) foi consumido pelo fogo na manhã desta terça-feira (19), na Vila Santana, em Sousas. O motorista percebeu o problema a tempo e conseguiu retirar os passageiros, que seguiram viagem em outro veículo disponibilizado pela concessionária. Ninguém se feriu.

O episódio poderia ser tratado como uma ocorrência isolada, mas não é. Vários ônibus do transporte coletivo municipal já pegaram fogo neste ano, evidenciando o estado precário da frota. O caso reacende o debate sobre segurança, confiabilidade e qualidade do sistema, justamente num momento em que a Prefeitura promete uma nova licitação para definir os rumos do transporte público.

Segundo a Emdec, o coletivo destruído havia passado por inspeção em agosto e estava aprovado, com nova vistoria prevista apenas para novembro. A empresa afirma que realiza checagens diárias e inspeções semestrais em mais de 840 itens, mas admite: o problema não é pontual, e sim estrutural. “A frota está envelhecida e precisa ser totalmente renovada”, reconheceu em nota.

Enquanto isso, o usuário segue refém de ônibus que podem parar ou até pegar fogo a qualquer momento. O episódio em Sousas expõe a contradição de uma cidade que investe em corredores exclusivos, mas mantém veículos em condições de desgaste, transformando uma simples viagem de manhã cedo em um risco para quem depende do transporte coletivo.

  • Flávio Paradella é jornalista, radialista e podcaster. Sua coluna é publicada no Portal Sampi Campinas aos sábados pela manhã, com atualizações às terças e quintas-feiras. E-mail para contato com o colunista: paradella@sampi.net.br.

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