POLÍTICA

Flávio Paradella: o novo e perigoso revés de Vini Oliveira

Por Flávio Paradella | Especial para a Sampi Campinas
| Tempo de leitura: 5 min
Reprodução
Com 23 votos a favor, o plenário decidiu investigar o vereador por invasão ao Mário Gatti. Mas o caso revela algo maior: Vini está completamente isolado.
Com 23 votos a favor, o plenário decidiu investigar o vereador por invasão ao Mário Gatti. Mas o caso revela algo maior: Vini está completamente isolado.

A aprovação da Comissão Processante contra o vereador Vini Oliveira (Cidadania) nesta quarta-feira (17) representa o momento mais delicado de seu ainda recente mandato. Com 23 votos favoráveis e 9 contrários, a admissibilidade da denúncia mostrou algo mais relevante que o caso em si: o isolamento político do parlamentar e o desgaste que ele próprio construiu em menos de quatro meses de legislatura.

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A denúncia, protocolada pela médica Daiane Copercini, da rede municipal, acusa Vini de ter invadido o Hospital Mário Gatti, no dia 1º de janeiro, gravando imagens de servidores e pacientes sem autorização. O episódio, que rendeu nota de repúdio do Cremesp e críticas públicas, agora será investigado oficialmente por uma comissão formada por Mariana Conti (PSOL), Nelson Hossri (PSD) e Nick Schneider (PL).

A composição da comissão ilustra o quadro político: representantes de espectros diferentes unidos no desconforto com a postura do parlamentar. A esquerda, especialmente Mariana Conti e aliados, já vinha acumulando críticas ao vereador após os ataques ao Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp, considerados por muitos como uma “invasão performática” para gerar conteúdo nas redes sociais. Do outro lado, a direita se incomoda com os holofotes exagerados e a exposição de colegas em postagem nas redes. A base do governo, por sua vez, não engoliu as cobranças públicas feitas de forma desarticulada.

O episódio da abertura da Comissão Processante não é apenas uma resposta à denúncia específica, mas um “presta atenção” coletivo do plenário ao comportamento de Vini Oliveira dentro da Casa. É raro que o Legislativo de Campinas casse um mandato, mas também é incomum que um parlamentar fique tão isolado, sem apoio sequer do próprio partido. O Cidadania local já declarou publicamente que “não precisa desse tipo de político”, o que escancara que Vini está sozinho.

Esse isolamento e a falta de articulação política pesam ainda mais, especialmente em uma Casa com 33 parlamentares e relações tão pautadas por acordos e composição. A cassação não é certa, mas o cenário está longe de ser favorável. A votação de ontem mostrou que há uma insatisfação consolidada entre os pares, que pode ser determinante na reta final da comissão.

O que resta saber agora é se o vereador vai recuar no estilo, buscar aliados e tentar construir pontes, ou seguir dobrando a aposta em um confronto que pode lhe custar o mandato. A política cobra caro de quem ignora as regras do jogo — e o jogo, neste momento, está todo contra ele.

A imagem da noite

A ironia dessa situação é que ele colocou dois dos membros mais antagônicos para trabalharem juntos na Comissão Processante: Mariana Conti, a já experiente e mais forte nome da esquerda na Câmara, e Nelson Hossri, que se auto-intitula a “Voz da Direita” no legislativo.

A dupla é como água e óleo, mas neste caso tem seríssimas restrições (cada um com sua justificativa) ao “trabalho” de Vini Oliveira.

Mariana ficou com a presidência da CP. Nelson é o relator.

A investigação das emendas

A reportagem do Portal Metrópoles reacende uma investigação que, embora não seja nova, começou a apertar o cerco sobre um dos temas mais delicados da relação entre vereadores, emendas parlamentares e contratações públicas em Campinas. A apuração do Ministério Público de São Paulo sobre possível superfaturamento de shows pagos com recursos de emendas impositivas não apenas avança, como ganha novos contornos políticos com o afunilamento do inquérito.

O relatório técnico do MP apontando que os valores dos cachês pagos em Campinas chegaram a até 78% acima do valor de mercado coloca sob suspeita nove eventos realizados em 2023, com apresentações de nomes como Frank Aguiar, Negritude Júnior e Cleiton & Camargo. O montante de R$ 763 mil é significativo, mas o estrago político que o caso pode causar vai além do valor financeiro.

Cinco parlamentares são citados como autores das emendas investigadas: Marcelo da Farmácia (PSB), Edison Ribeiro (União Brasil), Fernando Mendes (Republicanos), Nelson Hossri (PSD) e Arnaldo Salvetti (MDB). Dois deles não foram reeleitos, mas três seguem com mandato na atual legislatura, o que transforma o caso em uma bomba-relógio no plenário.

Mesmo que os parlamentares neguem irregularidades e a Prefeitura insista na legalidade dos trâmites — alegando que os valores seguiram comprovação de mercado pelas empresas — os dados apresentados pelo CAEX, braço técnico do próprio MP, são embaraçosos. Quando uma promotora solicita depoimentos de artistas, secretários e cópias de contratos, já não se trata de uma apuração preliminar, mas de uma etapa mais incisiva na busca por responsabilização.

A situação é politicamente desconfortável para a base governista, pois, além de desgastar nomes que seguem no plenário, levanta questionamentos sobre a fiscalização e controle dos recursos públicos que os vereadores destinaram a cultura. Mais ainda: mostra o risco que as emendas impositivas podem oferecer quando não há critério transparente.

A Câmara de Campinas vive um momento de tensão política por outras razões, como a abertura da Comissão Processante contra Vini Oliveira, e agora precisa lidar com um escândalo que coloca em xeque a integridade de parte do parlamento. Se a apuração do MP avançar e confirmar superfaturamento, pode gerar desdobramentos judiciais e administrativos, com ações por improbidade, cobrança de devolução de valores e até inelegibilidade futura dos envolvidos.

Mais do que um caso isolado, o episódio expõe a fragilidade de mecanismos de controle sobre as emendas.

O risco institucional agora é claro: ou o Legislativo reage com seriedade e colabora para a apuração, ou assume o desgaste e carrega mais um peso na sua já combalida reputação.

  • Flávio Paradella é jornalista, radialista e podcaster. Sua coluna é publicada no Portal Sampi Campinas aos sábados pela manhã, com atualizações às terças e quintas-feiras. E-mail para contato com o colunista: paradella@sampi.net.br.

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