POLÍTICA

Wandão nega, mas escancara a porta

O vice-prefeito de Campinas e secretário de relações institucionais, Wanderley de Almeida, afirmou desconhecer qualquer aproximação ou acordo entre o PSDB e o governo Dário Saadi.

Por Flávio Paradella | 27/01/2024 | Tempo de leitura: 6 min
Especial para a Sampi Campinas

Reprodução/FPX Cast

O vice-prefeito de Campinas e secretário de relações institucionais, Wanderley de Almeida, afirmou desconhecer qualquer aproximação ou acordo entre o PSDB, representado pelo deputado federal Carlos Sampaio, e o governo Dário Saadi para as próximas eleições em outubro. Wandão, como é conhecido, atua como o articulador político da administração e nega qualquer contato para retomar a aliança com os tucanos, mas ressalta que, se este for o desejo do partido, será "bem-vindo".

O vice participou do FPX Cast, podcast que eu conduzo, na quinta-feira, para compartilhar sobre sua trajetória política. Durante o programa, foi questionado sobre a movimentação do PSDB para reunir forças novamente com o grupo que governa a cidade desde 2013.

Wandão esclareceu que não teve conversas nesse sentido e trabalha com a certeza de que os tucanos apoiarão o adversário Rafa Zimbaldi, do Cidadania. Isso, apesar de Rafa Zimbaldi já ter reclamado publicamente do “assédio” e, inclusive, ter apontado para o 4º Andar a intenção de tirá-lo do cenário político por meio de uma manobra. Tal situação se deve ao fato de que PSDB e Cidadania formam uma Federação, mas os tucanos têm maior peso na decisão. Se desistirem de lançar uma candidatura própria, frustrariam os planos de Rafa.

Oficialmente, Wandão nega essa aproximação, porém, faz questão de destacar os laços antigos de amizade entre o prefeito Dário Saadi (Republicanos) e o deputado federal Carlos Sampaio. Os dois foram companheiros de partido e são amigos desde os tempos da Câmara de Campinas, no início do século.

Apesar das negativas, o articulador político fala abertamente, ao contrário de Dário, na campanha de reeleição do prefeito, com a possibilidade de reeditar a dobradinha. Ele trabalha, hoje, com a expectativa de enfrentar duas grandes forças: a liderança e o recall eleitoral de Rafa Zimbaldi e o empenho federal do governo Lula na candidatura de Pedro Tourinho (PT).

Wandão, mesmo diante de números positivos nas pesquisas de intenção de votos, destaca que a campanha será novamente dificílima. Ele ressalta que o ano apenas começou e que até outubro há um longo caminho a ser percorrido.

Polarização
Wandão descarta a possibilidade de o eleitor campineiro escolher um candidato com base em alianças políticas com Lula ou Bolsonaro. Apesar da intensa polarização nacional, o secretário ressalta que, no final das contas, o que realmente importa é a gestão municipal e a capacidade de resolver os problemas enfrentados pela população no dia a dia.

Para Wanderley de Almeida, investir em uma disputa ideológica, na qual se debate temas como "aborto" e "casamento homoafetivo", não faz sentido se o discurso não se traduzir em ações administrativas efetivas. Ele destaca que tais assuntos não são de competência da esfera municipal, ou seja, um prefeito pouco pode fazer a respeito.

O secretário enfatiza que, na prática, o que realmente impacta a vida das pessoas no município são as políticas locais, a eficiência da administração e a capacidade de solucionar as questões cotidianas da população. Dessa forma, ele argumenta que a escolha do eleitor será pautada pela avaliação da competência do candidato em gerir os problemas locais, indo além das questões ideológicas que têm dominado o cenário político nacional.

Relações Institucionais
Wandão está prestes a completar 12 anos à frente da Secretaria de Relações Institucionais, uma posição que o encarrega de dialogar com entidades da sociedade civil, sindicatos, instituições e atender partidos e políticos.

Durante esse período, o secretário tem se dedicado a alinhar acordos entre diferentes siglas em prol da governabilidade. Wandão destaca a importância de construir coalizões entre forças políticas distintas para garantir a eficácia da gestão. Ele ressalta que, no Brasil e no mundo, com exceção de países ditatoriais, as candidaturas eleitas governam por meio de uma coalizão entre diversas forças políticas. Aqueles que contribuíram para o sucesso da candidatura têm o direito de participar na formação do governo.

O papel do gestor, segundo o secretário, é absorver os entendimentos de cada partido ou político e definir as posições que resultarão em um desempenho mais eficaz dentro da administração.

Uma luta em atraso
Em 2023, o Brasil bateu o recorde de mortes por dengue, com 1.094 vidas perdidas, segundo o Ministério da Saúde. Em relação aos casos de dengue, em um ano, houve aumento de 16,8%, com uma alta de infecções para 1, 6 milhão em 2023. Os dados são do Sinan (Sistema de Informação de Agravos de Notificação).

E a previsão para esse ano é desoladora com uma expectativa de ultrapassar o 5 milhões de casos, com o surto em descontrole por todo o país.

A doença já tem uma vacina que é recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS). O imunizante, desenvolvido pela farmacêutica japonesa Takeda, conhecido como Qdenga, foi aprovado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) em março do ano passado já é oferecido por clínicas particulares desde julho.

Infelizmente para as camadas mais vulneráveis e afetadas pela Dengue, a vacina encontrou o trâmite burocrático da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias do SUS (Conitec), que avaliou o custo-benefício do imunizante para recomendar sua inclusão no Programa Nacional de Imunizações (PNI).

Some-se a isso, a informação do Jornal O Globo em 3 de julho de 2023 dava conta que, apesar da crise, o Ministério da Saude priorizava fortalecer a produção nacional também no caso da vacina da dengue com um imunizante sendo desenvolvido pelo Instituto Butantan, mas que sequer teve a pesquisa concluída.

Com a avalanche de casos, a óbvia, necessária e atrasada liberação da vacina japonesa só aconteceu em 20 de dezembro de 2023 e assim ela foi incorporada ao PNI, porém com enormes restrições pois o laboratório tem dificuldades em fabricar a quantidade necessária a um país continental em epidemia.

Sem vacina pra Campinas
Com pouco estoque, o Ministério da Saúde escolheu 521 municípios com mais de 100 mil habitantes e com alto volume de casos de dengue tipo 2 para receber o primeiro lote. Campinas, que teve mais de 11,2 mil casos em 2023 e já contabiliza 885 somente em janeiro, ficou de fora. Guarulhos, cidade do mesmo porte, com 1.825 registros no ano passado, foi contemplada. A suposta explicação: Campinas não tem registro do sorotipo DENV-2, que não circula no município desde 2021.

O prefeito Dário Saadi reagiu e enviou um ofício ao Ministério da Saúde para reivindicar o envio de vacinas contra a dengue.

"Estamos enfrentando uma guerra contra a dengue na cidade, que está com alta de casos. A vacina é mais uma aliada contra essa doença que mata. Estou recorrendo ao Ministério da Saúde para que eles avaliem os dados epidemiológicos de Campinas e possam enviar doses para a nossa cidade”, ressaltou o prefeito.

Flávio Paradella é jornalista, radialista e podcaster. Sua coluna é publicada na Sampi Campinas aos sábados pela manhã, com atualizações às terças e quintas-feiras. É veiculada também pelo jornal OVALE Gazeta da RM Campinas, aos sábados. E-mail para contato com o colunista: paradella@sampi.net.

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