
A retirada de pauta dos projetos que previam o aumento salarial para presidentes de autarquias e fundações municipais em Campinas, mais uma vez, não surpreende. O governo Dário Saadi (Republicanos) não conseguiu avançar com a proposta nem mesmo com maioria na Câmara, o que revela mais do que um erro de protocolo legislativo: escancara a dificuldade política de sustentar uma medida impopular e o fracasso em conseguir driblar a oposição.
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Oficialmente, o presidente da Casa, vereador Luiz Rossini (Republicanos), justificou o recuo com base em uma falha de tramitação — os textos foram protocolados como Projetos de Lei Ordinária, mas, por alterarem a estrutura administrativa do município, deveriam ser Projetos de Lei Complementar. O problema é que esse "erro técnico" ocorre após semanas de resistência, obstruções regimentais e ruído até na base aliada, o que torna evidente que o recuo foi também político. Sinceramente, é impossível acreditar que o governo só foi encontrar agora um equívoco na tramitação em um projeto que vem sendo colocado insistentemente no legislativo desde o ano passado.
O governo sabia que enfrentaria críticas. Afinal, trata-se de um reajuste significativo — de R$ 23 mil para R$ 37 mil — proposto em um contexto de pressão na saúde pública, licitação de transporte emperrada e questionamentos sobre prioridades da gestão. O desgaste ficou visível: a primeira tentativa de aprovação, no fim de 2024, foi adiada; o retorno à pauta nesta semana causou nova onda de insatisfação e obstrução parlamentar. Agora, sem data definida para a reapresentação, o tema volta à geladeira — mas não desaparece.
O governo errou na estratégia. Tentou votar com urgência, sem costura adequada. Insistiu no plenário mesmo com resistência latente. E, por fim, preferiu recuar e redesenhar o trâmite, numa tentativa de esvaziar a mobilização contrária e evitar novas derrotas simbólicas.
O que se vê é um Executivo que, mesmo com maioria legislativa, ainda não encontrou forma eficiente de lidar com desgastes de imagem e pautas sensíveis. O tema do reajuste vai voltar, mas carregará consigo o estigma de uma tentativa frustrada e a percepção de um governo que insiste em prioridades que causam ojeriza na opinião pública. Vamos lá, R$ 23 mil já é um salário altíssimo.
Por falar em recuo e desgaste
A decisão do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) de suspender a implantação dos pórticos de pedágio na SP-304 e reconsiderar a cobrança para estrada dos Circuito das Águas marca mais um recuo estratégico do governo estadual diante da pressão de prefeitos, vereadores e da população da Região de Piracicaba. O anúncio deixou clara a força política do movimento regional, que se uniu contra o modelo considerado injusto e prejudicial ao tráfego local.
Tarcísio justificou a suspensão com base nas manifestações recebidas durante a consulta pública. Mas, na prática, a mobilização articulada nos bastidores e nas ruas tornou o custo político da medida alto demais. As audiências lotadas, a resistência nas câmaras municipais e o engajamento popular criaram um ambiente de pressão difícil de ignorar.
Feliz Páscoa
A todos que acompanham a coluna, será uma rápida pausa neste feriadão prolongado. Estou de volta na terça.
Uma excelente Sexta-feira Santa e uma maravilhosa Páscoa.
- Flávio Paradella é jornalista, radialista e podcaster. Sua coluna é publicada no Portal Sampi Campinas aos sábados pela manhã, com atualizações às terças e quintas-feiras. E-mail para contato com o colunista: paradella@sampi.net.br.
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Anônimo 17/04/2025Presidente da setec já recebe desde janeiro desse ano o salário sem a câmara aprovar.