Com a entrega do Centro de Convivência Cultural finalmente realizada, os olhares — e as cobranças — agora se voltam para outro símbolo histórico da cidade: o Mercado Municipal de Campinas, o Mercadão. E a situação, mais uma vez, é de frustração. A obra de revitalização, que já se arrasta por tempo demais, tem um novo prazo: até o fim deste mês de julho. Só que o histórico de promessas não cumpridas faz com que o "em breve" soe mais como esperança do que como previsão concreta.
- Clique aqui para fazer parte da comunidade da Sampi Campinas no WhatsApp e receber notícias em primeira mão.
O prédio, fundado há mais de um século, é parte viva da identidade de Campinas. Mas, desde julho de 2023, seus permissionários estão alocados em tendas provisórias, sofrendo com queda nas vendas, calor, estrutura precária e perda de freguesia. E o que era para ser uma obra de 12 meses se tornou um processo penoso, repleto de obstáculos técnicos e administrativos.
A Prefeitura atribui o atraso a uma soma de fatores: mudanças no projeto de drenagem, ajustes estruturais por causa do solo encharcado — "quem conhece sabe que ali é brejo", repetiu o prefeito Dário Saadi na série de entrevistas que concedeu nesta segunda-feira — e, também, às cerca de 97 reformas internas feitas individualmente pelos permissionários. De fato, trata-se de uma obra complexa. Mas a falta de previsibilidade e a condução pouco eficiente do cronograma tornam ainda mais evidente a dificuldade que a cidade enfrenta para lidar com projetos públicos de infraestrutura.
A promessa agora é de que a reforma está em sua fase final, e que a nova estrutura trará um Mercadão mais moderno, com acessibilidade, segurança, conforto e preservação histórica. Tomara. Porque, para quem depende dali para viver, o tempo já custou demais.
O Mercadão, que deveria ser um centro de referência comercial e turística, virou um ponto de desgaste e incerteza. Campinas precisa recuperar seus espaços simbólicos — e, mais que isso, cumprir prazos. Já passou da hora.
Nem o recesso esfria as polêmicas

Divulgação/CMC
A Câmara de Campinas entrou em recesso formal, mas o comportamento de seus membros segue em evidência. Enquanto os trabalhos legislativos estão temporariamente suspensos, o noticiário segue alimentado por episódios envolvendo vereadores da cidade, seja por iniciativas polêmicas ou por confusões fora do Plenário.
Neste fim de semana, o vereador Otto Alejandro (PL) foi citado em um boletim de ocorrência por suposta ameaça, dano ao patrimônio e agressão verbal, após um tumulto ocorrido durante o embarque de passageiros em um ônibus intermunicipal, na Avenida Francisco Glicério. Segundo relato do motorista, um homem exaltado, que se apresentou como Otto e afirmava ser político em Campinas, jogou uma pedra no ônibus, quebrando o vidro traseiro, e ainda teria ameaçado o condutor de morte. O suposto agressor também danificou o celular da vítima e demonstrava sinais de embriaguez.
A Guarda Municipal foi acionada por testemunhas e conduziu os envolvidos ao plantão policial. No entanto, o vereador nega envolvimento. A Polícia Civil abriu inquérito e vai analisar laudos periciais para esclarecer o episódio.
Já no campo ideológico, o vereador Vini Oliveira (Republicanos) protagonizou mais um embate político ao apresentar um projeto de lei que proíbe atletas transexuais de competirem em modalidades que não correspondam ao sexo biológico de nascimento. A proposta, que prevê sanções a clubes, federações e até órgãos públicos, acirrou o debate sobre direitos civis e identidade de gênero na cidade.
Vini justificou a proposta alegando defesa da “equidade esportiva” e negou qualquer ato de preconceito. Entretanto, o Partido dos Trabalhadores (PT) reagiu com veemência, classificando o texto como transfóbico e anunciando uma representação ao Ministério Público. Em resposta, o vereador acusou os opositores de “buscarem holofotes” e afirmou que está sendo atacado injustamente.
Enquanto a cidade enfrenta desafios concretos — como saúde em crise, a precariedade no transporte público e o atraso em obras históricas —, a Câmara se vê novamente mergulhada em disputas pessoais, ideológicas e incidentes que colocam em xeque o comportamento de seus integrantes. O recesso, que deveria ser momento de respiro, virou apenas um intervalo sem Plenário — mas não sem barulho.
A dança

Reprodução/Redes Sociais
Enquanto a Câmara Municipal de Campinas enfrenta um recesso recheado de turbulências políticas, um episódio chamou a atenção durante a solenidade dos 251 anos da cidade, realizada no Paço Municipal. Em meio a denúncias, investigações, projetos polêmicos e ocorrências envolvendo parlamentares, os vereadores Rubens Gás e Ailton da Farmácia, ambos do PSB, protagonizaram uma cena que virou assunto nos bastidores — e nas redes.
Durante a comemoração oficial, realizada na escadaria da Prefeitura, um momento de música sertaneja animou parte dos presentes. Foi então que Rubens e Ailton, entre sorrisos e clima descontraído, entraram no ritmo do modão e iniciaram uma dança improvisada, que foi rapidamente registrada por celulares e circulou entre funcionários e convidados. O detalhe: Ailton da Farmácia acaba de retornar à Câmara como suplente, ocupando a cadeira deixada por Zé Carlos (PSB), que renunciou ao mandato após confessar ao Ministério Público um pedido de propina.
A imagem da dança pode até parecer inofensiva, mas não passou despercebida diante do contexto político atual. Em um momento em que o Legislativo municipal lida com desgastes graves à sua imagem, o gesto foi lido por muitos como dissonante da realidade da Casa e da cidade.
Mais do que a dança, o episódio revela a desconexão entre a crise institucional da Câmara e o comportamento de alguns de seus integrantes. Há quem veja ali apenas leveza diante da solenidade, mas há também quem enxergue um gesto simbólico de indiferença ao momento crítico enfrentado pelo Legislativo.
Fato é que, enquanto alguns dançam, a Câmara segue imersa em questionamentos sobre decoro, representatividade e prioridades públicas.
- Flávio Paradella é jornalista, radialista e podcaster. Sua coluna é publicada no Portal Sampi Campinas aos sábados pela manhã, com atualizações às terças e quintas-feiras. E-mail para contato com o colunista: paradella@sampi.net.br.