
A primeira sessão ordinária da Câmara Municipal de Campinas em 2025 já deu um claro indicativo do que esperar para os próximos dois anos: um Legislativo polarizado, pautado por embates ideológicos e por discursos voltados ao cenário nacional, deixando as demandas municipais em segundo plano. O episódio mais simbólico foi a intensa discussão em torno de uma moção de apoio ao deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), que sequer foi votada após acalorado debate entre vereadores de direita e esquerda, resultando no esvaziamento do plenário e no encerramento antecipado da sessão.
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O tom da disputa sugere que, assim como ocorreu entre 2020 e 2022, quando o plenário campineiro era tomado por discursos centrados na polarização Bolsonaro (mesmo inelegível até aqui) x Lula, a nova legislatura deve seguir a mesma trilha. Agora, no entanto, a antecipação do debate eleitoral de 2026 indica que vereadores usarão a tribuna municipal para ecoar narrativas nacionais e se posicionar dentro de seus campos políticos.
O autor da moção de apoio, vereador Nelson Hossri (PSD), trouxe ao plenário uma pauta tipicamente associada ao bolsonarismo: o questionamento das medidas de fiscalização do PIX pelo governo federal. A proposta gerou reações imediatas, levando a um embate que acabou encurtando a sessão.
A vereadora Fernanda Souto (PSOL) também mostrou que seguirá a linha de discursos pautados em agendas nacionais (no caso internacional) ao criticar Donald Trump, atual presidente dos Estados Unidos, em sua fala na tribuna. Com certeza, Trump irá recuar depois disso (contém ironia).
Embora os temas municipais tivessem espaço na pauta – como a aprovação de um projeto de doação de materiais inservíveis da administração municipal –, o que ganhou notoriedade no plenário foram as batalhas ideológicas.
O cenário montado na primeira sessão do ano sugere que a Câmara de Campinas seguirá nacionalizada, com vereadores mirando seu eleitorado muito mais pelo viés político-ideológico do que pelas questões locais e muitos já exercitando o anseio de disputa uma cadeira na Assembleia ou até Congresso.
A direita buscará consolidar sua base associando a gestão do presidente Lula (PT) a polêmicas, problemas econômicos e tentativas de arrecadação, enquanto a esquerda seguirá reagindo e pautando temas identitários e de direitos humanos.
A Câmara, que deveria ser o espaço para discutir os problemas urgentes da cidade – mobilidade, segurança, saúde, desenvolvimento econômico –, vai se tornar palco de uma disputa antecipada de narrativas para 2026. Esse fenômeno já foi visto nos anos que antecederam as últimas eleições presidenciais e deve ganhar ainda mais força com a intensificação da polarização política no Brasil.
Haddad fica
O vereador Paulo Haddad (PSD) foi reconduzido ao cargo de líder do governo na Câmara de Campinas para o biênio 2025-2026, consolidando sua posição como principal articulador do Executivo no Legislativo. No terceiro mandato como parlamentar, Haddad já ocupava a função desde 2023 e terá novamente a missão de garantir a defesa das pautas do prefeito Dário Saadi (Republicanos) na Casa.
Nos bastidores, a escolha é vista como um reconhecimento da sua habilidade de articulação. Haddad sempre foi considerado um bom líder de governo, mantendo um canal de diálogo aberto com os vereadores e conseguindo avanços importantes para a base. No entanto, sua atuação nos últimos dois anos sofreu desgastes em função da própria dinâmica do Quarto Andar, onde, por diversas vezes, vereadores da base, tal qual crianças birrentas, preferiam levar suas demandas diretamente ao prefeito ou ao vice Wandão, enfraquecendo sua autoridade de negociação. Esse atalho minava, por vezes, sua posição.
O novo biênio apresenta uma oportunidade para Haddad consolidar sua liderança, mas também traz desafios. A Câmara de Campinas terá ambiente ainda mais volátil, exigindo um líder de governo com firmeza para segurar a base aliada e evitar ruídos desnecessários.
Para auxiliá-lo, o governo escolheu como vice-líder o vereador Luís Yabiku (Republicanos), que retorna à Câmara após ser eleito no pleito de 2024. Com larga experiência – incluindo passagens pelo Executivo como secretário municipal de Urbanismo e de Trabalho e Renda –, Yabiku chega como um reforço estratégico para as articulações políticas dentro da Casa.
A nomeação foi oficializada com um ofício enviado pelo prefeito à presidência da Câmara, e, segundo o Regimento Interno, Haddad continuará tendo o poder de se pronunciar por até dez minutos em qualquer momento das sessões legislativas para defender as posições do Executivo.
Agora, resta saber se Haddad conseguirá reafirmar sua autoridade dentro da base e evitar que os vereadores continuem buscando atalhos e o Quarto Andar aceitando.
Dança, gatinho
A primeira sessão ordinária do vereador Vini Oliveira (Cidadania) foi tudo, menos discreta. Em sua estreia na tribuna, o parlamentar fez um discurso inflamado, afirmando ter sido “ungido” ao cargo e prometendo atuar como um ferrenho fiscalizador da corrupção. Mas o que era um momento de ‘auto exaltação’ tomou um rumo inusitado quando, do meio da plateia, veio um grito inesperado: “Dança, gatinho”.
Ninguém entendeu nada no momento, mas a explicação logo circulou no WhatsApp: um vídeo com o jovem vereador, em um quadro de relacionamento do programa de Rodrigo Faro, na Record.
O episódio, claramente uma tentativa de constrangê-lo, é um termômetro.
- Flávio Paradella é jornalista, radialista e podcaster. Sua coluna é publicada no Portal Sampi Campinas aos sábados pela manhã, com atualizações às terças e quintas-feiras. E-mail para contato com o colunista: paradella@sampi.net.br.