POLÍTICA

Demonstração de força do Palácio dos Bandeirantes

Por Flávio Paradella | 07/12/2023 | Tempo de leitura: 4 min
Especial para a Sampi Campinas

Reprodução

Votação da privatização da Sabesp virou palco de guerra entre manifestantes, deputados e a PM
Votação da privatização da Sabesp virou palco de guerra entre manifestantes, deputados e a PM

É inegável a vitória do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) com o resultado na Assembleia Legislativa sobre a privatização da Sabesp, a companhia estatal de saneamento. Atualmente, o Estado detém 50,3% do capital da empresa. A conturbada sessão teve desfecho favorável ao plano de vender a empresa com 62 votos favoráveis e apenas um contrário, isso porque deputados estaduais de oposição se retiraram do plenário após uma violenta confusão causada por manifestantes.

O governador do estado foi às redes sociais comemorar: "Dia histórico para São Paulo! Parabéns aos bravos parlamentares da @AssembleiaSP que aprovaram a privatização da Sabesp. A coragem com que enfrentaram os ataques dos que não têm argumentos ajudará a construir um legado de universalização do saneamento, de despoluição de mananciais, de aumento da disponibilidade hídrica, de saúde para todos. Vocês estão ajudando a construir um novo futuro!"

Vamos recapitular, Tarcísio de Freitas foi eleito com um discurso e um perfil de diminuição do estado. Quando ministro do ex-presidente Jair Bolsonaro comandou a venda de ativos estatais do Governo Federal e a retomada e entrega de obras. A fama do atual chefe do executivo paulista se fez dessa forma, e no pleito de 2022 o então candidato usou exatamente esta plataforma. Seria uma surpresa se, simplesmente, Tarcísio abandonasse a ideia, porém acontece muito no meio político.

Desde que foi eleito, Tarcísio iniciou os estudos para a privatização da Sabesp e ao final do primeiro ano de mandato teve a proposta aprovada pela ALESP. Um triunfo simbólico? Afinal a venda da empresa depende, inclusive, da anuência dos vereadores da capital. Não. Foi um triunfo político, pois, mostrou força de aglutinação e convencimento em um assunto extremamente espinhoso, que envolve venda de patrimônio, mexer com servidores públicos e vagas para comissionados.

Sobre a Sabesp, apenas 66 municípios dos 375 sob responsabilidade da Sabesp são atendidos 100% com água e esgoto. A Sabesp não atende apenas a capital. A pretendida privatização impõe uma regulação que incentiva o aumento de eficiência e de investimentos da Sabesp para que o Marco do Saneamento Básico seja cumprido até 2033. De acordo com o texto do projeto, com a desestatização, a Sabesp terá R$ 10 bilhões a mais em investimentos durante o período. O projeto de lei aprovado também estabelece que uma parte dos recursos gerados no processo de desestatização seja revertida em obras de saneamento básico e na redução da tarifa para os consumidores.

Se a responsabilidade dos investimentos e gestão saem dos ombros do governo, a cobrança para que as metas sejam atingidas precisa ser seguida de maneira veemente para que venda da empresa não se torne um tiro n’água no futuro.

De volta para o passado
Confusão, empurra-empurra, violência e briga por causa de uma discussão para privatizar empresa pública é tão anos 90. Quem viveu aquela época reviveu cenas com a inacreditável luta que começou quando manifestantes convocados pela oposição ao projeto começaram a forçar e depredar a barreira de vidro do plenário.

Descontentes com a iminência da derrota na ALESP, os integrantes do ato queriam invadir a parte destinada aos parlamentares e impedir a votação. Houve intervenção estatal com a Polícia Militar e feridos ensanguentados de ambos os lados. A sessão foi interrompida por 1h32min, o plenário foi esvaziado, e, por volta das 20h, a sessão foi retomada. Uma barbárie na Casa do Povo.

Outra coisa. Não concordar com resultado, tentar invadir, depredar e agredir para tentar mudar algo que não concorda não lembra demais os golpistas de 8 de janeiro?

Deputados da região
A região de Campinas tem noves deputados na ALESP e apenas Ana Perugini (PT) foi contra a privatização. Por sinal, ela sequer votou pois o bloco de parlamentares da oposição, PT, PSOL, PSB e Rede, deixaram o plenário após confusão da PM com os manifestantes.

Barros Munhoz (PSDB), Clarice Ganem (PODEMOS), Dirceu Dalben (Cidadania), Gilmaci Santos (Republicanos), Oseias de Madureira (PSD), Rafa Zimbaldi (Cidadania), Rogério Nogueira (PSDB) e Valéria Bolsonaro (PL) votaram pela venda da Sabesp.

Judicialização
Com a aprovação, os deputados contrários à privatização já prometeram que vão recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF).

Flávio Paradella é jornalista, radialista e podcaster. Sua coluna é publicada na Sampi Campinas aos sábados pela manhã, com atualizações às terças e quintas-feiras. É veiculada também pelo jornal OVALE Gazeta de Campinas, aos sábados. E-mail para contato com o colunista: paradella@sampi.net.

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