POLÍTICA

A avassaladora proliferação da dengue em Campinas

Por Flávio Paradella | Especial para a Sampi Campinas
| Tempo de leitura: 4 min
Divulgação/PMC

A crise de dengue em Campinas mostra sinais inequívocos de agravamento com a confirmação, pela prefeitura, dos primeiros casos na cidade causados pelos sorotipos 2 e 3 do vírus, que não circulavam desde 2021 e 2009, respectivamente. As amostras de sangue dos pacientes foram analisadas pelo Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo, e anteriormente a isso, a metrópole só havia registrado o sorotipo 1.

Os moradores diagnosticados com os sorotipos 2 e 3 da dengue foram atendidos por serviços de saúde particulares em Campinas e evoluíram para a cura.

Em 2023, a metrópole enfrentou a sexta pior epidemia de dengue já registrada, com pouco mais de 11,4 mil casos. Não chegamos nem à metade de fevereiro e os números deste ano são assustadores, com a secretaria de saúde contabilizando 1.949 pessoas infectadas.

Politicamente, o prefeito Dário Saadi (Republicanos) empenhou-se numa 'batalha' com o governo federal pela vacina, incorporada ao Plano Nacional de Imunização, mas não disponibilizada para Campinas, que, até então, não se enquadrava em todos os critérios definidos.

De qualquer forma, mesmo com a disponibilização do imunizante, o impacto seria pequeno devido à quantidade escassa do produto e às restrições de faixa etária para sua aplicação. O calendário de vacinação da dengue sequer foi definido pelo Ministério da Saúde, que informou que divulgará "em breve", mas parcialmente, já que parte das doses ainda não foi recebida.

Em outra frente, o prefeito realiza eventos midiáticos, não como crítica, sobre os mutirões para inspeção de possíveis criadouros do mosquito transmissor em casas de bairros mais críticos. Utilização de drones, aparato de segurança e grande cobertura da imprensa acompanham essas ações. É uma medida necessária para tentar conscientizar a população sobre os simples cuidados de prevenção contra a dengue, historicamente negligenciados.

É evidente que outro elemento preocupa o prefeito: o impacto dessa crise de dengue em sua imagem e sua possível utilização pelos adversários durante o ano eleitoral. Por isso, Dário tem fomentado a narrativa da 'Vacina Negada a Campinas' e conseguiu colocar o PT na defensiva. No entanto, o avanço da doença mostra sinais de uma aceleração sem controle, tornando quase que impossível manter a comunicação sob controle.

A Dengue na Câmara
Na sessão ordinária desta quarta, o tema Dengue foi debatido por poucos vereadores, apesar do tamanho da crise na cidade, na Câmara de Campinas.

Major Jaime (PP) foi o primeiro a levantar o assunto e o usou para atacar o governo Lula por não incluir Campinas na lista de cidades contempladas com a vacina. O vereador chegou a falar que “ouviu dizer” que o governo escolheu os municípios de acordo com o índice de votação do presidente.

Já o vereador Rodrigo da Farmadic (União) foi mais ponderado e levantou uma ideia para auxiliar nos trabalhos de prevenção e mutirão contra a doença. O parlamentar lembrou que atualmente a administração municipal, em cumprimento à legislação, precisa primeiro notificar os donos de terrenos e estabelecimentos abandonados para que façam a limpeza e eliminação de focos.

Rodrigo acredita ser possível alterar os dispositivos da lei para que, em caso de emergência sanitária, conceder autorização para que o poder público acesse a propriedade e faça a limpeza.

Ministra nega emergência
A ministra da Saúde, Nísia Trindade, afirmou nesta quarta-feira que "não faz sentido" o governo decretar uma emergência de saúde nacional devido ao aumento dos casos e mortes de dengue no país.

Nísia destacou o uso da vacina para o controle da doença, mas preferiu minimizar os efeitos práticos neste momento já que imunizante não deve ser visto como um "instrumento mágico". A ministra enfatizou que o ciclo de imunização requer a aplicação de duas doses, com um intervalo de três meses entre cada uma.

Diário do Dário
É bem interessante constatar que os vídeos publicados, foram três de terça até esta manhã de quinta, pelo prefeito Dário Saadi, em seu perfil pessoal, começaram com um take gravado no estilo selfie, com o próprio prefeito realizando a filmagem.

Estratégia de comunicação, afinal é a primeira imagem que fica marcada para uma audiência que, geralmente, não acompanha a postagem até o fim (no mundo de hoje, a maioria não passa de 10 segundos).

Coincidência ou não, o procedimento ganhou força após a notícia exclusiva do Portal Sampi sobre o uso de servidor comissionado para fazer takes usados no perfil particular do prefeito-influencer, que rendeu uma denúncia do Avante ao Ministério Público contra o chefe do executivo.

Flávio Paradella é jornalista, radialista e podcaster. Sua coluna é publicada na Sampi Campinas aos sábados pela manhã, com atualizações às terças e quintas-feiras. É veiculada também pelo jornal OVALE Gazeta da RM Campinas, aos sábados. E-mail para contato com o colunista: paradella@sampi.net.

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