Campinas oficializou nesta semana a posse de sua primeira secretária de Políticas para as Mulheres. Alessandra Herrmann, engenheira de formação e até então um nome fora do circuito político da cidade, assume o comando da nova pasta com o desafio de estruturar a secretaria e consolidar políticas públicas voltadas às mulheres. A indicação partiu do PL e contou com o respaldo direto da secretária estadual da Mulher, Valéria Bolsonaro, que acompanhou Alessandra em entrevista à Rádio Jovem Pan Campinas nesta sexta-feira (8).
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“Eu venho da iniciativa privada, sou engenheira de produção. Quando recebi esse convite, o que me motivou a aceitar foi acreditar que, pela primeira vez, eu poderia realmente fazer a diferença na vida das pessoas, principalmente das mulheres”, afirmou Alessandra, reconhecendo a surpresa com a nomeação. Ela é nora do ex-prefeito de Piracicaba e ex-deputado João Herrmann Neto, político influente da região, mas não tinha trajetória ativa na política local.
A criação da secretaria municipal atende a uma antiga demanda de movimentos sociais e, politicamente, também teve como objetivo ampliar o espaço do PL no primeiro escalão do governo municipal. O processo de escolha do nome, conduzido com discrição, foi longo. Valéria Bolsonaro explicou a confiança em Alessandra: “A gente está falando de uma mulher forte, que tem visão e adora um desafio. Para entrar nesse meio tem que gostar de desafio.”
Com a estrutura ainda em formação, a nova gestora terá como primeiro foco o enfrentamento à violência contra a mulher, além da articulação com outras secretarias. Alessandra defendeu uma atuação transversal: “A gente acredita que o combate à violência vai muito além das ações que hoje já existem. Precisamos da ajuda da saúde, da assistência social, do desenvolvimento. É saúde mental, autonomia financeira, é tudo isso junto.”
A secretária estadual, Valéria Bolsonaro, reforçou que o trabalho precisa envolver toda a sociedade: “Se a sociedade, se os pais não voltarem pra dentro das escolas pra conversar com os professores, nós não vamos conseguir a prevenção. A criança vê o pai batendo na mãe e depois repete o comportamento.”
Alessandra ressaltou ainda a importância de ampliar a divulgação dos serviços já existentes, como o CEAMO, a Casa da Mulher Campineira e os canais de acolhimento. Segundo ela, os atendimentos já realizados são volumosos e exigem equipe dimensionada corretamente. “São de 70 a 80 atendimentos por mês. E esse atendimento não é pontual, dura cerca de seis meses, o tempo de uma medida protetiva. Precisamos de servidoras com número adequado para garantir esse acompanhamento.”
A nova titular da pasta se disse disposta ao diálogo com todas as forças políticas. “Essa causa é tão nobre que foi aprovada quase unanimemente pela Câmara, inclusive pela oposição. Estou super aberta a escutar o que eles têm de ideias.”
Durante a conversa, também foi mencionado o papel da secretaria no fortalecimento do empreendedorismo feminino. Alessandra citou a Feira da Mulher Empreendedora, que já conta com mais de 7 mil mulheres cadastradas, além de parcerias com a iniciativa privada para impulsionar autonomia financeira e inclusão.
Valéria Bolsonaro: 'O Brasil virou chacota'

Divulgação/Jovem Pan Campinas
Na mesma entrevista, a secretária estadual de Políticas para as Mulheres e líder do PL em São Paulo, Valéria Bolsonaro, fez duras críticas ao atual cenário político nacional durante. Em tom de indignação, ela reagiu à decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, que determinou prisão domiciliar para o ex-presidente Jair Bolsonaro, seu aliado político e principal nome do partido.
“Chegou num ponto que a gente não sabe mais onde a gente está”, afirmou. A declaração foi feita ao comentar o clima hostil que tomou conta de Brasília na semana, marcada por agressões no plenário da Câmara dos Deputados e mobilização da bancada bolsonarista contra decisões do Judiciário.
Valéria apontou que a crise institucional está concentrada em torno de um único personagem. “Na minha visão, tudo está concentrado numa única pessoa que está transformando o Brasil num caos. Uma pessoa que não teve um voto está transformando o país num caos, está dobrando todas as apostas”, disse, em referência ao ministro Alexandre de Moraes, embora sem citá-lo diretamente.
A secretária estadual também classificou a prisão domiciliar de Bolsonaro como injustificável: “Agora, uma prisão domiciliar baseada no quê? Em que condenação? Do que nós estamos falando?” E acrescentou que o caso representa “uma perseguição absurda”, que estaria afetando emocionalmente toda a família do ex-presidente.
“Quando a gente fala de violência psicológica, o que está acontecendo hoje no nosso país é uma violência psicológica numa família inteira. No pai, na mãe, nos filhos. A esposa a todo momento preocupada, a mãe dos filhos a todo momento preocupada. Isso não é tortura?”, questionou.
Em meio à escalada de tensão em Brasília, Valéria fez um alerta sobre o impacto institucional e político da crise. “O nosso governo federal já virou chacota para o mundo. Você tem uma única pessoa que está nesse firme propósito de destruição, não de uma pessoa, mas de várias. Quer alcançar todos os filhos.”
Líder estadual do partido de Bolsonaro, Valéria destacou ainda que o ano de 2026 será crucial para o Brasil: “Meu questionamento é: o que a população está enxergando? Qual é a visão da população sobre isso? Porque o ano que vem nós temos a nossa eleição.”
A fala da secretária ocorre em um momento em que o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), aliado de Bolsonaro e chefe de Valéria no governo estadual, adota postura mais moderada diante da crise. Tarcísio, que pode ser uma alternativa como nome da direita para 2026, vem equilibrando a relação com o STF ao mesmo tempo em que mantém laços fortes com o bolsonarismo.
Mamãe Falei x Mariana Conti

Reprodução/Redes Sociais
A Justiça de São Paulo negou o pedido de indenização por danos morais feito por Arthur do Val, ex-deputado estadual, contra a vereadora campineira Mariana Conti (PSOL). A decisão foi assinada pela juíza Gabriela Afonso Adamo Ohanian, da 2ª Vara do Juizado Especial Cível, e publicada no dia 23 de julho.
A ação movida por Arthur, conhecido como “Mamãe Falei”, tinha como base publicações feitas por Mariana nas redes sociais, nas quais ela criticava duramente a conduta do ex-parlamentar. As declarações surgiram após um episódio ocorrido em maio de 2023, quando Arthur esteve na ocupação Maria Lúcia Petit Vive, em Campinas, onde moram mulheres vítimas de violência.
Na ocasião, Arthur tentou acessar o espaço e discutiu com militantes, além de retirar faixas e fazer acusações contra o movimento. Mariana foi chamada pelas ocupantes, compareceu ao local e, segundo relatos, também acabou sendo alvo de provocações. Um boletim de ocorrência foi registrado por ela na Delegacia da Mulher.
Em resposta ao ocorrido, a vereadora publicou textos nas redes sociais nos quais classificava Arthur como “explorador sexual” e lembrava sua cassação pela Alesp, em 2022, após o vazamento de áudios com conteúdo sexista sobre mulheres ucranianas. O ex-deputado pediu R$ 50 mil de indenização, alegando que as afirmações atingiram sua honra.
Na sentença, a juíza destacou que, embora firmes e até duras, as críticas de Mariana não ultrapassaram os limites legais. Segundo a decisão, as manifestações devem ser interpretadas como parte do debate público, sobretudo porque envolvem duas figuras conhecidas e uma questão de interesse coletivo. Ela também ponderou que a atuação provocadora de Arthur no local contribuiu para o ambiente de conflito e que, portanto, o contexto precisava ser considerado.
A decisão apontou ainda que não houve incitação à violência por parte da vereadora e que seu posicionamento estava vinculado ao exercício de sua função pública e do direito à manifestação.
Arthur do Val informou que vai recorrer e acusa a magistrada de agir com parcialidade.
- Flávio Paradella é jornalista, radialista e podcaster. Sua coluna é publicada no Portal Sampi Campinas aos sábados pela manhã, com atualizações às terças e quintas-feiras. E-mail para contato com o colunista: paradella@sampi.net.br.