POLÍTICA

A briga política e a vacina da Dengue

Por Flávio Paradella | 01/02/2024 | Tempo de leitura: 4 min
Especial para a Sampi Campinas

Divulgação/Prefeitura de Dourados (MS)

Doses de vacina contra a dengue passaram longe de Campinas
Doses de vacina contra a dengue passaram longe de Campinas

O prefeito de Campinas, Dário Saadi (Republicanos), intensificou seu embate com o governo federal devido à ausência do município na lista do Ministério da Saúde para a distribuição das limitadas vacinas contra a dengue.

Apesar de enfrentar uma crise decorrente do significativo aumento de casos da doença no ano passado, somando-se a mais de 1,2 mil registros em 2024, Campinas não preenche os critérios prioritários para receber a vacina, pois não há circulação do sorotipo 2 da dengue na região.

Na semana passada, quando o governo Lula anunciou as cidades elegíveis para a vacinação, Dário expressou sua preocupação, enviando um ofício ao Ministério da Saúde, solicitando uma revisão dos critérios estabelecidos. Isso se deu em função do índice alarmante de propagação da doença na metrópole, onde 11% de todos os casos do estado de São Paulo em 2024 foram registrados em Campinas.

Publicamente, Dário demonstrou indignação nas redes sociais, anunciando que o Ministério da Saúde não alterou sua decisão, deixando o município sem vacinas. O prefeito elevou o tom de suas críticas, questionando a razão pela qual o governo federal não abre uma exceção para Campinas.

"Acho absurdo uma cidade como Campinas, enfrentando uma epidemia de dengue, ficar fora dessa fila. E torço para que não tenha nenhum componente político nessa decisão", disse o prefeito de Campinas.

O Ministério da Saúde segue com as regras debaixo do braço e que "a definição de um público-alvo e regiões para a vacinação foi necessária em razão da capacidade limitada de fornecimento de doses pelo laboratório – 6,5 milhões em 2024".

Carta na manga
Após a trágica epopeia da pandemia de Covid-19, a politização da vacinação não surpreende mais, sendo que o lado atacado muitas vezes se encontra sem argumentos, especialmente quando já adotou posturas semelhantes no passado.

O Ministério da Saúde estabeleceu critérios embasados em números e na necessidade de priorização. O prefeito Dário desempenha seu papel ao questionar tais escolhas, decidindo polemizar após receber apenas um "não" por meio de recursos "diplomáticos".

Além de ser uma questão de saúde, essa situação também se revela como uma jogada política, antecipando possíveis ataques dos opositores, especialmente do PT, em um ano eleitoral. Dário adota uma estratégia preventiva, pois, ao ser questionado sobre a escalada da doença na cidade, pode agora apresentar a carta de "o governo do PT negou a vacina contra a Dengue a Campinas".

Trincheira
Na linha de frente em defesa do PT, a vereadora Paolla Miguel iniciou na semana passada um contra-ataque diante do fato de Campinas ter sido excluída da lista para receber a vacina contra a dengue. Ela tratou a informação como 'Fake News' e acusou o prefeito e "páginas de grande alcance da nossa cidade" de mentirem.

O fato de Campinas não integrar a lista para receber as vacinas é incontestável. Não há espaço para interpretação. Há uma explicação? Sim, o Ministério da Saúde estabeleceu três critérios simples, e o município não atende a um deles: a circulação do Sorotipo 2. Este é um fato irrefutável. No entanto, explicar é uma coisa, justificar é outra completamente diferente. Em meio à epidemia que assola Campinas, poderia haver uma consideração para quebrar essa regra, o que seria um gesto político significativo por parte do governo federal, explorado pelo PT local para gerar uma agenda positiva.

No entanto, a vereadora optou por defender o governo, o partido e o presidente. Embora tenha anunciado um ofício para que Campinas possa receber a vacina em um próximo lote, essa medida, que deveria ser prioritária, ficou em segundo plano.

Compreendemos a política partidária e a militância, mas é questionável quando esses aspectos se sobrepõem ao bem comum. Questionar o Ministério da Saúde é legítimo agora, assim como foi anteriormente.

É interessante notar que nem mesmo o médico sanitarista e candidato do PT à prefeitura de Campinas, Pedro Tourinho, até o momento, entrou nesse debate nas redes sociais. Outros vereadores do partido, como Guida Calixto e Cecilio Santos, também não se pronunciaram em seus perfis oficiais.

Cemitério da Saudade
Na última coluna, abordei a triste situação que assola o Cemitério da Saudade há anos e mencionei que, no mesmo dia, a prefeitura anunciaria algumas melhorias. Parece que o "museu a céu aberto", frequentemente esquecido, finalmente receberá alguma atenção, começando pela troca e restauração do piso das ruas internas.

A proposta contempla a substituição de 11 mil metros de pedra portuguesa e 7 mil metros de piso intertravado. Esta intervenção, orçada em R$ 7 milhões, está sob a expectativa da Setec para ser concluída ainda este ano.

Embora seja um passo inicial, as obras assemelham-se a trocar o piso de uma casa destelhada, com infiltrações evidentes, problemas na fundação, fiação elétrica comprometida e vazamentos.

Resta aguardar essas melhorias que trarão apenas uma transformação estética, mas também esperar outras soluções efetivas para os problemas estruturais enfrentados pelo Cemitério da Saudade.

Flávio Paradella é jornalista, radialista e podcaster. Sua coluna é publicada na Sampi Campinas aos sábados pela manhã, com atualizações às terças e quintas-feiras. É veiculada também pelo jornal OVALE Gazeta da RM Campinas, aos sábados. E-mail para contato com o colunista: paradella@sampi.net.

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