POLÍTICA

O Interino Eternizado

Parece que a deferência permanente foi concedida exclusivamente ao ex-presidente provisório.

Por Flávio Paradella | 18/07/2023 | Tempo de leitura: 5 min
Especial para a Sampi Campinas

Divulgação/CMC

A inclusão do quadro de Luiz Cirilo (PSDB) na Galeria de Presidentes da Câmara de Campinas tem gerado debates e discórdias nos bastidores do legislativo municipal. A pergunta que paira no ar é: afinal, o que ele está fazendo na prestigiada galeria reservada aos presidentes do Legislativo campineiro? A indagação é válida, já que Luiz Cirilo nunca foi eleito presidente da Casa de Leis, e o quadro na parede é uma homenagem justamente àqueles que foram escolhidos pelos colegas para comandar a Câmara.

Segundo a justificativa apresentada, o quadro de Luiz Cirilo se deve ao fato de que "o parlamentar presidiu a Câmara Municipal por um breve período em 2015, quando era vice do então presidente Rafa Zimbaldi, que se licenciou do cargo”. Assim, sua imagem foi colocada entre as dos ex-presidentes Rafa Zimbaldi e Marcos Bernardelli.

Entretanto, cabe ressaltar que Zimbaldi, durante sua licença, continuava sendo o presidente efetivo. Além disso, é importante mencionar que, durante a ausência momentânea de Zimbaldi, Cirilo não foi o único a assumir interinamente a presidência. Nesse mesmo período, o cargo também foi temporariamente ocupado pelo ex-vereador Antonio Flôres.

Levando em consideração o critério adotado pelo legislativo, o ex-parlamentar que assumiu interinamente em condições parecidas com Cirilo também teria direito a ter seu quadro na Galeria. No entanto, é perceptível a falta de espaço entre as imagens na parede, indicando que essa possibilidade de homenagem não foi prevista.

De acordo com o texto oficial publicado no site da Câmara, "com o quadro de Luiz Cirilo, a galeria tem agora 41 ex-presidentes que já fazem parte da história da Câmara e da cidade. Ainda faltam ser entronizados os quadros oficiais dos ex-presidentes: vereador Zé Carlos (PSB) e vereadora Debora Palermo (Sem Partido)”. Portanto, parece que a deferência permanente foi concedida exclusivamente ao ex-presidente provisório.

Além disso, se o critério da Câmara foi homenagear também os presidentes interinos, o legislativo precisará revisar todos os processos relacionados à presidência e verificar quantos vereadores já ocuparam o cargo da mesma forma que Luiz Cirilo. Essa situação levanta questões importantes sobre os critérios utilizados na escolha e homenagem dos ex-presidentes da Câmara Municipal de Campinas.

A reação nos corredores

A recente homenagem a Luiz Cirilo na Câmara de Campinas não foi bem recebida pelos seus pares. O agora "Interino Eternizado" não é uma das figuras mais populares entre os colegas no Legislativo, mas a insatisfação não se baseia apenas nas questões pessoais. O que realmente pesa neste caso é o critério utilizado e a falta de transparência na tradicional homenagem.

Vereadores da atual legislatura chegaram a classificar a inclusão do quadro como "ridícula", “vergonhosa”, “massagem no ego” e, inclusive, “patética”. Para os parlamentares, essa inclusão atendeu a vaidade, sem qualquer espírito público.

Pode parecer algo trivial, mas um rito clássico de tributo e reverência foi violado. O protocolo destinado àqueles que, eleitos pela maioria dos colegas, ocuparam o segundo cargo de maior importância na cidade de Campinas: a presidência do Legislativo.

Essa controvérsia levanta questões fundamentais sobre o valor e a integridade desse gesto simbólico, que agora é questionado por sua falta de congruência com os princípios estabelecidos. A homenagem na Galeria de Presidentes da Câmara perdeu sua essência e se tornou um ponto de discórdia, deixando claro que a escolha dos homenageados precisa ser mais criteriosa, transparente e impessoal.

Essa discussão vai além da mera opinião pessoal ou das rivalidades políticas internas. Ela toca na essência do respeito e da tradição que devem cercar as instituições públicas. Afinal, a Galeria de Presidentes é um símbolo da história da cidade e daqueles que desempenharam um papel importante na condução do Legislativo municipal.

Explicação oficial

A polêmica envolvendo a homenagem na Câmara de Campinas teve uma explicação por parte da assessoria de comunicação. Segundo eles, a inclusão do quadro de Luiz Cirilo na Galeria de Presidentes é apenas uma resposta ao ato do ex-presidente Zé Carlos (PSB), datado de 25 de novembro de 2021. Esse ato determinou que todos os vice-presidentes que tenham assumido a presidência por mais de 15 dias, devido à licença do titular, teriam seus quadros na galeria.

De acordo com a assessoria, o legislativo apenas seguiu essa definição, e isso teve um custo de R$ 870. Até o momento em que esta coluna foi escrita, a Câmara não havia respondido se está realizando uma revisão para identificar outras situações que se excaixem nesses critérios.

No entanto, esse ato emitido pelo ex-presidente é mais um exemplo do casuísmo político, em que regras extremamente específicas são criadas para enquadrar, literalmente, os amigos.

Debandada do PODEMOS

Os vereadores Débora Palermo e Carmo Luiz deixaram o Podemos. Os dois avisaram a Presidência, rito obrigatório, e já constam como “Sem Partido” na Câmara de Campinas.

Lembrando que os dois foram eleitos pelo PSC, mas na eleição de 2022 o partido não atingiu a cláusula de barreira e perderia verbas do fundo partidário e eleitoral, e por causa disso a sigla fechou um acordo de incorporação ao Podemos.

Débora Palermo enviou uma nota: “após esta incorporação, fiz uma boa avaliação política e optei por deixar a legenda. Por enquanto sigo sem filiação partidária e analisando as possibilidades que possam surgir daqui em diante”.

Em conversa com a coluna, o vereador Carmo Luiz explicou que analisou o programa do Podemos e enxergou divergências políticas e por isso deixou a legenda, mas o vereador já encontrou uma nova sigla é o novo parlamentar a integrar as fileiras do Republicanos, mesmo partido do prefeito Dário Saadi e do governador Tarcísio de Freitas. Carmo Luiz incrementa a bancada do Republicanos e se junta aos colegas Fernando Mendes e Higor Diego.

Na Câmara, o Podemos mantém um vereador. Eduardo Magoga, eleito em 2020 pelo Podemos com o nome de Du Tapeceiro, segue no partido.


Flávio Paradella é jornalista, radialista e podcaster. Sua coluna é publicada na Sampi Campinas aos sábados pela manhã, com atualizações às terças e quintas-feiras. É veiculada também pelo jornal OVALE Gazeta de Campinas, aos sábados. E-mail para contato com o colunista: paradella@sampi.net.br

2 COMENTÁRIOS

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  • Pontepretano
    18/07/2023
    Sua inveja é demonstrada em cada vírgula deste texto. Recalque a gente vê por aqui. Sua perseguição a este Vereador não é de hoje. Muito jornalista já sabe.
  • Apenas a verdade
    18/07/2023
    Câmara de Campinas está sendo ridicularizada nacionalmente. O vereador que recebeu a homenagem não acrescenta em nada para o legislativo campineiro.. como dizem seus colegas, ele é um ZERO A ESQUERDA! Com certeza o presidente atual, levou $$ para fazer a falsa homenagem. Campinas vai perdendo seu brilho de metrópole.