POLÍTICA

Flávio Paradella: A moralidade momentânea do legislativo

Por Flávio Paradella | Especial para a Sampi Campinas
| Tempo de leitura: 4 min
Divulgação/CMC
Depoimento de Vini expõe contradições da Câmara;  julgamento vai além do vídeo e escancara disputas, pesos desiguais e um Legislativo sob desgaste.
Depoimento de Vini expõe contradições da Câmara; julgamento vai além do vídeo e escancara disputas, pesos desiguais e um Legislativo sob desgaste.

O depoimento de quase duas horas do vereador Vini Oliveira (Cidadania) à Comissão Processante da Câmara de Campinas jogou luz sobre muito mais do que o caso em si. A sessão, embora marcada por um roteiro jurídico e protocolar, revelou um Legislativo tensionado.

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Vini tentou explicar o episódio que o levou à berlinda: a gravação de um vídeo dentro do Hospital Mário Gatti, em pleno plantão de Ano Novo. A defesa girou em torno da tese da fiscalização legítima — amparada pela Constituição — e da ausência de agressões diretas ou violações à privacidade de pacientes. Houve até um pedido de desculpas à médica denunciante, Daiane Copercini, gesto calculado para demonstrar algum recuo. Mas o tom geral do depoimento manteve a linha que vem marcando o mandato do vereador: confronto direto, exposição e redes sociais como campo de atuação.

O que se viu no plenário, porém, foi um ensaio do que virá nos bastidores. A relação tensa com a presidente da comissão, Mariana Conti (PSOL), e com o relator Nelson Hossri (PSD), somada ao comportamento do advogado de defesa, que teceu comentários irônicos e de choque à condução do processo, evidenciaram que a comissão pode até parecer técnica, mas é profundamente política.

E é exatamente por isso que a expectativa de cassação permanece baixa. A denúncia contra Vini, embora possam levantar vários aspectos legais e éticos, acontece em um ambiente institucional onde casos mais graves — como suspeitas de rachadinha, uso indevido de emendas e até investigação de possível propina para alterar leis ambientais — seguem inertes. O contraste é inevitável: enquanto denúncias robustas estão emperradas e sequer pautam o plenário, um vereador novato, com forte presença digital e discurso agressivo, vira o principal alvo da moralidade momentânea da Casa.

Trata-se, no fundo, de um julgamento político que carrega mais antipatia com o estilo de atuação de Vini, que irrita colegas de direita e esquerda, do que com o episódio em si. A quebra de decoro, neste caso, é menos sobre a lei e mais sobre o comportamento disruptivo do vereador, que incomoda colegas, mas mobiliza apoio popular — o que, em ano pré-eleitoral, tem seu peso (tem muito partido de olho para 2026).

A CP entra agora na fase final. O parecer será apresentado no dia 27 de junho, e para que haja cassação, são necessários 22 votos no plenário. A contagem está longe de ser garantida. Até lá, Vini segue exercendo mandato e ganhando visibilidade — para o bem e para o mal. Resta saber se a Câmara julgará o ato ou o personagem. E se, mais uma vez, manterá a tradição de punir o barulho enquanto tolera o silêncio das irregularidades estruturais.

Anistia na Câmara


Joédson Alves/Agência Brasil

A Câmara Municipal de Campinas realiza na próxima segunda-feira, 23 de junho, às 14h, uma audiência pública sobre a possibilidade de anistia humanitária a presos pelos atos de 8 de janeiro de 2023, em Brasília. O evento, intitulado "Cruzada pela Anistia", foi proposto pelo vereador Nelson Hossri (PSD) e será realizado no Plenário José Maria Matosinho, com participação aberta ao público.

A audiência reunirá advogados, políticos e especialistas, com destaque para Cláudio Luís, defensor de presos dos atos; Paulo Faria, advogado de causas de repercussão nacional; Felipe Gimenez, procurador do Estado de MS; Alexis Fonteyne, ex-deputado federal; e Cláudia Riecken, neurocientista que abordará os impactos psicológicos do encarceramento prolongado.

De acordo com Nelson Hossri, o objetivo é promover um debate técnico e empático. “Mais do que um evento político, esta audiência é um gesto de humanidade. Precisamos olhar com justiça e compaixão para os casos que envolvem prisões preventivas prolongadas, impactos psicológicos e possíveis excessos na condução desses processos”, afirmou o parlamentar.

A discussão faz parte de uma série de mobilizações organizadas por setores da sociedade civil e juristas, que defendem a reavaliação dos casos ligados às manifestações que culminaram na depredação das sedes dos Três Poderes.

Ato pela Palestina

Na sequência, a Câmara de Campinas será palco, nesta segunda-feira (23), de uma manifestação em defesa da paz na Faixa de Gaza e contra o que organizadores denunciam como genocídio praticado por Israel contra o povo palestino. O ato começa às 16h30, no Plenário José Maria Matosinho, e é convocado pelos mandatos dos vereadores Gustavo Petta (PCdoB) e Paolla Miguel (PT).

A mobilização faz parte de uma série de manifestações que ocorrem em diversas cidades do mundo em resposta à escalada dos ataques israelenses, que já deixaram milhares de mortos e agravaram a crise humanitária no território palestino.

Durante o ato, os parlamentares e os apoiadores pretendem denunciar violações de direitos humanos, expressar solidariedade ao povo palestino e cobrar a atuação de governos e organismos internacionais pela imediata interrupção dos ataques.

E vem feriadão

A coluna terá uma folga neste feriado de Corpus Christi. Aproveitem bastante. Na terça que vem a coluna está de volta. Um ótimo feriado para todos.

  • Flávio Paradella é jornalista, radialista e podcaster. Sua coluna é publicada no Portal Sampi Campinas aos sábados pela manhã, com atualizações às terças e quintas-feiras. E-mail para contato com o colunista: paradella@sampi.net.br.

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