As consequências da epopeia gerada pelo MST (Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) em Campinas foram consideradas positivas ao prefeito, Dário Saadi (Republicanos).
Nesta segunda-feira, Campinas amanheceu com a ocupação de uma fazenda próxima ao limite com Jaguariúna. As imagens chegavam pelas redes sociais com membros do MST rompendo as barreiras da propriedade e invadindo o local com carros e um contingente apurado de 200 famílias.
A repercussão foi imediata com vereadores de direita ultrajados e parlamentares de esquerda declarando apoio ao movimento, inclusive com os membros da bancada comparecendo ao local da ocupação.
A invasão era acompanhada por Polícia Militar e Polícia Rodoviária, mas veio da Guarda Municipal a atuação para retirar as pessoas da área. De acordo com a prefeitura, representantes da habitação e segurança ofereceram a inscrição das famílias na lista por moradia da COHAB-Campinas. Porém, a proposta não foi aceita.
Foi aí que, até de maneira surpreendente, a GM agiu com seu grupo de “Choque” e desocupou a área.
Claro que a ação provocou a indignação de representantes do movimento pela “reintegração de posse em medida judicial” e a suposta truculência da “guarda de Dário”.
E aí, surgiu o principal elemento político. O prefeito Dário veio a público e usou as redes sociais para enaltecer o trabalho da Guarda e disse que determinou “ao Secretário de Segurança e Presidente da Cohab a reintegração de posse dessa área” e que não vai “admitir invasão de terra”.
Não julgo aqui a legalidade ou o mérito da iniciativa, mas as consequências eleitorais.
A fala de Dário soou como música para eleitores conservadores e de extrema-direita da cidade. Vamos lembrar que Campinas dá índices elevados de aprovação ao governador Tarcísio de Freitas e, em 2022, Jair Bolsonaro foi o candidato mais votado à presidência entre os eleitores do município.
Hoje, Campinas é conservadora, isso é um fato. E Dário busca, sim, garantir a confiança desse eleitor, que não vê no prefeito essa marca ideológica. Alguns acreditam que seja apenas por ocasião.
Dessa forma, a ocupação, ou invasão, como queiram, surgiu como uma oportunidade e a resolução foi feita pela Guarda, um órgão municipal, o que jogou no colo de Dário a possibilidade de impor a sua narrativa.
Com uma comunicação objetiva e concisa, o chefe do executivo passou a mensagem que queria e conseguiu atingir o público-alvo de maneira certeira.
Mensagem do governo de SP
Dário ainda aproveitou para repercutir uma mensagem do Secretário de Agricultura e Abastecimento do Governo do Estado, Guilherme Piai Filizzola, parabenizando a atuação da GM de Campinas e a retirada dos membros do MST da fazenda em Campinas.
O secretário de Tarcísio chama o movimento de “terrorista que tentou invadir uma propriedade privada”.
Guilherme Filizzola lembrou a frase do governador Tarcísio que afirmou que o Estado de São Paulo não vai tolerar a ocupação de terras e invasão de propriedade.
Ou seja, para ter repostado o secretário na própria rede social, a avaliação de Dário é que o recado foi eficaz para chegar e fixar no público pretendido.
Dia completo
Outro fato que provocou muita repercussão política foi a tal ‘Festa da Bicuda’ em Barão Geraldo. O evento para o público LGBTQIA+ foi realizado em uma praça do distrito e teve encenações de sexo e nudez.
A apresentação recebeu recursos por meio de emenda impositiva da vereadora Paolla Miguel (PT) e a parlamentar esteve presente na festa.
As cenas são grotescas em performances realizadas em plena praça pública. Cenas filmadas e viralizadas pelas redes sociais.
Pronto. A prefeitura de Campinas reagiu com a instituição a partir de agora de “classificação indicativa”, que, caso o evento seja avaliado como impróprio, seria impedido de ser feito em espaço público aberto.
A bancada de direita partiu para cima de Paolla. Nelson Hossri (PSD) quer apurar a falta de decoro da vereadora, isso significa a possibilidade de cassação do mandato.
Paulo Gaspar (Novo) teve entendimento parecido e afirmou que iria protocolar um pedido para que a Corregedoria da Câmara investigue a responsabilidade da petista, mas também quer apontar qual o grau de participação da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo no caso, o qual chamou de “show de horrores”.
De acordo com a vereadora Paolla Miguel, a emenda foi utilizada para parte da estrutura física que atendeu a população que desejou comparecer ao evento, como banheiros químicos, apoio logístico e montagem de palco. Ela ainda afirma que não tinha ciência das apresentações artísticas programadas.
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Flávio Paradella é jornalista, radialista e podcaster. Sua coluna é publicada na Sampi Campinas aos sábados pela manhã, com atualizações às terças e quintas-feiras. E-mail para contato com o colunista: paradella@sampi.net.br