POLÍTICA

A obrigatória guerra de Dário

A partir de agora, o que se espera do chefe do executivo é o enfretamento com vigor da situação e um posicionamento duro sobre a situação. Não há meio termo para Dário.

Por Flávio Paradella | 21/09/2023 | Tempo de leitura: 4 min
Especial para a Sampi Campinas

Flávio Paradella

Um novo capítulo da desgastada história sem fim que se tornou a licitação do sistema de transportes de Campinas teve como cenário o Palácio dos Jequitibás, no episódio que todos esperavam ser o final, mas uma reviravolta deixou em aberto, de novo, o insistente e chato roteiro dos ônibus da cidade.

Nesta quarta-feira, enfim aconteceria a abertura dos envelopes do novo edital, contestado, barrado e refeito inúmeras vezes. Para se ter uma ideia, a prefeitura adequou o processo aos pedidos do Ministério Público e Tribunal de Contas do Estado e, mesmo assim, a licitação foi alvo de 20 ações na Justiça, questionamentos no TCE e na própria prefeitura, com o objetivo de suspender o processo licitatório. Ele foi mantido.

A licitação tem valor de R$ 8,2 bilhões, com prazo de concessão por um período de 15 anos, prorrogável por mais cinco. A licitação também abrange a operação e manutenção do BRT.

Mas o sistema, amigos, é duro. No dia mais esperado foi como se alguém se manifestasse em um casamento, porém no caso foi exatamente o contrário pois os representantes das empresas presentes na solenidade se calaram e não apresentaram propostas.

Como em jogo de pôquer, os interessados desistiram das cartas. Um blefe? Talvez, mas é inadmissível que as cidades sofram esse emparedamento de grupos econômicos que alternam contratos por um país continental.

Sem saída, a licitação foi declarada deserta e agora o Governo Dário Saadi avalia quais serão os próximos passos a serem tomados, afinal a administração afirma que atendeu a todos os pedidos realizados pelos órgãos de controle externos.

Entre as indicações está o manejo do sistema de bilhetagem que na nova licitação sai das mãos das empresas concessionárias e passa a ser administrado pela EMDEC. Esse, sem dúvida, é o ponto de uma tensa queda de braço que precisa ser conduzida com firmeza pelo prefeito, Dário Saadi.

A partir de agora, o que se espera do chefe do executivo é o enfretamento com vigor da situação e um posicionamento duro sobre a situação. Não há meio termo para Dário. Ou ele parte para o ataque, ou será considerado indulgente e, pior, conivente.

Que a prefeitura compre a briga, acione os órgãos competentes e bata de frente com o mecanismo que prejudica a população. Já passou muito do tempo dessa licitação sair do papel, afinal o transporte de Campinas é caro e ridículo. Um passageiro mal atendido por um serviço velho e decrépito. São 444 mil pessoas sendo humilhadas diariamente. Parta para cima, prefeito.

Enfurecido
O prefeito Dário Saadi segue em viagem com a Frente Nacional dos Prefeitos (FNP) pela China e foi comunicado sobre a manobra realizada no edital de licitação dos transportes.

Dário já disse várias vezes que a situação do edital o incomoda profundamente por não conseguir efetivar a licitação que há anos está travada.

Interlocutores ouvidos pela coluna informam que o prefeito ficou enfurecido com o novo impasse gerado e quer auxílio da promotoria e do Tribunal de Contas para encontrar meio de tirar do papel o processo.

Repercussão
Na Câmara de Campinas, o vereador Cecílio Santos (PT) subiu à tribuna para lamentar o novo imbróglio na licitação do transporte. O petista considera que “o lobby das empresas” gerou o a licitação deserta e sugeriu que a prefeitura enfrente as concessionárias estatizando áreas de exploração do sistema. Segundo Cecílio, isso provocaria uma reação das empresas que hoje emparedam a cidade e oferecem um serviço deplorável ao passageiro.

Gustavo Petta (PCdoB) foi outro parlamentar a usar o pequeno expediente e foi ainda mais duro em relação ao impasse. “As empresas de ônibus dessa cidade estão chantageando a cidade de Campinas. As empresas não querem uma nova licitação para manter os seus privilégios já considerados ilegais, inclusive pelo poder judiciário”, afirmou Gustavo Petta.

Após a fala dos vereadores de oposição, Rodrigo da Farmadic (União) fez um discurso no qual defendeu a lisura do processo e dos secretários envolvidos. O parlamentar enfatizou que a prefeitura não pode obrigar empresas a aceitarem o que está disposto no edital, porém lembrou que a Câmara tem mecanismos para convocar e questionar os representantes das empresas para esclarecimentos e que o legislativo tem a obrigação de usá-los.

Que a Câmara faça a sua parte e não fique apenas no discurso, pois existem Comissões, Frentes, Requerimentos e tantos outros meios para levantar informações e colocar uma luz. Que convoquem secretários, empresários, promotores e representantes do TCE.

Um apelo aos vereadores. Deixem os discursos ideológicos de direita e esquerda, identitários, de costumes, de honrarias e discutam esse grave problema. Pode ser que não gere engajamento nas redes sociais e, sim, a pauta é mais complexa, porém a cidade não aguenta mais essa novela e ficar nas mãos desse terrível serviço de transporte público. Façam a sua parte.


Flávio Paradella é jornalista, radialista e podcaster. Sua coluna é publicada na Sampi Campinas aos sábados pela manhã, com atualizações às terças e quintas-feiras. É veiculada também pelo jornal OVALE Gazeta de Campinas, aos sábados. E-mail para contato com o colunista: paradella@sampi.net.

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