POLÍTICA

O Semestre de Dário

Ao fazer uma retrospectiva desses seis meses, fica evidente a difícil realidade que se impôs sobre a cidade.

Por Flávio Paradella | 01/07/2023 | Tempo de leitura: 5 min
Especial para a Sampi

Divulgação/PMC

O primeiro semestre da gestão do prefeito Dário Saadi (Republicanos) foi marcado por desafios e controvérsias na Prefeitura de Campinas. Foram seis meses tumultuados, iniciado com uma tragédia que colocou a cidade nas manchetes nacionais logo em janeiro.

As fortes chuvas devastaram várias regiões, destruindo pontes, acessos e resultando na perda de vidas com a queda de árvores. Mesmo em julho, os reflexos desse triste episódio ainda são visíveis no município. Obras de reconstrução para ligar bairros ainda estão em andamento, e áreas de lazer, como o icônico Bosque dos Jequitibás, permanecem fechadas sem uma data definida para reabertura.

Na área da saúde, os desafios persistem. Como ocorre todos os anos nos mesmos meses, os equipamentos de atendimento enfrentaram superlotação devido a doenças respiratórias. Além disso, Campinas está enfrentando novamente uma epidemia de dengue, com quase 9 mil casos e duas mortes registradas. Para piorar, seis mortes por febre maculosa, incluindo um surto recente com quatro óbitos no Distrito de Joaquim Egídio, colocaram a cidade em evidência negativa.

No que diz respeito ao transporte, a promessa do prefeito de finalmente liberar a licitação dos ônibus não se concretizou, sendo de novo barrada judicialmente. A prefeitura agora precisa refazer o texto do edital nessa novela aparentemente interminável. Além disso, as obras atrasadas do BRT levarão mais tempo para serem concluídas, com previsão, se cumprida, apenas para 2024.

E como se tudo isso não bastasse, Dário Saadi se viu envolvido em uma tempestade inesperada devido à crise das "casas embriões", minúsculos cubículos de 15m² destinados a atender famílias vulneráveis da Ocupação Mandela. A história, revelada com exclusividade pelo Portal Sampi Campinas e publicada pelo Jornal Ovale, colocou o prefeito em uma posição terrível. O projeto recebeu críticas de especialistas por não atender às diretrizes da ONU para moradia digna, e o embate levou Dário a trocar farpas com o presidente Lula, que declarou que o prefeito de Campinas "não é humano".

Ao fazer uma retrospectiva desses seis meses, fica evidente a difícil realidade que se impôs sobre a cidade. É importante destacar que muitos dos problemas enfrentados são antigos conhecidos dos moradores de Campinas, que já estão cansados não apenas da situação em si, mas também da falta de solução para essas questões recorrentes.

Em casa
Após a controvérsia envolvendo as casas embriões, o vereador destacado para ser o defensor do projeto no legislativo agora vai liderar uma Comissão Especial de Estudos (CEE). Rubens Gás (PSB) vai comandar a apuração das moradias populares em Campinas sob responsabilidade da Secretaria Municipal de Habitação. O intuito da comissão é avaliar a situação atual dessas habitações, tanto as já existentes quanto as futuras.

O requerimento para a criação da CEE foi apresentado durante a última Reunião Ordinária que marcou o encerramento do semestre legislativo. O governista Rubens Gas, autor do requerimento, já está confirmado como presidente da comissão. A definição dos demais membros da comissão ocorrerá após o Recesso Parlamentar, que terá início em julho.

Mais dóceis
A aprovação das contas da gestão de Jonas Donizette (PSB) referentes ao ano de 2019 pela Câmara de Campinas ainda reverbera no legislativo. No entanto, essa decisão não surpreende, uma vez que já era esperada uma forte mobilização em torno do ex-prefeito, que atualmente é deputado federal. Embora o Tribunal de Contas do Estado tenha apontado problemas e recomendado a reprovação, os vereadores analisaram minuciosamente e utilizaram todo o conhecimento contábil para contestar as conclusões do TCE (contém ironia). Nada inesperado.

No entanto, essa situação evidenciou a metamorfose da bancada de direita na Câmara de Campinas. Vereadores que antes eram ferrenhos opositores parecem ter sido "domesticados".

Marcelo Silva (PSD), que foi o autor do pedido de impeachment e da Comissão Processante contra o então prefeito Jonas Donizette, teve momentos tensos com o chefe do executivo durante as audiências da CP em 2018. Nelson Hossri (PSD) também era um opositor e apresentou pedidos de cassação contra Jonas por supostas irregularidades no Instituto de Previdência Municipal e em contratos de merenda escolar. No entanto, nenhuma dessas iniciativas prosperou no legislativo.

O tempo passou e as contas de Jonas, com parecer pela reprovação, chegaram ao legislativo. Nelson Hossri sequer participou da votação, enquanto Marcelo Silva seguiu o ‘comando’ da base governista e votou a favor da aprovação das contas de seu antigo adversário.

Extraordinária
O último ato da Câmara de Campinas antes do recesso foi a realização de duas sessões extraordinárias. Nelas os vereadores aprovaram dois projetos enviados pelo Prefeito Dário Saadi: o reajuste de 4,52% aos servidores da prefeitura e a obrigatoriedade de estabelecimentos em locais de risco alertarem sobre febre maculosa.

Nas reuniões extraordinárias realizadas de maneira sequencial na manhã da última quinta-feira (29), os vereadores de Campinas aprovaram, em primeira análise e depois em definitivo, os dois projetos de autoria do Executivo.

Festa em Amparo
O prefeito de Amparo, Carlos Alberto Martins (MDB), investe mais uma vez na ambição em mudar o estigma da cidade do circuito das águas. Apesar de ser o mais estruturado município, Amparo fica atrás na movimentação turística quando comparada com Águas de Lindoia, Serra Negra, Pedreira e outras.

Diferente das vizinhas, a “capital do circuito das águas” não é um destino procurado, por isso o prefeito escolheu o mês de julho e o Festival de Inverno para tentar incentivar a cidade. Mais uma vez, o evento, que antigamente era feito por artistas regionais, agora terá nomes como Cesar Menotti & Fabiano, Nando Reis, Família Lima e outras atrações. Tudo de graça.

Claro que não existe almoço grátis. O investimento da prefeitura, que sai dos cofres públicos, será de R$ 2,5 milhões para os shows e a estrutura nos 17 dias de evento. Carlos Alberto afirma que o custo da prefeitura gera retorno com hotelaria e para o comércio da cidade.

COMENTÁRIOS

A responsabilidade pelos comentários é exclusiva dos respectivos autores. Por isso, os leitores e usuários desse canal encontram-se sujeitos às condições de uso do portal de internet do Portal SAMPI e se comprometem a respeitar o código de Conduta On-line do SAMPI.