A rebelião dos vereadores do União Brasil na Câmara de Campinas teve um novo e tenso capítulo com uma reunião convocada às pressas pelo prefeito em exercício e secretário de relações institucionais, Wanderley de Almeida (PSB), o Wandão. A cúpula do partido, que é base de apoio do Governo Dário Saadi (Republicanos), foi chamada ao encontro para discutir as falas de Rodrigo da Farmadic, endossadas por Edison Ribeiro, na sessão ordinária do legislativo na noite de quarta-feira.
Para quem não acompanhou, Rodrigo fez um feroz discurso ao longo de 15 minutos no qual criticou a falta de compromisso do prefeito Dário Saadi em atender inúmeras demandas, entre obras e melhorias, para a região de atuação do parlamentar, o Distrito do Ouro Verde. Rodrigo chegou a afirmar que não fará campanha pela reeleição de Dário e que o União Brasil poderá rever os caminhos políticos eleitorais na convenção deste ano. Edison Ribeiro, na mesma sessão, endossou a reclamação de Farmadic e pontuou a falta de conclusão de obras na sua área, no caso o distrito do Campo Grande.
Nem é preciso citar que a rebeldia inesperada caiu como uma bomba no Quarto Andar. Wandão, imbuído da tarefa de costurar alianças desde a administração de Jonas Donizette, convocou quem comanda o União Brasil para uma conversa. Foram para reunião o presidente do diretório municipal Valter Greve e membros da executiva, como André Ribeiro (filho de Edison Ribeiro) e o próprio Edison. Farmadic, o líder rebelde, não esteve presente.
A palavra usada nos bastidores do Palácio dos Jequitibás foi: “enquadrados”. Wandão lembrou que o União integra o governo com cargos e posições no alto escalão. Não que fosse preciso rememorar isso ao presidente da sigla, afinal Valter Greve ocupa a presidência da Ceasa-Campinas. Outro posto importante que está com União Brasil é o de secretário de transportes, nas mãos de Fernando de Caires Barbosa, vice-presidente da sigla em Campinas. Por sinal, Rodrigo da Farmadic também desferiu violentos golpes na administração e gerenciamento dos transportes, gestão que, como foi lembrado, é feita pelo próprio partido do vereador.
O saldo da reunião foi de uma pacificação forçada e uma das indicações de que Rodrigo da Farmadic recebeu o recado foi o próprio ter apagado das redes sociais a publicação que havia feito de um trecho do duro discurso de quarta-feira. No entender do Quarto Andar, o princípio de incêndio foi extinto e a consequência é um isolamento do parlamentar rebelde.
Ordem na casa
Houve até um ato oficial para responder a rebeldia dos vereadores Rodrigo da Farmadic e Edison Ribeiro. Após a reunião, o presidente do diretório municipal do União Brasil divulgou uma nota de esclarecimento.
Valter Greve, que comanda o partido em Campinas, assinou o comunicado que diz que “a fala dos vereadores a respeito da Administração Municipal, trata-se de posição pessoal e não representa a posição do Partido União Brasil de Campinas. O Partido União Brasil de Campinas faz parte da base de apoio da atual Administração Municipal”.
Vale lembrar mais uma vez que além chefiar o União Brasil, Valter Greve é presidente da Ceasa-Campinas.
Consequências
A situação, mesmo apaziguada, traz embaraços ao governo Dário, sobretudo porque estamos em um ano eleitoral e o prefeito é candidato à reeleição. Lembrando que este não foi um ato isolado; no ano passado, vereadores da base, inclusive os mais experientes, externaram uma enorme indignação pela falta de uso das verbas destinadas por emendas impositivas, aquelas que dão poder de execução ao parlamentar.
Outro ponto a ser destacado é que Rodrigo da Farmadic não foi o único da base a se rebelar. Otto Alejandro, vereador do PL, partido que entrou no governo no ano passado, também fez um discurso duro contra a administração municipal. Durante sua fala, ele chegou a pedir para que “o prefeito ordenasse que o secretário de saúde tirasse a bunda da cadeira”, enquanto elencava a situação caótica do Hospital Ouro Verde.
A fome dos rivais
De “caso isolado” a “caso isolado”, a percepção é que o governo Dário não possui organicamente a convicção de agentes políticos da própria base na Câmara de Campinas. O engajamento, quando acontece, é fruto de impulsionamento.
E a oposição observa. Afinal, quando a própria base destroça as ações do governo, é oferecido um prato cheio para os famintos adversários, mais precisamente Rafa Zimbaldi (Cidadania) e Pedro Tourinho (PT).
Vereadores no ato de Bolsonaro
Ao menos quatros vereadores da Câmara de Campinas confirmaram presença no ato convocado para a Avenida Paulista, em São Paulo, pelo ex-presidente Jair Bolsonaro.
Nelson Hossri (PSD), Marcelo Silva (PSD), Major Jaime (PP) e Paulo Gaspar (Novo) afirmaram em postagens nas redes sociais que estarão na manifestação marcada para este domingo.
De volta
Uma decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) determinou que a vereadora Chris PC (MDB), cujo mandato foi cassado no ano passado, volte ao cargo na Câmara de Vinhedo (SP). O entendimento da Justiça foi de que o processo que resultou na cassação, por quebra de decoro parlamentar, é considerado ilegal.
A cassação do mandato da vereadora ocorreu após a abertura de uma Comissão Processante, que investigou denúncias relacionadas a manifestações feitas por Chris PC durante sessões plenárias, contra outros parlamentares e contra o prefeito.
A Câmara de Vinhedo está avaliando os procedimentos a serem adotados em decorrência da decisão judicial.
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Flávio Paradella é jornalista, radialista e podcaster. Sua coluna é publicada na Sampi Campinas aos sábados pela manhã, com atualizações às terças e quintas-feiras. É veiculada também pelo jornal OVALE Gazeta da RM Campinas, aos sábados. E-mail para contato com o colunista: paradella@sampi.net.
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Alfredo Abud Neto 24/02/2024Parabéns pela reportagem, que expressa de forma clara o momento crítico e que pode definir o destino político do município, nas próximas eleições. Aguardemos os próximos lances no tabuleiro da política de Campinas.