POLÍTICA

As apostas antagônicas em 2024

Por Flávio Paradella | 07/01/2024 | Tempo de leitura: 4 min
Especial para a Sampi Campinas

Divulgação/Câmara

Os vereadores de Campinas; Paolla Miguel (PT); Nelson Hosri (PSD)
Os vereadores de Campinas; Paolla Miguel (PT); Nelson Hosri (PSD)

Na eleição municipal de Campinas, dois vereadores se destacam como principais catalisadores de votos para suas respectivas legendas, evidenciando a contínua polarização política que mantém seu pulsar em um país dividido. Paolla Miguel, representante do PT, e Nelson Hossri, do PSD, emergiram como protagonistas de suas vertentes ideológicas, antagônicas entre si, delineando o panorama eleitoral que definirá a nova composição legislativa a partir de 2025. Ouso dizer que serão os mais votados.

Paolla Miguel, figura proeminente na bancada de esquerda, irrompe como uma voz singular. Com seu primeiro mandato, a jovem vereadora se distinguiu no plenário por sua defesa fervorosa de pautas progressistas. Vinculada aos movimentos estudantis e LGBTQIAPN+, Paolla possui o que é conhecido como um "lugar de fala". Sua narrativa, enraizada na experiência como mulher negra de origem menos favorecida, ressoa ao expor a dura realidade, conectando-se e ampliando seu eleitorado.

Além disso, sua comunicação pelas redes sociais experimentou uma melhora notável e progressiva. Paolla demonstra desenvoltura na criação de conteúdo que engaja e retém os usuários das plataformas. Anteriormente focada em críticas ao bolsonarismo e, a partir de 2023, direcionando sua atenção para o governo de Dário Saadi (Republicanos), hoje apresenta uma estética renovada e amigável. Seus materiais são habilmente editados, evidenciando o investimento do mandato (e do partido) na proeminente parlamentar.

No espectro ideológico oposto figura Nelson Hossri, autointitulado "A Voz da Direita de Campinas". Vereador por dois mandatos, Hossri ingressou na política com uma plataforma antídoto às drogas, colaborando com o governo anterior para implementar políticas de combate ao uso de entorpecentes. Entretanto, desentendimentos políticos resultaram no rompimento com o ex-prefeito Jonas Donizette (PSB), transformando Hossri em um dos principais opositores na Câmara de Campinas, crítico ferrenho da administração.

Simultaneamente à sua oposição a Jonas, Hossri se alinhou aos ideais bolsonaristas: valores conservadores, defesa da família e da religiosidade. Com a ascensão de Dário e o PSD integrando o governo, o vereador adotou integralmente pautas de Direita, antagonizando fortemente a bancada de esquerda e, especialmente a partir deste ano, o PT. Em seus discursos no plenário e nas redes sociais, também estrategicamente produzidas, Hossri é incisivo: "Limpando as cacas da esquerda" é seu mantra. Branco e proveniente de uma origem mais privilegiada, Nelson personifica o extremo oposto de Paolla.

Esses dois campos políticos institucionalizaram a polarização, reduzindo-a a uma binaridade entre Lula e Bolsonaro, sem espaço para outros pensamentos. Assim, é plausível a perspectiva de uma disputa legislativa protagonizada por esses dois vereadores tão antagônicos, cada qual portando suas bandeiras distintas.

Limpeza Urbana
O vereador Paulo Gaspar formalizou um requerimento na Câmara Municipal de Campinas, solicitando a instauração de uma Comissão Especial dedicada ao estudo da Limpeza Urbana no município.

De acordo com o parlamentar, as ocorrências são numerosas, especialmente relacionadas aos catadores que frequentemente derrubam lixeiras, resultando no descarte de resíduos pelas vias públicas. Ele destaca a necessidade de analisar a logística envolvida na coleta de lixo nos bairros, bem como questões cruciais como a gestão da reciclagem, o papel dos catadores independentes e das cooperativas, além da limpeza das ruas.

Gaspar, também presidente da Comissão que investiga a População de Rua de Campinas, ressalta a interconexão entre os temas dessas duas comissões. Ele aponta que a realidade das pessoas em situação de rua, vivenciando extrema vulnerabilidade, impõe desafios significativos ao sistema de limpeza urbana, sobretudo na região central, onde há uma concentração expressiva desses cidadãos.

Debaixo do nariz
É intrigante notar que um dos pontos mais emblemáticos que evidenciam a necessidade do pedido feito pelo vereador está localizado nas proximidades da prefeitura, à vista do Palácio dos Jequitibás: o Largo das Andorinhas.

A praça, com 1,7 mil metros quadrados, apresenta um monumento imponente em frente ao histórico Colégio Carlos Gomes, mas infelizmente é um retrato fiel de um centro urbano em declínio.

Vandalismo, pichações, negligência na manutenção e, frequentemente, acúmulo de lixo e descarte irregular são elementos quase rotineiros nesse espaço, com contêineres muitas vezes revirados ou tombados.

Se nos anos 1980 essa praça era imponente, adornada com um chafariz e um paisagismo exuberante, hoje reflete a triste realidade atual dessa área central.

Expectativa ultrapassada
Até o momento, o programa de Recuperação Fiscal (Refis) registrou a concretização de mais de 9,5 mil acordos de dívidas, totalizando um montante expressivo de R$ 237,4 milhões em negociações. Desta cifra, aproximadamente R$ 83 milhões já ingressaram nos cofres da Prefeitura, provenientes de pagamentos à vista e das primeiras parcelas dos acordos estabelecidos.

O saldo remanescente está agendado para quitação em datas subsequentes, sendo que os dados atuais são parciais e contemplam informações até o dia 28 de dezembro.

Para a administração municipal, esses números representam uma performance bastante positiva, considerando que a projeção inicial era de arrecadar apenas R$ 60 milhões por meio do Refis durante o ano de 2023.

Flávio Paradella é jornalista, radialista e podcaster. Sua coluna é publicada na Sampi Campinas aos sábados pela manhã, com atualizações às terças e quintas-feiras. É veiculada também pelo jornal OVALE Gazeta da RM Campinas, aos sábados. E-mail para contato com o colunista: paradella@sampi.net.

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