POLÍTICA

Flávio Paradella: Quando o silêncio fala mais alto

Por Flávio Paradella | Especial para a Sampi Campinas
| Tempo de leitura: 3 min
Divulgação
Sem provas concretas, denúncias contra prefeito de Campinas expõem fragilidades e são recebidas com um intrigante silêncio, até da oposição
Sem provas concretas, denúncias contra prefeito de Campinas expõem fragilidades e são recebidas com um intrigante silêncio, até da oposição

E então, em meio ao calor sufocante de janeiro, um ex-vereador de Campinas decide esquentar o debate político local com um vídeo de seis minutos, recheado de acusações contra a gestão atual. Vinicius Gratti, nome conhecido da política municipal, acusa a campanha de reeleição do prefeito Dário Saadi de irregularidades envolvendo malas de dinheiro vivo – ou, em suas palavras, “caixa 2”. Se a imagem mental não bastasse para chamar atenção, ele ainda jogou mais lenha na fogueira ao sugerir que o prefeito seria um "fantoche" do ex-prefeito Jonas Donizette.

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Mas o que chamou mais atenção, paradoxalmente, foi o silêncio. Um silêncio ensurdecedor, diga-se de passagem. Nem a base governista, que geralmente tem uma prontidão em defender a gestão, nem mesmo a oposição – sempre tão contundente e ávida por holofotes – se manifestaram de maneira significativa. A pergunta que paira no ar é: por quê?

Talvez o silêncio se explique pela ausência de provas concretas apresentadas por Gratti. Afinal, lançar acusações sem evidências é, no mínimo, uma estratégia arriscada. Mas não sejamos ingênuos: a política é terreno fértil para narrativas, e mesmo alegações infundadas podem ganhar força dependendo de como são exploradas.

O próprio Gratti não é exatamente uma figura acima de qualquer suspeita. Ele ocupou um cargo na Sanasa até o ano passado, deixando o posto apenas para tentar, sem sucesso, retornar à Câmara. Agora, do lado de fora da engrenagem, aponta supostas irregularidades, mas faz isso sem apresentar uma única prova substancial.

Ironias à parte, é curioso ver como a oposição – geralmente tão criativa em seus ataques –  se calou. Nem uma nota, nem uma declaração. Nada. É como se as acusações fossem um espetáculo mudo que todos assistem, mas ninguém quer comentar. A base aliada, por outro lado, optou pelo “deixa pra lá”, mas alguns fizeram o vídeo “meia-bomba” percorreu pelos grupos de whatsapp.

Gratti, por sua vez, parece ter jogado todas as fichas em um apelo ao Ministério Público e aos vereadores oposicionistas. Mas o histórico sugere que, sem provas robustas, dificilmente essa história passará de mais um capítulo raso na já tumultuada narrativa política campineira.

Talvez a grande lição aqui seja justamente a fragilidade do discurso político local, que depende mais de bravatas e de silêncios estratégicos do que de um debate realmente consistente.

Resta apenas torcer para que, em algum momento, a política local rompa o ciclo de ironias e omissões e entregue, de fato, o que promete: transparência, verdade e responsabilidade. Porque, no fim das contas, é o silêncio que costuma dizer mais do que as palavras.

Vale lembrar que Dário e Jonas desqualificaram a "denúncia" e prometeram processar o ex-vereador.

Projeto veta homenagens a escravocratas

A vereadora Mariana Conti (PSOL) protocolou um projeto de lei na Câmara Municipal de Campinas que propõe a proibição de homenagens públicas a escravocratas no município. A iniciativa abrange administrações diretas e indiretas e visa renomear logradouros, prédios públicos e rodovias que carreguem nomes de figuras associadas à escravidão.

A proposta também determina a retirada de estátuas, bustos e monumentos que reverenciem personalidades vinculadas ao regime escravocrata. Segundo o texto, essas peças deverão ser transferidas para museus municipais, onde receberão contextualização histórica sobre o período.

“É uma reparação histórica e moral necessária ao povo negro brasileiro, cujo sofrimento e legado de luta foram sistematicamente ignorados por séculos,” defendeu Mariana Conti. A parlamentar ressaltou que a escravidão, que perdurou por mais de 300 anos no Brasil, privou milhões de africanos de sua liberdade e dignidade, com impactos que reverberam até hoje.

Se aprovado, o projeto exigirá que qualquer nome de pessoa condenada por crimes como racismo, injúria racial ou trabalho análogo à escravidão também seja impedido de batizar espaços públicos.

  • Flávio Paradella é jornalista, radialista e podcaster. Sua coluna é publicada no Portal Sampi Campinas aos sábados pela manhã, com atualizações às terças e quintas-feiras. E-mail para contato com o colunista: paradella@sampi.net.br.

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