
O prefeito de Amparo, Carlos Alberto Martins (MDB), voltou a subir o tom contra o projeto de concessão rodoviária do Governo de São Paulo que prevê cinco pedágios em vias do Circuito das Águas. Em entrevista ao podcast FPX Cast, que cconduzo quinzenalmente, ele classificou a medida como injusta, relatou tensão em encontros com o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e reafirmou seu apoio pessoal ao chefe do Executivo estadual — com ressalvas. “Eu acredito no Tarcísio de Freitas [...], mas quando eu apoio alguém, meu voto não é alienado. É um voto que eu tenho que ter a liberdade de discordar daquilo que eu não concordo”, afirmou.
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Carlos Alberto lidera uma cruzada política contra o modelo proposto pela Artesp, que prevê a instalação de 47 pórticos de cobrança por fluxo livre (free flow) em todo o estado — sendo cinco só no município de Amparo: nas saídas para Pedreira, Serra Negra, Santo Antônio de Posse e Morungaba. A estimativa do prefeito é que o valor total cobrado de um trajeto ida e volta na SP-95 ultrapasse R$ 13. “Você multiplica isso por 25 mil veículos por dia e vai chegar a R$ 10 milhões por mês. Só com dois pórticos”, calculou.
Durante o podcast, o prefeito relatou o clima de tensão em uma visita técnica com Tarcísio em Pedreira. “Ele não economizou palavras para dizer que está muito revoltado com o movimento que a gente está fazendo. [...] A discussão foi um pouquinho mais fora do tom”, revelou. “Mas eu sei por que ele ficou bravo. Encheram a cabeça dele de coisas que não são verdade”, completou, dizendo ter sido pressionado por um deputado da região para recuar do movimento.
Carlos Alberto também anunciou que, no dia 5 de maio, vai receber em seu gabinete o secretário estadual de Parcerias e Investimentos, Rafael Benini, para discutir o projeto. Paralelamente, a Prefeitura está à frente da coleta de assinaturas para um projeto de lei de iniciativa popular que proíbe a instalação de pedágios a menos de 60 quilômetros de praças já existentes e a menos de 40 quilômetros de cidades turísticas. “Já temos 20 mil assinaturas validadas no TRE. Vamos conseguir as 180 mil.”
Mesmo com o desgaste, o prefeito garantiu que mantém o respeito por Tarcísio. “Ele é um excelente governador. Um cara dinâmico, arrojado. Mas está sendo mal orientado nesse ponto. Ele não pode encaixar um modelo sem entender a particularidade da nossa região”, apontou. Carlos Alberto também criticou a ausência de obras relevantes no pacote da nova concessão. “Não tem um metro de duplicação previsto. Só vai entrar o custo. O dinheiro vai sair do bolso do cidadão.”
Ao final da entrevista, Carlos Alberto alertou para os impactos eleitorais da medida. “Ele teve 80% dos votos aqui. Mas uma pesquisa recente mostra que 94% dos que votaram nele são contra os pedágios. A reprovação dobrou. E a única novidade foi o anúncio desses pórticos. Isso pode custar caro.”
Pagode na Cohab
A Câmara Municipal de Campinas vai votar, em definitivo, na próxima segunda-feira (15), o projeto de lei do Executivo que desvincula a presidência da COHAB da atual estrutura da Secretaria Municipal de Habitação. A proposta abre caminho para a criação de mais um cargo de primeiro escalão na administração municipal e integra a estratégia do governo Dário Saadi (Republicanos) de agradar a base de apoio político e expandir a presença de aliados que aguardam espaço desde o início do segundo mandato.
Com a separação, a presidência da COHAB passará a ter uma estrutura autônoma, ganhando status de comando próprio. Na prática, o projeto gera uma nova cadeira. O nome mais cotado para assumir a função (seja na Cohab ou a Secretaria) é o ex-vereador Luiz Cirilo (Podemos).
Caso a indicação se concretize, será um aceno ao Podemos, que fez três vereadores na última eleição e cresceu no legislativo, e um gesto de acomodação em um cenário de estabilidade, mas com disputas por espaços que continuam intensas.
Programa Antirracista
Entre os compromissos destacados pelo governo Dário Saadi nos 100 primeiros dias do segundo mandato, o programa antirracista da rede municipal de ensino é um dos que ainda não ganhou os holofotes, apesar de sua evidente relevância social e institucional.
Na última coluna, apontei a situação como emblemática: o plano está pronto, a capacitação dos professores já começou, mas a apresentação pública da iniciativa foi adiada sem uma justificativa. A repercussão veio — e com ela, a resposta oficial.
Segundo a comunicação da Prefeitura de Campinas, a decisão de adiar o lançamento tem como objetivo integrar o programa a uma iniciativa mais ampla, em parceria com o Ministério Público de São Paulo, e realizar um evento de maior porte para apresentar o projeto à população. Ainda de acordo com o governo, o programa já está em fase de implementação, com professores da rede passando por capacitação e ações pedagógicas sendo alinhadas internamente.
- Flávio Paradella é jornalista, radialista e podcaster. Sua coluna é publicada no Portal Sampi Campinas aos sábados pela manhã, com atualizações às terças e quintas-feiras. E-mail para contato com o colunista: paradella@sampi.net.br.