POLÍTICA

Flávio Paradella: Longa sessão rumo às eleições

Por Flávio Paradella | Especial para a Sampi Campinas
| Tempo de leitura: 4 min
Divulgação/CMC
A 40ª sessão deste ano teve uma longa e cansativa duração.
A 40ª sessão deste ano teve uma longa e cansativa duração.

O último dia de reunião ordinária antes do recesso foi marcado por polêmicas, ironias, provocações e manifestações. Nada diferente do que assistimos durante todo o primeiro semestre com o acirramento entre os pólos ideológicos com o passar dos dias e o período eleitoral cada vez mais próximo.

A 40ª sessão deste ano teve uma longa e cansativa duração. Foram 4 horas e 45 minutos de discussões com 18 itens na pauta e olha que dois deles ainda foram adiados.

A polarização entre esquerda e direita prevaleceu mais uma vez e o horizonte das urnas só deixa a situação ainda mais exacerbada.

Vou citar aqui os dois projetos dos pólos diferentes: internação compulsória e Transcidadania, por sinal adiados de segunda e que foram a votação nesta quarta.

A proposta de internação compulsória não é nova. Já tramita desde 2019 no legislativo e é datada de quando o autor, Nelson Hossri, era oposição com falas ferozes ao então governo Jonas Donizette, mas o parlamentar encontrou o ‘timing’ para retornar com a pauta. O PL estabelece a possibilidade de internação compulsória de pessoas usuárias de drogas em situação de vulnerabilidade e a responsabilidade do poder público em solucionar a degradação de áreas da cidade.

Entre idas e vindas, a proposta era colocada na pauta, mas retirada, porém ontem, finalmente, foi para a votação. Com um parlamento de maioria conservadora, o projeto foi aprovado em primeira votação e rendeu minutos de fala a parlamentares que criam o conteúdo para atingir o seu nicho eleitoral. Fica a dúvida se o projeto, que para alguns é inconstitucional, voltará ao plenário no segundo semestre. A conferir.

Já sobre o Transcidadania, projeto criado pela vereadora Paolla Miguel (PT), que visava elaborar diretrizes para atendimento de pessoas travestis e transexuais em situação de vulnerabilidade social, foi rejeitado. A parlamentar escolheu a semana da Parada LGBTQIA+ e o mês do orgulho para apresentar a proposta e colocar em votação.

Faz sentido, mas vamos relembrar o cenário de “parlamento de maioria conservadora” que a proposta enfrenta e, para piorar, o momento de início de corrida eleitoral. Dificilmente, diante das circunstâncias, a proposta vingaria. E foi o que aconteceu.

Tem que diga que se o Transcidadania fosse apresentado em novembro teria chances de aprovação. No entanto, outra razão é a ausência de articulação, citada por colegas e assessores, da vereadora para ter um mínimo de sucesso com a proposta.

Agora vem o recesso e na volta, em agosto, os vereadores já estarão em plena corrida eleitoral na tentativa de reeleição. Não que já não estivessem, mas lá a coisa será oficial de um pleito que promete ânimos acirrados pela prefeitura e pelo cargo de vereador.

Sem briga

Na sessão desta quarta-feira, chamou a atenção a veemente defesa feita pelo vereador Luiz Cirilo (Podemos) do ex-partido, o PSDB. Cirilo rebateu críticas da vereadora Guida Calixto (PT) , citou o histórico tucano na política estadual e nacional e ainda ironizou que a sigla não teve membros na prisão (esqueceu do Beto Richa). O vereador terminou o discurso dizendo que deixou o partido sem atritos e sem brigar com ninguém e foi aí que os colegas, na maldade, questionaram: “brigar com quem?”.

Realmente, seria difícil com a implosão e debandada do PSDB local. A não ser que Cirilo replicasse a famosa cena de Taxi Driver, clássico de Martin Scorsese, na qual Robert DeNiro olha ao espelho: “você está falando comigo? Eu não vejo mais ninguém aqui”.

Como nossos pais

A derradeira sessão estava cheia de ‘piadocas’. Durante o discurso para defender o projeto Transcidadania, a vereadora Mariana Conti citou “O Novo Sempre Vem”, um trecho da composição de Belchior “Como nossos pais”, eternizada por Elis Regina. Foi o suficiente para um serelepe Paulo Gaspar pedir a palavra, apenas para ironicamente agradecer e concordar com a frase. Gaspar é do partido Novo.

Deixou na mão

Agora há um ponto a se lamentar da bancada de esquerda. O vereador Cécilio Santos (PT) se viu obrigado a adiar um projeto que seria aprovado. O petista quer criar o Programa Municipal de Desenvolvimento do Esporte Comunitário e prevê, entre outras medidas, que os clubes comunitários juridicamente constituídos e cadastrados junto ao Executivo terão direito a benefícios como utilizar bens imóveis do patrimônio municipal para atividades desenvolvidas.

Pois bem, após 4h30 a proposta finalmente foi à discussão, mas por se tratar de um substitutivo total precisava de maioria qualificada e naquele momento a casa tinha apenas 17 vereadores presentes, incluindo o presidente. Dessa forma, a propositura não tinha voto suficiente para ser aprovada e seria rejeitada. O vereador Luiz Cirilo alertou o colega para retirar da pauta para que o projeto não fosse rejeitado por falta de votos, o que Cecílio fez, apesar de Cirilo apontar que todos os parlamentares ali votariam favoravelmente.

O detalhe é que naquele ponto da sessão, além de Cecílio e Paulo Bufalo, somente vereadores da base estavam no plenário. Os colegas de bancada de esquerda (PT, PSOL e PCdoB) já tinham ido embora e deixaram o vereador sem alternativa.

A situação rendeu o comentário de Jorge Schneider (PL): “O PT foi embora. Largou ele na mão”. Pior que é verdade.


Flávio Paradella é jornalista, radialista e podcaster. Sua coluna é publicada na Sampi Campinas aos sábados pela manhã, com atualizações às terças e quintas-feiras. E-mail para contato com o colunista: paradella@sampi.net.br.

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