POLÍTICA

Tempestade política para Dário

Por Flávio Paradella | 24/10/2023 | Tempo de leitura: 4 min
Especial para a Sampi Campinas

Reprodução

Eucalipto que caiu no Taquaral em janeiro e vitimou uma criança de 9 anos
Eucalipto que caiu no Taquaral em janeiro e vitimou uma criança de 9 anos

As palavras do Ministério Público foram duras, classificando a gestão de Dário Saadi (Republicanos) como tendo uma "completa incapacidade" para o manejo das árvores em espaços públicos de Campinas. A "negligência" alegada teria resultado em duas mortes evitáveis na cidade. O Ministério Público move uma ação civil contra a Prefeitura, requerendo uma indenização de R$ 1 milhão por danos morais coletivos, alegando que a administração teve uma “postura irresponsável".

A tormenta para o prefeito se desdobrou a partir da promotoria, que analisou os episódios trágicos ocorridos devido às fortes chuvas do último verão. Estes incluem a morte de um técnico de eletrônica de 36 anos no Bosque dos Jequitibás no final do ano passado, e de Isabela Fermino, de apenas 7 anos, na Lagoa do Taquaral, em janeiro.

O promotor de Justiça José Fernando Vidal de Souza, responsável pela ação, afirma que relatórios do próprio Ministério Público "comprovam que o acidente em razão da queda de uma árvore figueira no Bosque dos Jequitibás poderia ter sido evitado se o Município tivesse avaliado a árvore em momento oportuno e tomado as medidas adequadas".

A Prefeitura de Campinas respondeu que a defesa do município será apresentada no processo judicial e que a lisura da administração municipal será comprovada.


Contudo, o estrago político parece inevitável. O documento apresentado pelo Ministério Público é robusto, repleto de documentação e palavras incisivas. Analisa meticulosamente a sequência de eventos que culminou na morte de duas pessoas. A situação se configura como um revés administrativo e político para o prefeito Dário Saadi, que vê sua gestão envolvida em uma ação civil de tamanha contundência. O prefeito será alvo de ataques dos adversários políticos, que usarão as palavras impactantes proferidas pela promotoria para questionar sua administração.

Ainda não há data para uma sentença, mas este é um assunto extremamente espinhoso, que abriu uma ferida considerável nos corações dos habitantes de Campinas. O apontamento da promotoria, classificando a administração como irresponsável e negligente, coloca o gabinete de Dário Saadi em um estado crítico.

Palavras machucam
O vereador Paulo Gaspar (Novo) foi um dos primeiros a expressar críticas ao prefeito, após a divulgação da ação civil por parte da promotoria. Em um comunicado, o vereador afirmou que "o Ministério Público Estadual, em concordância com o relatório da Comissão de Arborização do Legislativo, alegou que houve negligência da Prefeitura no manejo das árvores que caíram e causaram as duas mortes em Campinas".

É importante ressaltar que, embora a crítica seja válida, o Ministério Público chegou a essa conclusão com base em suas próprias avaliações, e não devido ao relatório da comissão. Os vereadores desempenharam um excelente trabalho ao coletar depoimentos, investigar as condições das árvores no local e reunir uma documentação substancial. No entanto, é crucial separar os méritos de ambas as partes.

Adicionalmente, é relevante mencionar que, apesar do intenso e significativo esforço, o relatório da comissão não foi validado, devido à entrega fora do prazo pelos parlamentares.

Plano antienchente
Coincidência ou não, a gestão divulgou que o prefeito Dário Saadi esteve nesta segunda-feira no BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), no Rio de Janeiro, para uma reunião com o presidente da instituição, Aloísio Mercadante. O encontro teve como pauta a liberação de R$ 517 milhões em investimentos para as obras de drenagem na cidade. Outro problema crônico do município na temporada de chuvas intensas.

Em março de 2022, Dário apresentou o plano antienchente com sete reservatórios, sendo seis novos, além de uma galeria e três reforços em travessia de água. As obras realizadas em dois córregos da bacia do Ribeirão Anhumas: no córrego Serafim, que fica na Orosimbo Maia; e no Proença, na Princesa D'Oeste.

Belo projeto, mas que a prefeitura não tem a menor condição de tocar sozinha e desde então espera pela avaliação de financiamento. Agora, a gestão afirma que o projeto avançou e foi para a última etapa de análise.

Cantando na chuva
Quem está “cantando na chuva” de felicidade ou “todo pimpão”, como disseram na Câmara de Campinas, é o ex-presidente da casa, Zé Carlos (PSB), que teve a investigação de suposta rachadinha arquivada pelo Ministério Público por não existir indícios suficientes a embasar uma ação judicial contra o vereador neste caso.

Zé Carlos chegou a enviar pelo Whatsapp uma arte com a reprodução da notícia.

É, realmente, uma vitória do combalido ex-presidente, que se viu envolto a grave denúncias e precisou renunciar ao comando do legislativo.

Zé Carlos ainda responde pelas supostas irregularidades em contratos terceirizados da Câmara.

Flávio Paradella é jornalista, radialista e podcaster. Sua coluna é publicada na Sampi Campinas aos sábados pela manhã, com atualizações às terças e quintas-feiras. É veiculada também pelo jornal OVALE Gazeta de Campinas, aos sábados. E-mail para contato com o colunista: paradella@sampi.net.

1 COMENTÁRIOS

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  • Teresinha de Carvalho
    25/10/2023
    Fácil para o MP emitir sua opinião, sentado confortavelmente numa sala com ar condicionado. Eu duvido que haja possibilidade de qualquer cidade do mundo ter um diagnóstico preciso de árvores saudáveis não caírem diante da imensurável força da natureza. Muitas árvores que caíram estavam saudáveis e nesse diagnóstico dos técnicos de plantão, constaria isso. Eu espero sinceramente que a Justiça seja feita é esse posicionamento do MP seja revisto. Moro em área rural e mesmo árvores nativas sucumbem com a força da natureza. Que dirá árvores inadequadas plantadas na cidade. É que venham as eleições, afinal, sempre temos urubus nos cadáveres!