Foi uma sessão tensa na noite desta quarta-feira, na Câmara de Campinas. E não era para menos, afinal foi a primeira após a abertura de inquérito para investigar 32 dos 33 vereadores da casa.
O Ministério do Público do Estado de São Paulo apura uma denúncia de possíveis irregularidades no uso de emendas impositivas destinadas para shows e eventos. O MP quer saber se apresentações, sem licitação, foram superfaturadas para que os ‘artistas’ repassassem o ‘excedente’ aos políticos que impuseram o dinheiro do orçamento municipal para a contratações dos espetáculos.
Com o critério da promotoria de esmiuçar os repasses acima de R$ 100 mil, 32 vereadores, base ou oposição, centro, esquerda e direita, entraram na mira do Ministério Público e foram incluídos na lista de investigados. Apenas Paulo Gaspar (Novo) escapou.
Com este roteiro, os parlamentares voltaram ao Plenário para a 7ª reunião ordinária deste ano e fizeram fila para prestar esclarecimentos sobre a destinação de dinheiro público, por meio das emendas, a atividades culturais.
O primeiro a falar, algo incomum, e o que mostra o tamanho do abalo para o legislativo, foi o presidente da Câmara, Luiz Rossini (PV), que também integra o rol de investigados. O chefe da casa de leis fez uma defesa institucional da iniciativa de emendas impositivas, detalhou os trâmites burocráticos para o apontamento de contemplados e os caminhos para a liberação dos recursos por parte do executivo para os projetos impostos pelos vereadores.
Na sequência foram mais 16 vereadores que subiram à tribuna e a ampla maioria o fez para, alguns mais outros menos, explicar a destinação das verbas e negar qualquer tipo de irregularidade nas emendas culturais.
Muito enalteceram e disseram apoiar a investigação aberta pelo Ministério Público, porém a sensação de constrangimento nas expressões e discursos era nítido.
Usando um jargão do futebol, todos os vereadores montaram um esquema defensivo e jogaram em uma ferrenha retranca.
Encontros e desencontros
E a queda de braço entre o deputado estadual Rafa Zimbaldi (Cidadania) e o PSDB de Campinas segue indefinida. O parlamentar e postulante a candidatura a prefeito de Campinas esteve presente na Convenção Estadual dos tucanos no último domingo, evento que ocorreu na Assembleia Legislativa, na capital paulista.
Rafa posou ao lado de Marconi Perillo, ex-governador de Goiás, e Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul.
O movimento de Rafa tem a intenção de pavimentar a candidatura no acordo de Federação entre PSDB e Cidadania, e chegou a correr a informação pelas redes sociais e veículos de mídia que o evento referendou o nome de Zimbaldi como candidato a prefeito de Campinas.
No entanto, a Convenção do PSDB sequer conseguiu a paz no ninho tucano, já que terminou sem a definição do presidente da executiva estadual, quanto mais cravar os reais rumos do absurdamente confuso partido.
Para adicionar mais drama à história, como se precisasse, a executiva municipal do PSDB divulgou uma nota para desmentir qualquer acordo selado.
O comunicado diz: “Com o objetivo de evitar a propagação de desinformação sobre as eleições municipais para este pleito de 2024, o PSDB de Campinas informa que não houve qualquer ato de confirmação da candidatura do Deputado Estadual Rafa Zimbaldi como candidato da Federação PSDB Cidadania. A Convenção Estadual realizada no último domingo (25/02) foi convocada, exclusivamente, para eleger o novo diretório do Estado de São Paulo e, portanto, não houve qualquer discussão acerca de candidaturas a Prefeito, vice-Prefeito e Vereadores”.
O PSDB de Campinas ainda ressalta que “essa decisão sequer poderia ser tomada pelo órgão estadual, pois a competência legal para a escolha de candidatos para as eleições locais é do diretório municipal”.
Mais um capítulo nessa já conturbada relação entre Rafa Zimbaldi e o PSDB em que o deputado precisa rapidamente resolver e pôr ordem para cercar o próprio terreno.
Magalhães Teixeira
Há 28 anos, o PSDB local e Campinas perdiam sua principal liderança política. Após lutar contra um câncer no fígado, morria o prefeito José Roberto Magalhães Teixeira, aos 58 anos.
Por duas vezes comandou a cidade e foi deputado federal, Grama foi uma das figuras mais importantes administrativas e na luta por democracia. Magalhães partiu em um 29 de fevereiro de 1996.
Nesta quinta-feira, uma missa homenagem está marcada em memória de Magalhães Teixeira na Igreja Nossa Senhoras das Dores, às 18h.
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Flávio Paradella é jornalista, radialista e podcaster. Sua coluna é publicada na Sampi Campinas aos sábados pela manhã, com atualizações às terças e quintas-feiras. E-mail para contato com o colunista: paradella@sampi.net.