POLÍTICA

Flávio Paradella: Narrativas, omissões e embates

Por Flávio Paradella | Especial para a Sampi Campinas
| Tempo de leitura: 4 min
Divulgação/PMC
Prefeito teve um semana de embates com parceiros.
Prefeito teve um semana de embates com parceiros.

A informação de que Campinas vai receber cerca de R$ 1 bilhão do novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) para renovação da frota do transporte público e regularização fundiária expôs a clara diferença nas comunicações entre o prefeito Dário Saadi (Republicanos) e o vice Wanderley de Almeida (PSB), que vão serão novamente parceiros na disputa eleitoral pela reeleição neste ano.

Vamos lá. Nesta quarta-feira, o Governo Federal anunciou R$ 949 milhões para o transporte público e R$ 2,3 milhões para regularização fundiária. investimentos em Campinas através do Novo PAC. O evento foi no Palácio do Planalto, em Brasília. A cidade teve aprovada a destinação de recursos para aquisição de 512 ônibus, sendo 256 do modelo elétrico e outros 256 convencionais. Fica a expectativa que, com o dinheiro, finalmente a licitação do transporte saia do papel.

Além disso, terá verba para regularizar os Núcleos Jardim Nova República (região Sudoeste), Jardim das Bandeiras II (região Sul) e Jardim Itatiaia (região Sul).

Pois bem, a cerimônia na capital federal foi acompanhada por Wandão que após o anúncio divulgou a “boa notícia”, ao lado do deputado federal e vice-líder do governo no Congresso, Jonas Donizette (PSB) sobre a liberação de recursos do PAC por parte do Governo Federal. Wandão e Jonas ainda escreveram na descrição do post: “Governo Dário respeitado pelo Governo Federal”.

Eis que a mesma notícia foi retratada pelo prefeito Dário Saadi na manhã desta quinta-feira em publicação nas redes sociais. No vídeo cheio de gracejos na edição, Dário não cita “governo federal” ou “PAC”. Diz que a cidade conseguiu aprovar um financiamento de 1 bilhão e explica vagamente como o dinheiro será usado. Na descrição a sigla PAC aparece, sem detalhamentos.

Não que fosse necessário exaltar o presidente de Lula, até porque a impessoalidade rege a boa gestão administrativa, apesar do Brasil adorar tratar como verdadeiros deuses as figuras políticas, por mais falhas e questionáveis. Se Campinas apresentou um projeto e se enquadra nas regras estipuladas, ele tem que ser aprovado. Fim. Não foi uma dádiva de um ente poderoso que ocupa o cargo máximo.

Porém, o programa foi instituído, sim, pelo governo federal que recriou em sua imensa criatividade (contém ironia) administrativa o PAC. Omitir esse detalhe é mesquinho e inútil, afinal a informação é divulgada por tantos outros meios de comunicação e, inclusive, pelo vice-prefeito.

A iniciativa dá a impressão de um prefeito mais preocupado com a narrativa eleitoral do que com o real benefício que os recursos possam impactar.

Leviano e Deselegante

Semana, inclusive, de embates com parceiros. Impossível não citar o “climão” gerado pela coletiva de segunda-feira na qual o prefeito Dário Saadi anunciou que a cidade vai responsabilizar prefeituras que enviarem pessoas em situação de rua sem justificativa para Campinas. Certíssimo.

Só que na solenidade, a prefeitura apresentou depoimentos de moradores de rua e apontou os municípios, entre eles os vizinhos Hortolândia, Valinhos e Jaguariúna.

Todos negaram a prática e coube ao prefeito de Jaguariúna e presidente do Conselho de Desenvolvimento da Região Metropolitana, Gustavo Reis, rebater e elevar tom por Campinas se basear em casos “únicos” e dar a entender como se fosse uma rotina. O prefeito classificou como “leviano” e “deselegante” parte de uma cidade parceira a falta de diálogo antes de vir a público.

Em outra parte do estado, 260 km daqui, Bauru mandou o recado: “são falsas as alegações de que teria enviado pessoas em situação de rua”.

Dário abandonou a diplomacia e apontou o dedo, baseado em casos documentados e gravados pela equipe da prefeitura, porém a amostra parece ser isolada e não revela claramente uma tendência das cidades. A conferir o desenrolar dessa história já que o prefeito prometeu acionar o Ministério Público.

Ameaças à Câmara

A sessão ordinária foi mais tranquila nesta quarta-feira na Câmara de Campinas. Tanto nas pautas, quanto no clima. Afinal, na segunda o legislativo foi atingido pela carta ameaçadora, racista e homofóbica. Os parlamentares se reuniram e fizeram uma representação coletiva, assim como a administração da Casa de Lei tomou iniciativas para aumentar a segurança.

Chama a atenção, por parte da Polícia Civil, uma informação. Ao ser questionado sobre a situação, o comando do Deinter-2 (Departamento De Polícia Judiciária De São Paulo Interior), órgão que administra a Polícia Civil regional, disse que ainda não há uma definição sobre qual delegacia ou setor, e, dessa forma, não foi selecionado o responsável pela apuração dos fatos. O momento pede rigor e rapidez.

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