POLÍTICA

Corredores tensos na Câmara

A situação do ex-presidente da Câmara de Campinas torna-se cada vez mais delicada à medida que os processos avançam, e estar sob investigação do Gaeco nunca é um bom sinal.

Por Flávio Paradella | 05/08/2023 | Tempo de leitura: 4 min
Especial para a Sampi Campinas

Agosto começa com a tensão aumentando na Câmara de Campinas. O vereador Zé Carlos (PSB), ex-presidente do legislativo e experiente político de cinco mandatos, está sendo investigado desde o ano passado por supostas irregularidades em contratos terceirizados durante sua gestão na Casa de Leis.

Em 2022, o Ministério Público, com apoio da Polícia Militar, realizou busca e apreensão na casa e locais relacionados a Zé Carlos, e o processo está em andamento desde então. O influente parlamentar já é réu em uma ação civil pública por ato de improbidade administrativa, aceita pelo juiz de direito Mauro Iuji Fukumoto, da 1ª Vara da Fazenda Pública de Campinas.

Na última quinta-feira, o vereador foi ouvido pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público de São Paulo, negando todas as acusações do suposto esquema de corrupção passiva. Segundo a promotoria, houve a solicitação de vantagens indevidas para renovar ou manter contratos com empresas terceirizadas da Casa. A oitiva durou cerca de uma hora.

A situação do ex-presidente da Câmara de Campinas torna-se cada vez mais delicada à medida que os processos avançam, e estar sob investigação do Gaeco nunca é um bom sinal.

Vale lembrar que Zé Carlos já foi alvo de uma CPI na Câmara de Campinas, que apurou os contratos e colheu vários depoimentos, mas, para os membros da Comissão, os áudios seriam suficientes para a abertura de um processo de cassação. No entanto, a maioria dos vereadores decidiu arquivar a proposta.

Nos corredores da Câmara, a indicação é deixar as coisas acontecerem naturalmente nas esferas judiciais, uma prática que vem sendo adotada como padrão pelos vereadores de Campinas, como ocorreu na quarta-feira, quando a ampla maioria arquivou o pedido de Comissão Processante contra Marcelo da Farmácia (Avante), denunciado com um robusto conteúdo por suposta 'rachadinha' no gabinete.

Constrangimento
Por falar em CPI contra Zé Carlos, o ex-presidente da Comissão, o vereador Paulo Gaspar (Novo), foi o entrevistado do FPX Cast, podcast no Youtube deste colunista, e revelou que a sequência de fatos envolvendo Zé Carlos fez outros colegas assumirem, não oficialmente, que erraram na postura de arquivar o processo político.

Paulo Gaspar ainda disse que não se sente feliz pela situação do ex-presidente e que comandar a CPI foi um desafio que continuará a trazer reflexos nas relações dentro do legislativo. O vereador confessou que encontrar Zé Carlos e o grupo de apoiadores, mesmo que de forma casual, causa certo constrangimento, apesar de tentar manter uma postura institucional.

Futuro do NOVO
Entre outros assuntos abordados pelo primeiro e único vereador do partido Novo em Campinas, a eleição de 2024 não poderia deixar de ser um dos temas mais importantes. Na visão de Paulo Gaspar, somente uma hecatombe tira a possibilidade de reeleição do atual prefeito Dário Saadi (Republicanos).

Gaspar analisa a aglutinação de apoios recentes com o arco de aliança que Dário já tinha como uma grande sinalização desse favoritismo. Não que Gaspar concorde com essa prática, ele, por sinal, a abomina.

Mesmo assim, o parlamentar disse que o Novo vai lançar um candidato, nem que seja para marcar posição. E o trabalho agora é de convencimento para Alexis Fonteyne, ex-deputado federal pelo Novo, aceitar a tarefa de disputar o Palácio dos Jequitibás.

Sobre a própria situação, Gaspar vai tentar a reeleição por mais quatro anos na Câmara de Campinas e, dessa vez, o partido vai ter o quadro completo de candidatos ao legislativo, o que gera uma expectativa de poder fazer mais uma cadeira das 33 em Campinas.

Tentando encontrar espaço
Em um esforço para assegurar um discurso conservador, o deputado estadual Rafa Zimbaldi (Cidadania) quer ouvir o Secretário de Estado de Segurança Pública, Guilherme Derrite, para discutir a possibilidade de retirada das câmeras corporais dos policiais militares em serviço. O parlamentar protocolou um requerimento, solicitando que Derrite compareça à Comissão Permanente de Segurança da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp), da qual Zimbaldi é membro.

Rafa Zimbaldi se posiciona de forma contrária aos equipamentos corporais. Em sua visão, as câmeras podem desmotivar e inibir os agentes de segurança a exercerem suas atividades de maneira plena, especialmente em situações extremas de conflito.

O discurso vai ao encontro do pensamento de uma direita bolsonarista. Apesar do perfil de Rafa nunca ter sido muito ligado a essa vertente, é inegável que o deputado quer encontrar esse espaço narrativo vislumbrando as eleições de 2024. Um exemplo é o uso cada vez mais intenso de temas conservadores pelo deputado e imagens ao lado do governador Tarcísio de Freitas em postagens nas redes sociais.

O grande problema é que algumas posições já se mostram muito estabelecidas para o ano que vem. A esquerda vem com o PT, a máquina federal e o recall de 2020 de Pedro Tourinho, que quase chegou ao segundo turno. Já Dário Saadi tem o PSB de Jonas Donizette e Wandão, o PSD no governo desde o primeiro dia e muitos outros partidos que o apoiam. Além disso, Dário, esse sim, é do Republicanos, o partido do governador do estado. Tarefa dificílima para Rafa Zimbaldi.

Flávio Paradella é jornalista, radialista e podcaster. Sua coluna é publicada na Sampi Campinas aos sábados pela manhã, com atualizações às terças e quintas-feiras. É veiculada também pelo jornal OVALE Gazeta de Campinas, aos sábados. E-mail para contato com o colunista: paradella@sampi.net.br

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