Que o revés sobre o Trem Intercidades foi inesperado, realmente é uma verdade. Pois passado o leilão, geralmente o ponto mais problemático, a expectativa era o cumprimento dos trâmites burocráticos sem solavancos, mas a Justiça aceitou o questionamento do Sindicato dos Trabalhadores de Empresas Ferroviárias.
Ainda não julgou o mérito dos apontamentos, mas mandou suspender a assinatura do contrato até analisar a suposta irregularidade na concorrência que teve apenas uma empresa interessada.
Convenhamos, duvido que ninguém tenha estranhado o megaempreendimento de R$ 14 bilhões receber a solitária proposta, mas aí o governo pode falar que não tem como obrigar as empresas a participarem do leilão.
Bom, esse vai ser um problema para o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) desenrolar. Ele que sempre se gabou exatamente de desemaranhar projetos e licitações desde os tempos do Ministério de Infraestrutura no Governo Bolsonaro.
O tema Trem Intercidades serviu também para mostrar as várias estações de humor nas plataformas de comunicação do prefeito Dário Saadi (Republicanos), ainda mais com a eleição cada vez mais próxima.
Assim que a informação foi divulgada e, então, o contrato do Trem Intercidades para ligar Campinas a São Paulo estava paralisado, este colunista buscou a opinião de vários prefeitos da região, entre eles Dário Saadi.
E naquele momento, a resposta foi polida e comedida. O prefeito agiu com naturalidade para um processo gigantesco de licitação. “São questionamentos naturais de um leilão dessa magnitude e o Governo do Estado vai esclarecer as dúvidas e acreditamos que o processo vai ter continuidade. Campinas acredita e defende a importância do TIC (Trem Intercidades)”, disse o prefeito. Tranquilo e sereno.
Porém, mais tarde, veio um outro posicionamento, aí nas redes sociais. Ah, as tóxicas redes sociais. Na publicação, Dário destaca a notícia da suspensão, mas abandona a composição tranquila e embarca rumo ao ataque. O prefeito decidiu elevar o tom e criticou a entidade sindical que questionou o processo. “É lastimável. Esse sindicato com essa visão atrasada de mundo. Aquela visão que só o Estado tem que fazer tudo e evitar a parceria com a iniciativa privada”, vociferou o prefeito de Campinas.
Dois posicionamentos, duas versões do mesmo chefe do executivo. Um prefeito oficial para órgãos de imprensa, outro prefeito para o engajamento nas redes sociais, e seguindo aquele roteiro de colar em Tarcísio e falar para o eleitor conservador.
Inapropriada
Em entrevista à coluna de Mônica Bergamo da Folha de S. Paulo, a vereadora Paolla Miguel (PT) afirmou ter sido surpreendida pela performance com nudez e cenas de sexo no evento que apoio e que recebeu verbas por meio de emenda impositiva da própria parlamentar, a ‘Festa da Bicuda’.
Além disso, na entrevista a vereadora afirmou que os atos foram inadequados e impróprios para terem sido realizados em praça pública, aberta a todos os tipos de público.
Paolla enfrenta um processo na Câmara de Campinas que pode levar à cassação de seu mandato.
Repercussão
A coluna conversou com mais vereadores de Campinas e há um entendimento uniforme entre eles de que se a entrevista de Paolla tivesse sido replicada no Plenário, talvez, e reforçando a palavra ‘talvez’, o procedimento da Comissão Processante sequer seria aberto.
A base acredita que no Plenário a vereadora partiu para um enfrentamento desnecessário o que provocou a ira de colegas experientes e ligados a movimentos religiosos.
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Flávio Paradella é jornalista, radialista e podcaster. Sua coluna é publicada na Sampi Campinas aos sábados pela manhã, com atualizações às terças e quintas-feiras. E-mail para contato com o colunista: paradella@sampi.net.br
