POLÍTICA

Flávio Paradella: A estratégia desajustada para o reajuste

Por Flávio Paradella | Especial para a Sampi Campinas
| Tempo de leitura: 3 min
Divulgação/CMC
Governo retoma proposta de aumento para diretores de autarquias, mas tentativa de aprovação sem transparência gera desgaste político e resistência no Legislativ
Governo retoma proposta de aumento para diretores de autarquias, mas tentativa de aprovação sem transparência gera desgaste político e resistência no Legislativ

Era questão de tempo. A reapresentação da proposta de equiparação salarial dos diretores de autarquias e fundações ao salário dos secretários municipais já era esperada. A retirada da pauta no final do ano passado foi apenas um cálculo estratégico, pois o governo sabia que, em meio à transição legislativa, o desgaste poderia ser maior. Agora, no primeiro ano do novo mandato, a margem é maior, e o Quarto Andar resolveu agir.

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Oreajuste beneficia os diretores da Rede Mário Gatti, Setec, Camprev e da Fundação José Pedro De Oliveira (Mata Santa Genebra).  Atualmente, por exemplo, o diretor-presidente da Rede Mário Gatti recebe R$ 23.246,08, e o projeto prevê um salto para R$ 37 mil, seguindo o padrão dos secretários municipais e do próprio prefeito.

O problema não é a retomada da proposta, mas a forma atabalhoada como isso foi feito. O governo tentou aprovar o pedido meio que na surdina, aproveitando-se da dinâmica das sessões para colocar o tema em votação sem que estivesse previamente listado na pauta oficial divulgada no site da Câmara. A tática pegou mal e deu munição para a oposição, constrangeu aliados que se sentem forçados e acabou culminando com o encerramento por falta de quórum, estratégia adotada pela base. Uma grande lambança.

A ideia do governo é clara: testar a resistência do plenário e insistir até aprovar. Se não fosse agora, seria daqui algumas semanas ou meses. Equiparar os salários dos diretores ao secretariado e ao do próprio prefeito cria um patamar dentro da administração municipal, consolidando um padrão salarial elevado para os cargos de confiança.

O argumento da Prefeitura de que os valores precisam ser atualizados para manter a competitividade dos cargos pode até ter um fundo técnico, mas o momento e a forma como a proposta foi conduzida geram um desgaste desnecessário, inclusive com a base aliada que se vê pressionada em votar um tema no susto.

Tentar aprovar um reajuste de altos salários sem discussão e transparência só aumenta a resistência da população e de parte do Legislativo.

De todo modo, o governo calcula que esse desgaste pode ser absorvido, especialmente neste início de mandato. Afinal, é o primeiro ano do ciclo, quando eventuais turbulências costumam ser menos prejudiciais politicamente. Porém, a forma como o tema foi colocado na pauta levanta questionamentos sobre a transparência e o compromisso do Executivo com um debate aberto sobre o tema.

A matéria deve voltar à pauta nos próximos dias. Resta saber como a base governista digeriu e se adotará uma estratégia mais aberta e estruturada. O certo é que, mais cedo ou mais tarde, esse reajuste vai passar – e o desgaste será apenas um preço calculado no jogo político.

Turbulências

Fim de semana que colocou holofotes na relação entre Tarcísio de Freitas (Republicanos) e seu principal articulador político em São Paulo, Gilberto Kassab (PSD). O secretário de Governo, um dos grandes estrategistas do Palácio dos Bandeirantes, agora estaria enfrentando um distanciamento calculado por parte do governador.

O motivo? Kassab teria se antecipado demais nas movimentações eleitorais de 2026, enquanto Tarcísio tenta manter a narrativa de um governador focado na gestão e distante das articulações políticas.

Entre os aliados do governador, a avaliação é clara: o líder do PSD passou do ponto e começou a vender uma influência maior do que realmente tem dentro do governo estadual.

A tensão ficou explícita no mês passado, durante um evento de Tarcísio com 600 prefeitos, no qual o nome de Kassab sequer foi citado – um claro sinal de que o prestígio do ex-prefeito de São Paulo dentro do governo vem sendo minado.

Friamente, apesar da trajetória e popularidade do governador, Tarcísio tem uma base pavimentada pelo alicerce político vigoroso que Kassab estrutura. Que aparem as arestas, mas, não tenham dúvidas, Tarcísio precisa de Kassab.

  • Flávio Paradella é jornalista, radialista e podcaster. Sua coluna é publicada no Portal Sampi Campinas aos sábados pela manhã, com atualizações às terças e quintas-feiras. E-mail para contato com o colunista: paradella@sampi.net.br.

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