POLÍTICA

Flávio Paradella: O pragmático recado do eleitor

Por Flávio Paradella | Especial para a Sampi Campinas
| Tempo de leitura: 3 min
Divulgação/TSE
Análise política revela preferência do eleitor da RMC por nomes de centro-direita e pragmáticos
Análise política revela preferência do eleitor da RMC por nomes de centro-direita e pragmáticos

O recado das urnas foi claro. Mais do que discursos sobre "bons costumes" e “voto no amor”, o eleitorado buscou por nomes que personificam o pragmatismo político. O grande vencedor foi o ‘centrão’, embora com um viés de direita nesta conjuntura.

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Vamos analisar o resultado em nosso quintal. Das 20 cidades da Região Metropolitana de Campinas (RMC), todas escolheram lideranças ligadas ao centro ou à direita. Muitos dos prefeitos eleitos, embora agora flutuem no espectro de centro-direita, não são originários dessa linha ideológica. O prefeito de Campinas, Dário Saadi, é um exemplo: começou no PSDB, passou pelo DEM e Solidariedade, e desde 2020 integra o Republicanos. Zezé Gomes, prefeito reeleito em Hortolândia, é do Republicanos, mas já esteve no PT e PTB e conta com um vice que também iniciou a trajetória no PT, Cafu Cesar, hoje no PSB.

Na cidade de Americana, o experiente Chico Sardelli também foi reeleito. Após décadas no PV, ele migrou para o PL, e apesar do partido, é impossível o identificar como um político de direita, considerando seu histórico legislativo estadual e federal.

De qualquer maneira, essas vitórias refletem um momento de oportuno para uma convergência ideológica no entorno do governador Tarcísio de Freitas. Embora próximo a Jair Bolsonaro, Tarcísio se projetou com uma imagem mais moderada e, ao romper com quase três décadas de hegemonia do PSDB no Palácio dos Bandeirantes, adotou uma postura firme, as vezes agressiva, mas sem causar constrangimentos ao seu eleitor e pragmática. Dessa forma, sua popularidade impulsionou políticos que, como ele, souberam moldar suas posturas em consonância com os tempos.

Para a esquerda, fica o convite à reflexão. A necessidade de se reconstruir e reconectar com o eleitorado real torna-se urgente. O foco nos nichos pode garantir cadeiras legislativas, mas não sustenta vitórias majoritárias. Além disso, é preciso parar de atacar o todo e qualquer eleitor ao chamá-lo de fascista, antidemocrático e golpista a cada discordância de posicionamento.

O que vimos nesta eleição foi uma polarização em novos moldes, com uma disputa predominantemente entre o centro e a direita. A nuvem política se transformou, e o pragmatismo se impôs.

Qual a função?

Acompanhando o desenrolar do projeto de lei que cria o Polo de Inovação e Desenvolvimento Sustentável (PIDS) no distrito de Barão Geraldo, na Câmara de Campinas, me pergunto: para que realmente serve a audiência pública?

Afinal, mesmo antes de ser realizada, como aconteceu no último sábado, a proposta já estava agendada para ser votada na sessão ordinária desta quarta-feira, dia 30.

Mais uma vez, não entrarei no mérito do projeto, se é bom ou ruim. A discussão é sobre a evidente celeridade com que o legislativo passou a tratar a proposta, com a audiência sendo realizada claramente para cumprir ritos obrigatórios, mas com pouco ou nenhum efeito prático para garantir qualquer sugestão ao projeto.

O PIDS deve ser aprovado em primeira votação nesta quarta-feira e ainda passará por uma segunda audiência, mas dificilmente enfrentará qualquer resistência na base do governo para sua aprovação definitiva.

Acredito que a oposição tentará judicializar a proposta.

  • Flávio Paradella é jornalista, radialista e podcaster. Sua coluna é publicada no Portal Sampi Campinas aos sábados pela manhã, com atualizações às terças e quintas-feiras. E-mail para contato com o colunista: paradella@sampi.net.br.

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