POLÍTICA

A derrocada predatória do PSDB

O PSDB enfrenta uma decadência nacional, enquanto em Campinas a derrocada começou mais cedo, marcada por desentendimentos, disputas de poder e egos inflados já nos anos 2000

Por Flavio Paradella | 20/01/2024 | Tempo de leitura: 4 min
Especial para a Sampi Campinas

Reprodução

Diante da atual crise de relacionamento entre Rafa Zimbaldi (Cidadania) e Carlos Sampaio (PSDB), a situação dos tucanos, outrora protagonistas no cenário político, agora fica em segundo plano. O PSDB governou a cidade com o lendário José Roberto Magalhães Teixeira e exerceu grande influência na política campineira até os primeiros anos deste século.

O partido foi lar de figuras proeminentes, incluindo o atual prefeito Dário Saadi, os ex-prefeitos Jonas Donizette e Pedro Serafim, a ex-secretária de estado Célia Leão, o agora secretário municipal Artur Orsi, entre outros.

Contudo, a legenda enfrenta uma decadência nacional, enquanto em Campinas a derrocada começou mais cedo, marcada por desentendimentos, disputas de poder e egos inflados já nos anos 2000. Esses eventos transformaram o PSDB em uma pálida lembrança de suas antigas lideranças e influência política.

Atualmente, a sigla não determina mais os rumos políticos e é utilizada como moeda de troca entre diferentes candidaturas, como evidenciado na atual "DR" entre Zimbaldi e Sampaio, e na recente reaproximação deste último com Saadi. O que era outrora o principal antagonista do PT agora se encontra relegado a um segundo, ou talvez até terceiro escalão.

Para ilustrar esse declínio, o PSDB não apresenta candidato próprio à prefeitura de Campinas desde 2008, quando Carlos Sampaio foi o último candidato tucano, na eleição vencida por Hélio de Oliveira Santos em primeiro turno. Na última década, o partido compôs chapa indicando o vice de Jonas (2012 e 2016) e de Rafa (2020).

Outro indicativo da decadência tucana é a representação na Câmara Municipal. Em 2004, o partido elegeu 10 vereadores. Duas décadas depois, o PSDB tem apenas um parlamentar ligado à legenda, Luiz Cirilo, que, mesmo assim, é esperado deixar o partido na próxima janela partidária deste ano, segundo fontes do comando tucano.

Uma característica pouco conhecida da natureza tucana é a predação. Tidoscomo animais exuberantes de bicos arrebitados, os tucanos atacam ninhos menores em busca de sobrevivência. Em Campinas, esse comportamento predatório se voltou contra a própria espécie, transformando o reino animal em algo animalesco. O tucano, também na política, é um indivíduo em extinção.

Reconstrução
Guilherme Damasceno, o novopresidente municipal do PSDB em Campinas, procurou a coluna para compartilhar a visão do partido sobre o desenrolar das relações entre Carlos Sampaio, Rafa Zimbaldi e Dário Saadi, além de discutir os rumos futuros da legenda.

Com seus 30 e poucos anos, Damasceno reconhece que o momento exige uma reconstrução abrangente do partido em todas as esferas: municipal, estadual e federal. Em Campinas, descreve a complicada situação, enfatizando a necessidade de um recomeço focado em levantar e desenvolver lideranças com viabilidade eleitoral.

O presidente destaca a fragilidade evidenciada pela novela política em torno de trocas de apoio. Apesar das idas e vindas, discussões públicas e apoios diversos, Damasceno revela que até o momento nenhum possível candidato a prefeito de Campinas buscou o diretório municipal do PSDB para apresentar um projeto e solicitar apoio dos filiados.

Critica a abordagem "de cima para baixo", ressaltando que, no momento crucial, será o diretório municipal que decidirá. Damasceno reconhece a integração com o Cidadania, mas destaca que o PSDB obteve maior sucesso nas eleições de 2020, garantindo protagonismo na Federação.

Damasceno compreende a ansiedade de Rafa Zimbaldi para definir o futuro, especialmente diante do prazo da janela partidária. No entanto, ele cobra diálogo do deputado estadual, insistindo que as conversas devem ocorrer em âmbito municipal, incluindo a apresentação de propostas e a aproximação com os membros que compõem o partido.

Acenos Direitistas
Uma hora ou outra, o prefeito de Campinas, Dário Saadi (Republicanos), tem feito menções a pautas mais conservadoras em suas postagens. As referências a esses apoios costumam surgir, como dizem alguns, "do nada", chamando a atenção dos observadores.

O mais recente posicionamento direitista do prefeito ocorreu em um pronunciamento nas redes sociais, abordando o Projeto de Lei que propõe o fim das saídas temporárias de presos, conhecidas como 'saidinhas'. Dário Saadi expressou apoio ao movimento liderado por Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Romeu Zema (Novo), instando a aprovação da mencionada proposta.

No pronunciamento, o líder do executivo campineiro declarou apoio aos governadores que defendem a restrição das 'saidinhas', afirmando:“(Os governadores) têm todo o meu apoio contra as saidinhas. Essa medida é para já! E ela precisa muito da sua ajuda para ser aprovada”, escreveu Dário nas redes sociais

Tourinho tímido
O candidato do PT à prefeitura de Campinas, Pedro Tourinho, ainda não conseguiu impulsionar efetivamente sua pré-campanha, apesar de algumas melhorias visuais nas redes sociais, como materiais mais bem editados e uma nova identidade visual com a criação de uma logo marca.

Apesar do aprimoramento estético, a presença digital de Tourinho ainda énotavelmente escassa. Suas postagens são espaçadas e, até a manhã desta sexta-feira, foram apenas duas publicações na última semana. Um dos posts abordou o atraso nas obras da Avenida Campos Salles, enquanto o outro discutiu a disponibilidade de absorventes na Farmácia Popular.

Essa quantidade limitada de conteúdo é insuficiente, especialmente quando se enfrenta um prefeito em busca da reeleição e um deputado estadual em pleno exercício do mandato. A pré-campanha de Tourinho enfrentadesafios para ganhar tração e engajaro eleitorado, inclusive o da militância.

Flávio Paradella é jornalista, radialista e podcaster. Sua coluna é publicada na Sampi Campinas aos sábados pela manhã, com atualizações às terças e quintas-feiras. É veiculada também pelo jornal OVALE Gazeta da RM Campinas, aos sábados. E-mail para contato com o colunista: paradella@sampi.net.

1 COMENTÁRIOS

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  • BETOANTUNES
    20/01/2024
    É política no Brasil não tem direita e nem esquerda, o que existe é um jogo de poder.