POLÍTICA

A guerra pelo discurso do presidente

Por Flávio Paradella | 20/02/2024 | Tempo de leitura: 4 min
Especial para a Sampi Campinas

Ricardo Stuckert

Presidente Lula durante discurso que gerou rusgas diplomáticas
Presidente Lula durante discurso que gerou rusgas diplomáticas

A desastrosa fala do presidente Lula em viagem a Etiópia sobre o conflito na Faixa de Gaza ecoou na Câmara de Campinas, como era de se esperar, nesta segunda-feira. O presidente, em discurso, condenou a guerra, porém acusou o estado de Israel de genocídio e, em uma tenebrosa comparação, relacionou a atuação israelense tal qual Adolf Hitler e o partido Nazista na Segunda Grande Guerra, responsável justamente pelo extermínio de 6 milhões de judeus. A palavras antissemitas de Lula percorreram o mundo da pior maneira possível.

O legislativo campineiro, que por menor que seja a polêmica já reverbera qualquer assunto ligado a Lula ou Bolsonaro, imagina se deixaria de debater um assunto desses do tamanho do absurdo que saiu da boca do presidente. No primeiro expediente, os discursos vinham sem tocar no tema até a vez do vereador Marcelo Silva (PSD), que pertence a comunidade judaica.

O parlamentar usou a tribuna para lamentar o discurso de Lula, e mais que isso para atacar o presidente sobre a inoportuna fala. “Essa comparação absurda que não só feriu a memória de 6 milhões de judeus e minorias assassinadas brutalmente por Câmara de gás, torturas, massacres, tiros”, afirmou Marcelo Silva. 

O vereador Major Jaime (PP) também aproveitou a polêmica para vociferar contra o presidente Lula.

Na sequência, três vereadoras da bancada de esquerda abordaram o assunto em uma tentativa de explicar o discurso do presidente: Guida Calixto (PT), Paolla Miguel (PT) e Mariana Conti (PSOL). No domingo, Guida e Mariana já haviam exaltado o discurso de Lula em nome de uma Palestina Livre. Na Câmara, as parlamentares saíram em defesa e, inclusive, acusaram de hipocrisia o que hoje criticam o presidente. Apesar da contundência, o discurso apenas repetiu uma cartilha seguida pela militância, de que Lula não atacou o povo judeu, mas sim o governo do estado de Israel, comandado pela extrema-direita, no caso Benjamin Netanyahu.

O problema é que a declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em que compara a ação militar israelense na Faixa de Gaza ao Holocausto é claramente antissemita.

Uma gafe? Um erro? Um equívoco? O que realmente pensa o presidente? Neste momento, o que importa é a frase dita, de acordo com a International Holocaust Remembrance Alliance (IHRA), uma organização intergovernamental com 35 países e da qual o Brasil é um membro observador, é definida como antissemitismo já que faz a comparação da política de Israel com o holocausto, o pior crime já cometido contra o povo judeu.

O triste é ver o estado das coisas na política. O agente cultuado é infalível e deve ser amado e idolatrado de todas as formas e ai de quem ousar criticá-lo, de forma quase messiânica Se o “Mito” fala uma asneira, uma horda enfurecida enaltece a estupidez. Se “Deus-sol” diz uma bobagem, a militância se une em prol do absurdo. Nem mesmo torcidas organizadas de equipes de futebol são tão cegamente fanáticas.

Moção de Protesto
O vereador Paulo Gaspar (Novo) também usou a tribuna para criticar duramente o presidente e protocolou uma Moção de Protesto em resposta à declaração de Lula, que comparou a resposta de Israel aos ataques terroristas do Hamas que resultaram na morte de crianças, idosos, mulheres e homens, incluindo brasileiros, com o Holocausto sofrido pelo Povo Judeu na Segunda Guerra Mundial.

Banco de Fraldas
Sobre os projetos aprovados, os vereadores de Campinas deliberaram, em votação inicial nesta segunda-feira (19), o Projeto de Lei (Substitutivo Total) proposto pelo vereador Eduardo Magoga (Podemos) que visa criar o Banco Municipal de Fraldas Descartáveis Infantis e Geriátricas.

Essa iniciativa tem como objetivo fornecer assistência a pessoas carentes que sofrem de condições como paralisia cerebral, autismo, ou quaisquer deficiências que resultem em incontinência urinária ou fecal.

Para que o projeto se torne lei municipal, é necessário que seja aprovado em segunda votação pelos vereadores e posteriormente sancionado pelo prefeito.

O Banco de Fraldas será mantido por meio de doações de pessoas físicas ou jurídicas, além de verbas provenientes de Emendas Impositivas dos vereadores e convênios com instituições públicas e privadas

Explosão de casos
O avanço de ocorrências segue de maneira assustadora. Os casos confirmados de dengue em Campinas chegaram a 5.355 nesta terça-feira, 20 de fevereiro, após nova atualização do Painel Interativo de Arboviroses. Parte dos dados de fevereiro ainda estava represada.

Os novos dados ocorreram após um trabalho de digitação realizado durante o fim de semana, que incluiu números represados durante o Carnaval e um aumento no de atendimentos a pacientes ao longo do mês de fevereiro.

Até o momento, Campinas não registrou nenhum óbito relacionado à doença neste ano. A Secretaria de Saúde orienta que casos leves de dengue sejam comunicados às unidades de saúde em até sete dias, enquanto casos graves ou óbitos devem ser notificados em até 24 horas.

Flávio Paradella é jornalista, radialista e podcaster. Sua coluna é publicada na Sampi Campinas aos sábados pela manhã, com atualizações às terças e quintas-feiras. É veiculada também pelo jornal OVALE Gazeta da RM Campinas, aos sábados. E-mail para contato com o colunista: paradella@sampi.net.

COMENTÁRIOS

A responsabilidade pelos comentários é exclusiva dos respectivos autores. Por isso, os leitores e usuários desse canal encontram-se sujeitos às condições de uso do portal de internet do Portal SAMPI e se comprometem a respeitar o código de Conduta On-line do SAMPI.