O anúncio do presidente Donald Trump sobre a nova tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, a mais alta entre as 22 nações listadas até agora, gerou, no primeiro momento, um surto de indignação no campo bolsonarista, que não perdeu tempo em atribuir a culpa ao governo Lula.
- Clique aqui para fazer parte da comunidade da Sampi Campinas no WhatsApp e receber notícias em primeira mão.
Mas bastou o conteúdo da carta de Trump ao presidente Lula vir à tona para desmontar esse discurso. Na correspondência oficial, Trump cita diretamente Jair Bolsonaro e classifica como “vergonha internacional” o julgamento do ex-presidente brasileiro pelo Supremo Tribunal Federal. Com isso, o gesto dos EUA, longe de ser uma retaliação à política econômica ou diplomática de Lula, ganha o contorno claro de vendeta pessoal, articulada por aliados bolsonaristas nos bastidores.
Em vez de ser uma reprimenda ao atual governo, a sanção comercial soa como uma reação atravessada de Trump em defesa de Bolsonaro, misturando política interna dos Estados Unidos com o processo judicial brasileiro de 8 de janeiro de 2023. A carta, inclusive, acusa o Brasil — sem qualquer comprovação — de minar eleições livres e violar a liberdade de expressão dos americanos, numa salada de motivações ideológicas e pessoais que pouco têm a ver com comércio exterior.
A ironia está no fato de que essa atitude de Trump acabou desgastando ainda mais o bolsonarismo, que se vê agora encurralado por um gesto de seu principal aliado internacional. Foi a tentativa de proteger Bolsonaro que provocou prejuízo real ao Brasil, atingindo diversos setores da economia — com destaque para a siderurgia, já impactada por tarifas pré-existentes.
Do lado do Planalto, Lula respondeu com firmeza. Disse que o Brasil “não aceitará ser tutelado por ninguém” e prometeu medidas com base na Lei da Reciprocidade Econômica. O discurso do presidente foi pragmático, institucional, e reforçou a soberania do país frente à tentativa de intromissão em temas internos. Vai surtir algum efeito? Difícil prever, afinal a luta é entre um peso pesado contra um pena pena.
Se Trump quisesse usar o argumento da participação brasileira nos Brics ou o discurso de desdolarização global como pretexto, até haveria espaço para debate geopolítico. Mas, ao colocar Bolsonaro como protagonista da motivação da medida, Trump tirou a questão do campo da política internacional e a mergulhou no universo do revanchismo pessoal — e expôs, no processo, o custo da atabalhoada articulação bolsonarista para o país.
No fim das contas, as tarifas viraram um símbolo não da fraqueza de Lula, mas do preço que o Brasil começa a pagar por se deixar envolver em guerras políticas alheias — travadas em nome de um ex-presidente que, mesmo fora do poder, conseguiu causar estragos e não benefícios. A ver se Trump vai, mais uma vez, voltar atrás.
Protesto no Convivência

Flávio Paradella
Mesmo com a entrega oficial do Centro de Convivência Cultural Carlos Gomes, a polêmica sobre o cercamento do espaço segue mobilizando críticas. Grupos ligados à cultura e ao patrimônio histórico organizam um protesto neste sábado (12), dia marcado para a retomada das atividades artísticas no local.
A manifestação será realizada no entorno do Teatro de Arena Teresa Aguiar, onde a Orquestra Sinfônica de Campinas se apresenta às 18h em concerto gratuito. O evento cultural é o primeiro após a reabertura do complexo, que ficou cerca de 14 anos fechado.
Os manifestantes alegam que o gradil metálico instalado em torno da área externa compromete a estética do projeto original do arquiteto Fábio Penteado e afeta o caráter democrático do teatro aberto, tradicionalmente associado ao livre acesso da população.
Para os críticos da medida, faltou diálogo com a sociedade antes da execução da obra. Eles afirmam que o Teatro de Arena sempre foi um espaço simbólico de acesso livre à arte e que o cercamento representa um retrocesso no uso público do equipamento cultural.
A Prefeitura de Campinas, por sua vez, defende a medida como necessária para preservar a estrutura recém-reformada, que consumiu mais de R$ 62 milhões em recursos públicos. Segundo a gestão municipal, a instalação do gradil foi aprovada por unanimidade pelos órgãos de proteção ao patrimônio, como o Condepacc e tem anuência do Condephaat, e busca proteger o espaço de vandalismo e ocupações indevidas.
“Polêmica desnecessária”, diz Dário
Durante a entrega da obra, nesta quinta-feira (10), o prefeito Dário Saadi reafirmou que a área permanecerá sob gestão da Secretaria de Cultura e será aberta ao público diariamente, das 8h às 19h. Ele também reiterou que a proteção é uma medida de responsabilidade com o dinheiro público e com a integridade do complexo.
“É uma questão de preservação desse patrimônio que a cidade pediu tanto e, principalmente, ressaltar que ele vai ficar aberto durante o dia. A segurança do espaço não será apenas a noite com o fechamento, mas também com vigilantes que foram já adequados para esse fim. É uma polêmica desnecessária. A gente quer preservar esse patrimônio”, afirmou o prefeito.
A expectativa da Prefeitura é que o teatro interno volte a receber atividades culturais em fase de teste entre outubro e novembro, com ocupação plena prevista apenas para 2026. Até lá, a arena externa será o principal palco de atrações.
- Flávio Paradella é jornalista, radialista e podcaster. Sua coluna é publicada no Portal Sampi Campinas aos sábados pela manhã, com atualizações às terças e quintas-feiras. E-mail para contato com o colunista: paradella@sampi.net.br.