ADEUS, PEPE

Morre Seu Pepe, aos 85 anos, lendário dono de bar em São José

Por Xandu Alves | São José dos Campos
| Tempo de leitura: 3 min
Reprodução
Pepe e seus dois amores: o bar e o Santos
Pepe e seus dois amores: o bar e o Santos

Faleceu na quinta-feira (27), aos 85 anos de idade, José Fernandez Marful, o famoso Seu Pepe, fundador do lendário Bar e Lanchonete Pepe, no Jardim Augusta, região central de São José dos Campos. A causa da morte não foi divulgada.

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O corpo do comerciante está sendo velado na Urbam, na Vila Industrial, região leste de São José, e será sepultado no Cemitério Municipal Padre Rodolfo Komorek, na região central, às 16h desta quinta-feira (27). Ele deixa mulher, filhos e netos.

Pepe nasceu na Galícia, região do noroeste da Península Ibérica, e veio ainda menino para São Paulo, acompanhando o pai atrás de trabalho. A mãe morrera antes da viagem. Na Espanha, a guerra deixara uma herança de privações.

Pepe começou a trabalhar numa padaria, em Pinheiros, na capital, e veio para São José na década de 1960, passando a ajudar o pai a assentar azulejos. Nos finais de semana, trabalhava num bar. Gostou tanto que comprou o estabelecimento em 1967 e nunca mais deixou o balcão, onde trabalhou dos 26 aos 82 anos, quando aposentou-se e vendeu o estabelecimento.

Além do bar, Pepe era apaixonado pelo Santos Futebol Clube do seu xará Pepe, craque daquele time de supercraques. Mas foi mesmo Pelé quem encantou o espanhol, que viu o menino ainda franzino entrar em campo no Pacaembu, num Santos e Palmeiras, em 1956.

“Já passou muita gente famosa pelo meu bar, mas o Pelé seria uma honra poder recebê-lo”, disse Pepe a OVALE, em 2011. “Se pudesse, ficava o dia inteiro no bar. Gosto da convivência com os fregueses e do trabalho. Minha mulher fica brava e fala para eu trazer a cama”.

Segundo a filha de Pepe, a professora aposentada Josefa Auxiliadora Fernandez Terra, seu pai conseguiu ver Pelé em São José num bar na avenida José Longo, “quando o mundo era menor”, disse ela.

Futebol.

Foi justamente para ampliar o mundo que Pepe abriu seu primeiro bar em São José, ao lado do pai, no centro da cidade, o ‘Bar Esportivo do Pepe’. O estabelecimento durou 10 anos até ser vendido e virar o Bar Taubaté.

Pepe estava desde 1976 no Jardim Augusta e ganhou fama como torcedor apaixonado do Santos e por transformar clientes em amigos, tamanho o carinho e atenção que dedicava aos fregueses.

“As pessoas têm afeto pelo bar. Ele tinha um amor grande pelo bar. Não é só empreender, construir e trabalhar. É sentir amor pelo que ele fez. Construiu amizades e com muito amor e carinho. Ele nunca pensou financeiramente ou ascensão social”, contou Josefa, que passou a cuidar do pai, que estava com a saúde debilitada.

Após 59 anos de casamento, Pepe perdeu a esposa em 2020, por problemas de saúde, o que também contribuiu um bocado para a decisão de se aposentar e deixar o bar.

Trabalho.

“Ele sempre foi muito trabalhador e gostava de dar emprego para as pessoas. Saiu de outro país e reconhecia que precisava fazer algo pelo outro que o acolheu. O carinho que recebe agora é por tudo o que fez. A atenção como os fregueses, que vão ficar. É paixão”, contou a filha.

Naquela entrevista de 2011, ainda distante dos nossos tempos violentos e polarizados, Pepe disse que ficou bravo uma vez quando um assaltante entrou no bar e o chamou de vagabundo.

“Trabalho 12 horas por dia, de segunda a segunda, e o cara me chama de vagabundo. As pessoas estão perdendo o respeito”, disse ele na ocasião.

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