POLÍTICA

Flávio Paradella: Toda nudez será castigada

Os principais pré-candidatos avaliam o saldo do período que teve ataques, invasão e baixaria.

Por Flávio Paradella | 20/04/2024 | Tempo de leitura: 4 min
Especial para a Sampi Campinas

Reprodução

Festa da Bicuda foi realizada em uma praça pública no distrito de Barão Geraldo
Festa da Bicuda foi realizada em uma praça pública no distrito de Barão Geraldo

Uma semana turbulenta na política de Campinas e com saldos positivos e negativos para as principais pré-candidaturas colocadas. Vamos recapitular os fatos. A calmaria da segunda-feira já seria abalada pela viralização de imagens do dia anterior, mas a invasão de uma fazenda em Campinas deixou aquela “bomba” na fila de espera.

As atenções se voltaram para a ocupação por parte do MST de uma área da Fazenda Santa Mariana, quase no limite com Jaguariúna. Vereadores de esquerda foram até o local, Polícia Militar se mobilizou, mas até de maneira surpreendente, quem agiu foi a Guarda Municipal que retirou as 200 famílias do terreno, com base em um decreto municipal.

Protestos do movimento e dos parlamentares que acompanhavam, mas, como já dito anteriormente neste espaço, uma oportunidade que o prefeito Dário Saadi (Republicanos) aproveitou para tentar se garantir com o eleitor mais conservador, até mesmo com a frase proferida: “não vamos aceitar invasão de terra”.

Para a pré-candidatura de Pedro Tourinho (PT) ficou uma impressão ruim. Afinal, a ocupação ocorreu dois dias depois do lançamento do movimento Vamo pra Cima, o grande ato político de esquerda até aqui em Campinas. Não que os dois fatos tenham qualquer relação, mas como diz ditado: “como explicar que focinho de porco não é tomada?”. Tourinho para ser viável precisa dialogar com uma camada mais ampla da sociedade, inclusive com quem não concorda com o método do MST. Aí vem o movimento e reaparece na cidade.

Porém, aquela “bomba” ainda seria lançada. E estourou com as imagens compartilhadas pelas redes sociais e divulgadas com indignação de uns dos principais rivais da bancada esquerdista, o vereador Nelson Hossri (PSD). Veio à tona a tal “Festa da Bicuda” e os vídeos das apresentações com encenação de sexo e nudez em plena praça pública. Evento com emenda impositiva de uma vereadora do PT, Paolla Miguel. A parlamentar ajudou a divulgar, apoiou e esteve na festa, inclusive sendo chamada ao palco.

Mais uma vez, um prefeito surfando na onda que surgiu, apesar da tal festa ter tido apoio da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo. Dário veio a público novamente e deu o recado administrativo, político e moral. Ao PT de Tourinho, sobrou ficar mais uma vez na defensiva, ainda mais pelo desenrolar da polêmica com o foco sendo todo colocado em Paolla, que, inclusive, vai responder a uma Comissão Processante.

A situação por si só já é delicada, mas pensem o tamanho do estrago que as imagens podem fazer na campanha eleitoral. O grotesco vídeo é uma arma que será guardada até lá. Como citou um aliado do governo: “o MST nos deu, por um lado, a manchete que queríamos, e a Paolla, por outro, a foto que precisávamos”.

Consequências

Agora, passada toda a exaltação sobre a polêmica da Festa da Bicuda, dificilmente trará consequências catastróficas para o mandato de Paolla Miguel. O recado foi dado.

A CP foi aberta e colocou e acuou a vereadora, mas a base tem interesse em esmiuçar o assunto? Já mostrou que não tem muita vontade pela sequência de negativas em aceitar participar da CP.

Com isso, o comando da comissão ficou com integrantes da bancada de esquerda. Eles podem entender que se existe uma suposta responsabilidade da vereadora, também há da prefeitura e, dessa forma, convocar membros, diretores e, inclusive, a Secretária de Cultura e Turismo, Alexandra Caprioli, nome poupado até aqui.

O Quarto Andar se movimentou pouco politicamente nos bastidores neste primeiro momento. A partir de agora, monitora e deve passar a agir.

Sentiu falta de alguém?

O deputado estadual Rafa Zimbaldi (Cidadania), pré-candidato ao Palácio dos Jequitibás, parecia estar como um observador diante de toda a confusão. Só parecia.

À coluna, Rafa se pronunciou. Em resumo, o deputado disse que a semana caótica é um retrato da gestão Dário Saadi.

Sobre a invasão do MST na última segunda, Zimbaldi afirmou que é resultado da falta de política habitacional. “Milhares de famílias em Campinas sofrem pela falta de moradia e isso é reflexo da negligência do atual prefeito quando falamos de políticas públicas para a habitação popular. A Cohab de Campinas, por exemplo, não constrói casas populares há anos, não existe um plano efetivo da atual administração que possamos ter visto ser implementado na área de moradia nesses últimos anos”.

Rafa Zimbaldi afirmou ser contra qualquer tipo de ocupação de terra produtiva, mas acredita que esses movimentos ocorrem como reflexo da falta de políticas públicas.

Já sobre o caso Festa da Bicuda, o deputado disse que foi até o Ministério Público e fez uma representação contra o prefeito de Campinas, Dário Saadi, e a vereadora Paolla Miguel, atribuindo a ambos a responsabilidade do reembolso de mais de R$ 760 mil das emendas da parlamentar utilizadas para custear eventos culturais no município.

“É uma amostra de negligência do prefeito o fato de a Prefeitura de Campinas não ter uma regra de classificação indicativa para evento na cidade, o que só foi anunciado no último dia 16, conforme publicação de portaria no Diário Oficial do Município. Isso significa que somente após o episódio a Prefeitura admitiu a sua negligência”, afirmou Rafa Zimbaldi.

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Flávio Paradella é jornalista, radialista e podcaster. Sua coluna é publicada na Sampi Campinas aos sábados pela manhã, com atualizações às terças e quintas-feiras. E-mail para contato com o colunista: paradella@sampi.net.br


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