POLÍTICA

As vaias e o Pedro de Lara

“A voz da Direita em Campinas” ganhou o apelido ‘Pedro de Lara’ nos bastidores do legislativo de Campinas.

Por Flávio Paradella | 14/12/2023 | Tempo de leitura: 4 min
Especial para a Sampi Campinas

Divulgação

Pedro Ferreira dos Santos, nascido em Bom Conselho, Pernambuco, deu início à sua jornada artística na década de 1960 na Rádio Rio de Janeiro. Em 1964, tornou-se membro do júri no programa de Chacrinha, na TV Tupi, onde conheceu Silvio Santos, que mais tarde o levou para o SBT.

Conhecido como Pedro de Lara, ele se destacou como uma figura influente no "Show de Calouros", apresentado por Silvio Santos na década de 1970 e 1980. Sua presença como jurado de auditório era marcada por uma postura conservadora e moralista.

Não ligava para as vaias que vinham da plateia. Por sinal, os protestos o animavam e o instigavam, inclusive, para confrontar aqueles que manifestavam a insatisfação com algumas de suas falas polêmicas. Entrou para a história da TV como uma figura jocosamente ranzinza, polêmica e folclórica.

Tão marcado é que passou a emprestar o nome para outros que atuam pelo antagonismo e nutrem um gosto quase, digamos, libidinoso pela vaia. É o caso do vereador Nelson Hossri (PSD) da Câmara de Campinas.

“A voz da Direita em Campinas” ganhou o apelido ‘Pedro de Lara’ nos bastidores do legislativo de Campinas. Com sua postura conservadora, Hossri adota discursos de enfrentamentos, e por vezes até ofensivos, contra colegas de plenário da bancada de esquerda. O parlamentar aproveita praticamente todas as oportunidades para questionar, rebater e provocar os adversários de espectro oposto.

Não só isso, Hossri levanta projetos que causam ojeriza na esquerda, porém também, paradoxalmente, gera um enorme palanque para os colegas. O último caso foi o resgate da proposta de 2019 de internação compulsória de usuários de drogas em situação de rua. O projeto com enorme dificuldade para ser aprovado, sancionado e chancelado juridicamente, mesmo assim voltou à pauta da Câmara a beira de um ano eleitoral (alguma semelhança com 2019?).

O projeto já vinha sendo empurrado com a barriga por algumas sessões pela conveniente falta de quórum, mas isso vinha aumentando a fila e travando a pauta da Casa de Leis. Na sessão de segunda, a proposta seria enfim votada e o plenário ficou lotado de manifestantes contrários em que mal se ouvia o que estava sendo discutido. Era o palco esperado e, acredito fortemente, adorado por Hossri, em momento Pedro de Lara. No fim das contas, o PL foi adiado por uma manobra da base do governo com o pedido de vistas.

Um adendo: a base não nutre o mesmo sentimento pela vaia para aprovar um projeto de internação compulsória, mas vários destes vereadores são também pautados por um discurso conservador e não se sentem nem um pouco à vontade em barrar a proposta. Por isso, a saída foi a manobra e deixar a proposta no ‘limbo”.

Politicamente, Nelson Hossri criou material para campanha em 2024 e já gera engajamento orgânico com as polêmicas em suas redes sociais, e coloca nas costas da base a não aprovação.

Os vereadores de esquerda, por mais que critiquem, também aproveitam a oportunidade para desfrutar dos mesmos benefícios, com interações, mobilizações e demonstração de força para descartar que ideias que não sigam as próprias agendas sejam aprovadas.

Os vereadores de centro e/ou base é que saem chamuscados como jurados que não conseguiram apontar um veredicto e descontentes com a repetição de shows que flertam com a inconstitucionalidade.

Enquanto isso, tal qual Pedro de Lara, Hossri segue com apresentações que confrontam a plateia que ‘ama’ odiá-lo.

Uma última informação sobre o finado comediante e ator Pedro de Lara. Ele também participou do "Programa do Ratinho" e do programa do palhaço Bozo.

Descontentes
Vamos falar sobre o descontentamento da base do governo citado no texto acima. Nelson Hossri hoje faz parte do grupo de apoio ao prefeito Dário Saadi (Republicanos). O partido de Hossri, o PSD, ocupa cargos no alto escalão.

As controvérsias do vereador no plenário causam constrangimentos e embaraços aos parlamentares que se veem emparedados a discutir temas que, por mais que possam até concordar, não querem debater.

Além disso, reclamam da ausência de Hossri em sessões com votações de matérias enviadas pelo executivo. Para finalizar, o parlamentar tem, ultimamente, atacado a secretaria de Assistência Social e Cidadadia, Vandecleya Moro.

Nos corredores da Câmara, a situação gera desconforto sobre a (falta de) atuação do governo Dário para adestrar o aliado. A sensação dos vereadores é que ele está sem rédeas e o governo não tem coragem de impor o limite.

A última ordinária
Na última reunião ordinária do ano, a sessão foi bem mais tranquila nesta noite de quarta-feira. Os vereadores aprovaram o projeto que extingue quatro cargos comissionados e cria outras 20 funções de livre nomeação na Rede Hospitalar Mário Gatti e a proposta que estabelece que cabe à prefeitura decretar os valores das tarifas de remoção, transporte, estadia e guarda de veículo de motoristas infratores; a Emdec ficará liberada da atual obrigação.

E foi isso, lógico com a votação de outras honrarias que constavam na pauta.

E o orçamento?
Ah, o orçamento municipal vai passar por votação em sessão extraordinária nesta sexta-feira. A Câmara alega que a pauta foi tumultuada e travada neste mês de dezembro, o que levou a necessidade de convocar a reunião fora da agenda usual, mas convenhamos que a medida não é nada incomum no legislativo sedento pelo recesso.


Flávio Paradella é jornalista, radialista e podcaster. Sua coluna é publicada na Sampi Campinas aos sábados pela manhã, com atualizações às terças e quintas-feiras. É veiculada também pelo jornal OVALE Gazeta de Campinas, aos sábados. E-mail para contato com o colunista: paradella@sampi.net.

1 COMENTÁRIOS

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  • Pedro Carlo Tancredo
    21/02/2024
    A proposta do vereador, considerado de extrema direita, é um anseio da população de Campinas que vê a população de rua no município crescer a cada dia. Esta situação degrada ainda mais regiões como o centro da cidade, o terminal Central, a ponte da Avenida Alberto Sarmento que cruza a Via Expressa Lix da Cunha, dentre outros. Nota-se nesse aspecto um total descaso do poder público com cidadãos brasileiros que estão totalmente entregue às drogas e praticando diversos tipos de ilícitos em função de sua situação. Pergunto ao colunista qual seria então a alternativa para devover a dignidade àquelas pessoas? Pergunto aos \"bem intencionados\" que deixaram os seus afazeres para se direigirem à câmara de vereadores da cidade, para denigrir o projeto, porque não estão ajudando esses cidadãos que ao continuarem em tal situação colocam as suas vidas em risco, a de outros cidadãos e o comércio em geral dessas regiões, ceifando empregos e oportunidades daqueles que querem trabalhar....