Quem acompanha a política de Campinas já esperava pela convocação de sessões extraordinárias, especialmente porque o Quarto Andar desejava aprovar projetos importantes antes do início do novo mandato, como as mudanças diretivas no Camprev. No entanto, poucos estavam preparados para a enxurrada de reuniões realizadas nesta quinta-feira.
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Ainda mais surpreendente foi o envio, pelo prefeito Dário Saadi, de uma série de projetos que incluem a equiparação salarial para presidentes-diretores de autarquias, empresas municipais e fundações. A medida foi guardada para o último momento da atual legislatura e enviada quase no limiar do início do segundo mandato do prefeito reeleito, evitando a apresentação desse tipo de proposta em um momento mais exposto politicamente.
Vale lembrar que essa situação só ocorre porque, no ano passado, os vereadores aprovaram, sob a justificativa de reajustar os vencimentos da elite do funcionalismo, um aumento salarial para o prefeito, vice e secretários municipais. Atualmente, esses cargos recebem cerca de R$ 24 mil, mas, a partir do próximo ano, o valor subirá para R$ 37 mil. Como os presidentes-diretores de entidades como Setec, Rede Mário Gatti, Fundação José Pedro de Oliveira e Camprev têm seus salários equiparados ao teto do funcionalismo, o reajuste gerou essa "ampliação automática" nos vencimentos dessas lideranças, porém precisava ser ratificada pela Casa de Leis.
A questão foi formalizada agora, com a apresentação de projetos enviados pelo prefeito para discussão em ritmo acelerado, o que iriai beneficiar aqueles que já têm seus cargos garantidos no próximo governo Dário II.
Porém, também de maneira inesperada, o líder de governo Paulo Haddad (PSD) surgiu e pediu a retirada das propostas que garantiram o aumento. Que pegou mal para o Quarta Andar a ideia, isso eu não tenho a menor dúvida, afinal era um ‘pacotão de maldade’ como presente de Natal, agora se foi justamente por causa da opinião pública que a ideia desmoronou, aí não tenho como cravar. De qualquer maneira, é bem provável que no ano que vem essa mesma proposta volte ao legislativo, tudo em um projeto só, e ainda retroativo.
Importante também é destacar o papel dos vereadores nesse cenário. Não apenas aprovaram o aumento para o Executivo no ano passado, que ainda vai desencadear essa equiparação, como também ficam marcados por terem sancionado o próprio reajuste salarial, válido para a nova legislatura. A partir de 2025, os vereadores de Campinas receberão cerca de R$ 17,8 mil mensais, além de 13º salário e férias remuneradas.
Não é à toa que muitos já consideram "vereador" como uma ocupação profissional. Aos poucos, deixaram de ser exclusivamente representantes da população para se tornarem funcionários com altos custos pagos pelo dinheiro público.
Camprev passou
Assim como desejava o Quarto Andar, a alteração na estrutura diretiva do Camprev foi aprovada. A proposta passou pela primeira votação na noite desta quarta-feira e foi ratificada em segunda votação durante uma das várias sessões extraordinárias realizadas nesta quinta-feira.
Com a mudança, a administração municipal agora terá um controle significativamente maior sobre o Conselho Deliberativo do instituto, já que metade das posições será ocupada por indicações políticas.
Seis vozes
A exaustiva sequência de sessões extraordinárias ficou marcada pela constante movimentação e pelas inúmeras intervenções dos vereadores de oposição. Entre discursos de liderança e apartes, parlamentares como Gustavo Petta (PCdoB), Mariana Conti e Paulo Bufalo (PSOL), além dos petistas Guida Calixto, Paolla Miguel e Cecílio Santos, utilizaram (e, para alguns, exageraram no uso) dos microfones, com o evidente objetivo de tentar vencer pelo cansaço, mesmo cientes de que suas argumentações dificilmente teriam efeito prático.
- Flávio Paradella é jornalista, radialista e podcaster. Sua coluna é publicada no Portal Sampi Campinas aos sábados pela manhã, com atualizações às terças e quintas-feiras. E-mail para contato com o colunista: paradella@sampi.net.br.